PENSAR

Artigo: Epifanias cotidianas e uma transcendência permanente

Adélia Prado foi amor à primeira vista. A ideia e os sentimento de cada poema, em geral, me pareceram sempre muito claros, nada herméticos

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Rodrigo Lacerda

Especial para o EM

Conheci a obra de Adélia Prado relativamente tarde, lá pelos trinta anos, quando trabalhei com o professor e crítico Augusto Massi, na primeira encarnação da editora Cosac Naify. Em conversas soltas, não em aula ou algo assim, e, portanto, meio sem querer, foi ele quem me fez dar o primeiro mergulho na obra dela. Li “O coração disparado”, e foi amor à primeira vista.


Primeiro, porque é uma poesia fácil de ler. A ideia e os sentimento de cada poema, em geral, me pareceram sempre muito claros, nada herméticos.


Em segundo lugar, me encantou que, por trás de toda simplicidade, houvesse uma sensibilidade rara para as epifanias extraídas do cotidiano. Parte delas decorria de uma força vital – carnal, sensual, existencial ou o nome que se queira dar a isso –, que desfazia qualquer estereótipo da dona de casa tradicional, de uma cidade pequena do interior. Por fim, o que fez toda a diferença, a poesia da Adélia me pareceu ir além das epifanias cotidianas, fugazes e passageiras.


Ela me remeteu a uma transcendência permanente, sempre em ação. Não sou uma pessoa religiosa no sentido estrito do termo, mas sempre me encanta encontrar escritores que ultrapassam o cotidiano não apenas por efeito de um lampejo epifânico, mas sim graças a uma filosofia de vida, uma ética própria e também compartilhada, algo mais consistente que um devaneio lírico, desfeito logo em seguida. A partir daí li todos os livros da Adélia que encontrei: “Bagagem”, claro, “Terra de Santa Cruz”, “Miserere”, “A duração do dia” etc.


Ao chegar na Record, tive o privilégio de ficar responsável pela obra dela. Logo fiz um box com quatro livros, projeto gráfico especial, e um texto da Elisa Lucinda, poeta e grande admiradora. Eu estava com tanta pressa de publicar alguma coisa dela que a Adélia até se incomodou. Depois me perdoou. Foi pressa de fã...


Estamos lançando essa nova identidade visual dos livros dela, com as revisões que fez nos textos e novas capas, para comemorar os prêmios que recebeu recentemente. Prêmios, aliás, que apenas sacramentam o que todo mundo já sabia ser muito merecido.

Rodrigo Lacerda
Rodrigo Lacerda Renato Parada/Divulgação

Rodrigo Lacerda é escritor e editor-executivo de Literatura Brasileira do selo Record

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