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José Donoso ganha reedições no Brasil

Um dos maiores nomes da literatura latino-americana, chileno volta às livrarias com o relançamento de 'O lugar sem limites'

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Expoente da literatura latino-americana do século 20, o chileno José Donoso (1924-1996) andava sumido das livrarias brasileiras. A editora Mundaréu preenche a ausência com dois relançamentos de títulos marcantes e dois inéditos. O primeiro a chegar é “O lugar sem limites”, definido por Roberto Bolaño, de “Os detetives selvagens”, como “um livro sobre a desesperança e a precisão.” Segundo romance do autor, foi escrito no México durante um período em que Donoso passou na casa do colega Carlos Fuentes e publicado pela primeira vez em 1966.

Adaptado para os cinemas em 1978, com direção de Arturo Ripstein (“Vermelho sangue”), “O lugar sem limites” retrata a influência e o poder de um senador e dono de terras, Alejo Cruz, em uma cidadezinha decadente do interior chileno que abriga ainda um bordel gerida por uma travesti, Manuela, e sua filha, Japonesita.

“Este livro é um daqueles casos em que se trata de uma aldeia para descrever toda a estrutura política e social de um continente inteiro através da história”, acredita a editora Silvia Naschenveng. Considerada a obra-prima de Donoso, “O obscuro pássaro da noite” também será reeditada pela Mundaréu, a mesma editora de lançamentos recentes de impacto, como “Solenoide”, de Mircea Cartarescu. Leia, abaixo, um trecho de “O lugar sem limites”, na tradução de Lucas Lazzaretti.

Trecho de “O lugar sem limites”

“A Manuela se levantou da cama e começou a vestir as calças. Pancho ainda podia estar na vila... Suas mãos duras, pesadas, como de pedra, como de ferro, sim, lembrava-se delas. No ano passado, o animal colocou na cabeça que queria que ela apresentasse uma dança espanhola. Que tinha escutado dizer que, quando a festa se animava com o chacoli da temporada, e quando os frequentadores eram gente de confiança, a Manuela colocava um vestido vermelho com bolinhas brancas, muito bonito, e fazia uma dança espanhola.

E por que não? Macho bruto! Bem capaz que vão ficar dançando para ele, que se enxergue! Isso eu faço para os cavalheiros, para os amigos, não para uns coitados de uns mendigos fedorentos como vocês nem para peões metidos que se acham grande coisa porque andam com o pagamento da semana no bolso... e suas pobres mulheres descadeiradas de tanto lavar roupa em casa para que as crianças não morram de fome enquanto os bonitões pedem vinho e ponche e até aguardente... não. E como tinha bebido muito, disse exatamente isso a eles.

Então Pancho e seus amigos se irritaram. Começaram trancando o negócio e então quebraram várias garrafas e pratos e esparramaram os pães e embutidos e o vinho no chão. Depois, enquanto um lhe torcia o braço, os outros tiraram sua roupa e, ao enfiarem nela seu famoso vestido de espanhola à força, o rasgaram inteiro. Tinham começado a perturbar a Japonesita quando don Alejo chegou, como que por milagre, como se o tivessem invocado. Tão bom ele. E tinha até a cara do Nosso Paizinho do Céu, com aqueles olhos parecendo porcelana azulada e os bigodes e sobrancelhas de neve.”


Fuad Noman, leitor voraz e escritor

“Sempre tive muita vontade de escrever. Acalentei por muito tempo esse desejo. Quando criança, estudava no jardim de infância Delfim Moreira, - inclusive hoje é uma Umei, na rua Espírito Santo. Certa vez, no Dia da Árvore, fui escolhido para plantar uma muda. Lembro que a professora disse: ‘O homem precisa fazer três coisas para se realizar. Plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro’. Já tinha plantado, tive dois filhos e quatro netos.

E ficava dizendo para mim mesmo: ‘Vou escrever’. Certa vez, perguntei a um amigo meu, cuja mulher é professora de literatura: ‘Como aprendo a escrever?’ Ele me respondeu: ‘A melhor receita é sentar-se e começar a escrever. Se tiver história, ela vai brotando’. Eu ficava pensando, sonhava com as histórias e não escrevia. Até que resolvi em 2017 escrever e e fiz o primeiro livro, ‘O amargo e o doce’. Quando esse livro saiu, tive muito feedback positivo, acharam a leitura fácil. Apesar de ser difícil de encontrar – apenas na Amazon ou na Quixote. Resolvi então escrever outro livro, ‘Cobiça’, lançado em 2019.”

Fuad Noman (1947-2025), em depoimento à Bertha Maakaroun, em 2020. O prefeito de Belo Horizonte, que faleceu na última quarta-feira aos 77 anos, deixou três livros: “O amargo e o doce”, “Cobiça” e “Marcas do passado”. À repórter Mariana Peixoto, em 2022, Fuad se definiu como “um leitor voraz” e contou: “Tem autor que gasta duas, três páginas para descrever um ambiente. Eu me canso com isso. Acho melhor deixar para o leitor a capacidade de descobrir como são os personagens e locais. Dessa maneira, o leitor começa a construir sua própria história.”

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