Governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi criticado por diversos bolsonaristas, como Fabio Wajngarten, por projetos de privatização, pauta recorrentemente defendida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) -  (crédito: Fernando Nascimento / Governo do Estado de São Paulo)

Governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi criticado por diversos bolsonaristas, como Fabio Wajngarten, por projetos de privatização, pauta recorrentemente defendida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)

crédito: Fernando Nascimento / Governo do Estado de São Paulo

Os questionamentos a privatizações por parte de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) abriram uma nova frente de constrangimento para o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tem como principal bandeira a privatização da Sabesp. Integrantes do Governo de São Paulo, no entanto, dizem que a venda da estatal não está ameaçada.

As ressalvas à privatização da Sabesp têm como pano de fundo a crise da Enel, empresa privada que fornece energia elétrica em São Paulo desde 2018. Nesta terça-feira (7/11), 200 mil imóveis seguiam no escuro depois do temporal de sexta-feira (3/11).

Principal voz bolsonarista que passou a contestar privatizações, Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, afirmou à coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, que "a Sabesp é um ativo estratégico do país" e que "existe uma direita preocupada com a soberania do Brasil".

Como mostrou a coluna, um grupo de economistas e advogados bolsonaristas quer barrar a privatização da Sabesp por meio do STF (Supremo Tribunal Federal).

Wajngarten, que é cotado para ser candidato a vice-prefeito na chapa de Ricardo Nunes (MDB), criticou duramente a privatização da energia "a qualquer custo" e disse estar ao lado do povo.

"Em teoria a privatização é maravilhosa. Bairros de São Paulo estão no escuro há mais de 30 horas. Se com energia elétrica o transtorno é enorme, imaginem se a companhia de água cair nas mãos de grupos tão incompetentes quanto os de energia...", publicou.

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O discurso que coloca as privatizações em xeque ganhou adeptos entre os bolsonaristas, como o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), o vereador da capital Fernando Holiday (PL) e o deputado federal Filipe Barros (PL-PR), mas o movimento é minimizado por auxiliares de Tarcísio.

Outros políticos bolsonaristas ouvidos pela reportagem negam haver um novo racha entre o governador e o campo da direita conservadora, como aconteceu na discussão da Reforma Tributária.

Aliados de Tarcísio afirmam que os tuítes de Wajngarten não causam preocupação e que se trata mais de um movimento de rede social do que de uma oposição política à venda da Sabesp, já que a base de governo na Assembleia é favorável à privatização.

Para eles, não há divergências --tanto o ex-secretário como o governador têm a mesma preocupação de que as privatizações não penalizem os mais pobres. E lembram que, no caso da Sabesp, o governo ainda terá 30% de participação e assento no conselho administrativo.

Mas, nos bastidores, interlocutores do governador dizem ver incoerência nos bolsonaristas antiprivatização, já que o ex-presidente implementou uma agenda privatista no governo federal.

Há ainda quem veja na postura de Wajngarten uma jogada política isolada, uma tentativa de fustigar Tarcísio, já que o ex-secretário não obteve do governador o espaço pretendido no Palácio dos Bandeirantes, algo que ele nega.

Nesse sentido, a ala bolsonarista ligada a Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por exemplo, não endossa o discurso de Wajngarten e, pelo contrário, defende as privatizações. Políticos próximos do ex-presidente ouvidos pela reportagem dizem duvidar que o ex-secretário tenha o aval de Bolsonaro ao se opor a Tarcísio.

Procurado pela reportagem, Wajngarten diz que não fala em nome de Bolsonaro e reforça que não criticou especificamente Tarcísio ou a privatização da Sabesp. Ele diz que sua bandeira é a proteção de idosos, crianças com necessidades especiais e pequenos comerciantes que não podem ficar sem energia elétrica.

Em rede social, Salles, que é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, afirmou nesta terça que "tem que privatizar tudo", porém com "regras claras, monitoramento e fiscalização rígidas".

Já Holiday publicou que "privatização em si mesma não é necessariamente boa, principalmente em setores estratégicos". "Se for para fazer o que fizeram com a energia elétrica em SP, melhor manter o serviço público", completou.

O vereador disse à reportagem que "o bolsonarismo se coloca contrário à perda do controle do Estado sobre serviços essenciais". Na sua opinião, contudo, essa postura não fustiga Tarcísio junto à sua base.

Holiday nega haver qualquer racha ou oposição da direita em relação ao governador, mas pondera que a discussão sobre modelos de privatização é natural e existia também no governo Bolsonaro.

"O próprio governador tem essa preocupação, porque ele declarou que o modelo de privatização da Sabesp vai ser diferente. Eu não sou necessariamente contra [a privatização da Sabesp], mas o modelo do sistema energético não deve ser seguido", diz.