O município de Bonito de Minas, localizado ao norte do Estado, emancipado em 21 de dezembro de 1995 (Lei 12.030), é uma teteia a partir do nome. Espraiado entre as veredas do cerrado, com cerca de 11 mil habitantes, modestas e singelas edificações, várias escolas públicas, no entanto, denominou de “Feio” a um seu distrito, quase na fronteira com a Bahia. Essa uma outra faceta inequívoca da dialética sociológica da nossa gente, que, se necessário, distribui com uma mão, mas por trás tira com a outra. A ex-desembargadora Mariza de Melo Porto conheceu bem a localidade: É onde o vento faz a curva para voltar a Minas Gerais”. Por força desses encantamentos tão típicos dos mineiros, que assombram os naturais de outros estados da Federação, há quem assegure que o Feio não é tão pavoroso quanto sugere. Aliás, bonito é.
FREIO DE MÃO De passagem por BH, o especialista em gestão ambiental Daniel Eyvind Meyer, sueco, 43 anos, deixou recado alarmante sobre a gravidade da condição climática em boa parte do planeta: se não se reduzir a emissão de carbono os fenômenos extremos advindos do aquecimento global serão devastadores. Ele trabalha para o organismo inglês Fauna and Flora, localizado em Cambridge, presente em 50 países, presidido por David Attenbourgh, famoso ecologista e narrador de documentários.
A previsão drástica virá, segundo Meyer, com o aumento da temperatura em dois ou mais graus na Terra. O impacto na rede de produção de alimentos será enorme, inclusive na geração de inflação. Portanto, há que se impor limites à emissão de gás-estufa. No Brasil, o desmatamento para uso da terra por rebanhos de gado e do cerrado para o plantio de grãos é caso sério, observou. Meyer crê em possível reversão do quadro, visto que as empresas se sensibilizaram com a gravidade do tema, diante do risco em escala global de seus negócios. Ele visitou o Paraguai, Argentina, China, Vietnã e Noruega. Recentemente, esteve no Parque Nacional do Chimanimani, em Moçambique, na fronteira com Zimbábue. “A natureza se adapta, mas a sociedade sofrerá com secas, geadas, nevascas, ciclones e drásticas variações de temperatura”, completou.
DENTADURA VELHA Ainda sobre o interminável debate sobre a dívida financeira de Minas, considerada impagável, mas prorrogada por alguns meses em sua negociação, é sempre bom lembrar que existe a hipótese de uma transferência de Cemig, Copasa e Codemig para o Governo Federal. Essas empresas entrariam como ativos no abatimento do grosso do débito, para lá de R$ 160 bilhões. A isso se chama “federalização”, quase um palavrão. Não nos esqueçamos, contudo, que ninguém compra cavalo sem olhar seus dentes.
MASTIGADINHO Que a bicentenária Polícia Militar de MG presta serviço inestimável ao povo mineiro é incontestável, a partir de criteriosa estratégia de segurança pública e contenção da violência, nos 853 municípios. Seu vasto leque de atuação se estende hoje, inclusive, ao trabalho informativo e diário dos veículos de comunicação. Os boletins de ocorrência (BO) são a joia da coroa na pauta de repórteres e editores.
GEOGRAFIA URBANA O aeroporto do Carlos Prates, doado ao município pelo Governo Federal, foi maná que despencou dos céus em véspera de eleição. Para uma capital que, no passado, recebeu a qualificação de vergel por sua exuberante flora, e hoje carece de infraestrutura e obras estruturantes, aquele privilegiado território na região noroeste merecia no mínimo o título de “Campo Verde”, além da exposição de uma magnífica maquete para visitação sobre um futuro bairro e parque. O prefeito de BH, Fuad Noman Filho, ganhou uma bicicleta de presente. Esqueceu-se, contudo, de como se pedala. Parece o caso...
NOVES FORA Chegou a vez de a OAB-MG, com aprovação do TJMG, indicar o nome de um novo jurista à vaga de juiz efetivo do TRE-MG, em mandato de dois anos, sujeito à recondução. Dentre os 13 pretendentes, a lista tríplice consolidou-se nos advogados Beatriz Coelho Morais de Sá, Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa e Vinícius Diniz Monteiro de Barros. O trio, em consenso, elogiou todo o processo. A relação seguiu para o TSE, em Brasília, para validação. Por fim, aguarda o jamegão derradeiro do presidente Lula. O posto teve por ocupantes Oscar Dias Corrêa Júnior e Marcelo Vaz Bueno, dentre outros.
DOCE VENENO Ninguém tem dúvida de que parte considerável dos alimentos que chegam diariamente à mesa dos brasileiros é infestada por “agrotóxicos”, termo criado pelo ecologista Adílson Paschoal, falecido em novembro. Lula sancionou com vetos o PL do Veneno. A nova legislação flexibiliza o uso e aplicação de produtos considerados nocivos à saúde pública na agricultura, tanto que foi combatida pela Anvisa e Fiocruz. A França, tão criteriosa no tocante ao consumo de derivados alimentícios, postergou a proibição do glifosato por uma década. O composto extermina a erva daninha. E, claro, chega aos pratos em doses homeopáticas. Como diria o escritor Luiz Vilela, somos todos sobreviventes de um tempo morto.