Leia poemas do novo livro de Isaías Gabriel Franco

Isaías Gabriel Franco

“Faixa de Gaza”

Astro (ogiva?) que pontua a noite
cindindo as nebulosas, os sóis.
Será que brilham estrelas em Gaza?
O verso não rima com relento, não importa.
Lá, cortam num átimo de segundo,
a luz dos vivos,
isso é maior que um poema.

Lápides siderando na Guerra,
homens são poeira e vento.

“Coisa”

Não é uma boca
que se abre
máquina

não é rua
nua
na réstia de sol

é voz
janela
homem

apenas um bicho

“Quarteto sem cordas”

Com os dentes
mascas cigarros
com a ânsia
de quem fuma a noite

“Cidade antiga”

Pesado passado
de camarinhas,
segredos, alcovas
escuras.

Pesado passado
à sombra das pedras,
cadafalsos,
telhas vãs.

Pesado passado
de códices mortos
vivos, no presente
a se entranhar.

Pesado passado
de luas, padres
e loucas da ponte
a se jogar.

• Yuval reflete sobre IA: ‘um erro terminal ou a evolução da vida?'

• Religião, isolamento e opressão na Serra do Espinhaço

• Cicatrizes nas construções de uma cidade e de uma identidade

“Míssil”

Dos ossos em pó
que ficaram,
nenhures
e termina a batalha, não a guerra

extensão devastada

“Romance”

Peço-te rosas
e um pergaminho de prata

peço-te a terra
e todas as taras
um sapato, um cavalo
um palácio em muralhas

dou-te um verão
minhas tralhas
o chão, a chuva
mil nadas.

• Livro 'Ainda estou aqui' vai além da morte de Rubens Paiva no filme

• Uma revolução conduzida pelas ondas do rádio no Leste Europeu

• O poeta brasileiro que foi confundido com o diabo por uma linda mulher

“Um poema”

Um poema que dissolva horas
um poema que fale de você
um poema pras horas tristes
um poema que me devolva o mar
um poema cansado
um poema triste
um poema feliz
um poema que anoiteça
um poema que morra
um poema que renasça
um poema de amor
um poema
um só
isso basta.

Sobre o autor e o livro

Nascido em 1995 na cidade mineira de Campestre, Isaías Gabriel Franco passou a infância em São Pedro de Caldas, município de Caldas. É poeta, com graduação em História e Filosofia pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), com mestrado em História. Atualmente cursa doutorado em História na UFOP.

É autor de “Poeminhas de arruar” (2021), “Poemas limpos de amor” (2022) e “Pedra viva” (2023). Lançamento da editora Urutau, o novo livro, “Ainda somos humanos”, é apresentado pelo escritor Airton Souza (vencedor do Prêmio Sesc com “Outono de carne estranha”) como uma obra “inquietante, porque o poeta, como se a própria mão sangrasse, cava a multiplicidade de feridas abertas em nossos dias.”

“Ainda somos humanos”
• De Isaías Gabriel Franco
• Editora Urutau
• 80 páginas
• R$ 50
• À venda no site da editora