Os candidatos à prefeitura de BH não têm como se esquivar dessa pauta nas próximas eleições municipais: transporte coletivo público gratuito. Chegou a hora de a população pleitear maiores investimentos em cidadania e dignidade da pessoa humana. Imagine o direito de ir e vir sem impedimento da catraca, chamada antigamente de "borboleta", apenas sob as bênçãos do motorista. Os belo-horizontinos são amorosos com sua capital.

O poder público deixa a desejar, posto à prova a todo instante. O carnaval, fruto da iniciativa popular, sobretudo da galera feminina, em fevereiro projeta 6 milhões de foliões, embalados por 500 blocos. Eis uma prova dadivosa e carinhosa.

O trânsito exige exercício de paciência, atulhado de carros nas intrincadas ruas e avenidas, por ausência de obras estruturantes. A cidade retribui com modestos gastos orçamentários em saúde, educação e infraestrutura. As empresas de ônibus são subsidiadas pelo contribuinte por meio do preço das passagens e de impostos pagos à administração.

Nos dois últimos anos somaram mais de R$ 700 milhões. Para o próximo, quase R$ 400 milhões. Não tem como se furtar ao debate do passe livre pleno ou tarifa zero, visto que mais de 80 cidades no país adotaram-no, dentre as quais várias de Minas. A megalópole São Paulo já oferta a todos o traslado gratuito aos domingos.


Visual auditivo

Outrora, o lançamento de uma nova música era evento esfuziante. As rádios tinham programas de auditório e de locução movidos por jabá das gravadoras. Depois a televisão passou a apresentar ao público sucessos cantantes e dançantes. A música pegava se bisada em shows e no carnaval, assoviada nas ruas ou tocada em bailes. Hoje, uma canção se destaca no "hit parade" se o número de visualizações ultrapassa os milhões na rede social. Geralmente, em estilo padronizado da internet, sobrecarregado em erotização e, se possível, com algum talento. Condiz mais ser visto do que ser ouvido. Baixista, guitarrista, saxofonista e baterista sumiram no espaço visual. As coreografias se sobressaem. A base musical tem a técnica dos computadores. As novas canções fabricam coletivos na ânsia por direitos autorais. A portuguesa Carmen Miranda foi precursora da modalidade na década de 30.

Baixinha, suspensa em plataformas de 20 centímetros, coroou-se de artefatos tropicalistas e plastificados, na ânsia por identidade nos EUA. Seu visual espalhafatoso, atendeu, inclusive, ao cinema. Francisco Alves, Nélson Gonçalves, as irmãs Batista, Ângela Maria, Cauby Peixoto e dezenas de outros, viessem ao mundo agora, talvez não passassem de artistas de passarela de metrô. Músicos talentosos existem em profusão. Eles se comprimem em nichos distantes da batuta dos likes. As redes sociais, porém, ressaltam os adeptos das novas tecnologias, abriram um universo auditivo para incontável número de pessoas que, anteriormente, não desfrutavam de acesso corriqueiro à música. Este um dos lados positivos da modernidade.

Recursos quadrienais

As emendas impositivas distribuídas como bombocado em fim de casamento a vereadores, deputados estaduais, federais e senadores, a despeito de questionáveis em seu caráter (in)constitucional, visto que esta nunca foi função precípua do Poder Legislativo, são um despropósito no representativo sistema democrático brasileiro. Imagine uma corrida de 100 metros livres acessível a todos (eleição). Em seguida, a possibilidade de alguns fundistas, bem nutridos e treinados, arrancarem a partir de 80 metros, calçados em sapatilhas siliconadas. Os demais largam de suas raias descalços e subnutridos em busca de um lugar no pódio (mandato). Resta ficar por aqui, mas que o Legislativo hoje executa ninguém há de duvidar.

 

Peruca dentária

A manga palmer é encontrada durante todo o ano em sacolões e supermercados. Antes sazonal, especiaria dulcíssima, à véspera do Natal custava R$ 2,80 o quilo. Produtores do fruto nativo da Ásia Meridional conseguiram o prodígio de desvirtuar seu amadurecimento, inclusive nas cores características (amarelo e vermelho). Ela apodrece pelo cabinho e perdeu para a ubá em açúcar, pois com toques de acidez. Se antes cremosa como gelatina, agora sustenta uma peruca em fiapos. Com o brasileiro não há quem possa...

 

Intimidade linguística

Com ares de requintes, pois as festas de fim de ano fizeram-no esbanjar mais do que suporta sua escassa conta bancária, o motorista de táxi deixou de lado o prato feito do dia-a-dia e encarou um restaurante de comida a quilo. Glutão, mais em proteínas do que em verduras e legumes, aguardou na fila a sua vez de pesagem, intrigado com a tara do recipiente, por demais avantajado: "O próximo!", gritou a moçoila por trás do balcão. Ele deu dois passos e se apresentou: "Ei-lo!". E de picardia completou: "Está certo o meu dizer?". Ao que a atendente indagou-lhe: "Isso é inglês?". Não duvidem, pois há testemunhas.

 

Garrafa de náufrago


Um feliz natal e um ótimo ano novo a todos... E não nos esqueçamos: gratidão sempre; esperança vez ou outra.

 

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