A busca por votos, sistematicamente, faz com que partidos de ideologias opostas se unam esporadicamente. Dessa forma, presencia-se alianças partidárias ultrapassando essas barreiras em busca de parcerias para alcançar determinado número de votos. Essas coligações, embora pareçam contraditórias à primeira impressão, fazem e sempre fizeram parte da característica política do sistema partidário brasileiro. Nesse cenário político, o comando do Partido dos Trabalhadores, sigla do presidente Luiz Inácio Lula Silva, decidiu não barrar alianças com o Partido Liberal, legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro, para as eleições de 2024. No entanto, em Minas Gerais, ambas as siglas descartam a possibilidade de uma aliança.
Conforme a decisão do diretório nacional do PT, divulgada no ano passado, ficam permitidas coligações com candidatos do PL nos municípios, desde que apoiem o presidente Lula. A resolução do PT não cita o PL, limitando-se a proibir apoio a candidaturas identificadas com o bolsonarismo. Apesar da permissão, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, ressaltou “que fique bem claro: não existe nenhuma hipótese de coligação com o PT. Somos oposição e assim seguiremos”.
Em concordância com Costa Neto, o deputado federal Domingos Sávio (PL-MG), presidente do partido no estado, afirmou que em Minas Gerais não há nenhuma possibilidade de coligação PT-PL. De acordo com o parlamentar, para outros partidos, com alinhamento ideológico mais parecido ao PL, a sigla está aberta para dialogar sobre as coligações. “É uma questão de coerência, de respeito com o nosso eleitor. O PL é um partido que assume claramente a função de oposição. Não é coerente nós sermos oposição e nos aliarmos com o PT nas eleições municipais. Concordo 100% com o presidente Valdemar”, ponderou o deputado ao Estado de Minas.
Na avaliação do deputado federal Junio Amaral (PL-MG), a permissão de coligação partidária proposta pelo PT busca fazer “amplas composições” para ter um resultado positivo e “sobreviver” politicamente nas eleições municipais. “O PT sabe que não é porque Lula venceu eleição que a maior parte dos brasileiros são de esquerda, pelo contrário, a maioria esmagadora é conservadora. Então a imagem do Lula é uma coisa, do PT é outra.”
Divergência em BH
Pré-candidato à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para as eleições municipais de 2024, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) disse que não existe essa hipótese de aliança na capital mineira. Ele também destaca a possibilidade no restante do estado. “O que o diretório nacional permitiu é que onde houvesse membros do PL que não fossem bolsonaristas, podia se abrir diálogo. Não é o caso de Minas, que os deputados federais, estaduais, e os próprios dirigentes do partido já têm uma opinião convicta em torno de Jair Bolsonaro e querem manter as raízes do que foi aquele governo, que para a gente foi um governo absolutamente prejudicial para o povo brasileiro”, explica o deputado.
Já o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), vice-líder no Congresso Nacional, vê essa possibilidade de coligação com mais flexibilidade. Para ele, as alianças são possíveis com políticos filiados ao PL que não pregam a ideologia bolsonarista. Isto é, políticos filiados ao PL, mas que não defenderam nenhuma tentativa de golpe. O parlamentar acredita que até as eleições municipais de 2024 começarem oficialmente, o presidente do PL, Valdemar, deve se tornar mais flexível diante da possibilidade.
“São 5.568 municípios que vão realizar eleições no ano que vem. Não se pode encarar esse processo como monolítico, mas como uma realidade diversa. Muitos dos que estão filiados no PL nas cidades, não fazem essa opção por ideologia, mas por vezes por arranjos partidários locais. O PT, ao tomar essa decisão em relação ao PL, foi guiado por essa compreensão. Quanto a posição do PL, respeito a opinião do presidente nacional, mas acredito que até o final das convenções partidárias tem muita água pra passar debaixo da ponte e talvez Valdemar terá que ser mais flexível”, opinou.
União no estado
Conforme levantamento feito pelo Estado de Minas junto à Associação Mineira de Municípios (AMM), há, no mínimo, duas coligações entre o PL e o PT, em cidades mineiras que venceram as eleições municipais de 2020. O balanço foi feito entre 827 das 853 prefeituras do estado, sendo possível que o número seja ainda maior. Conforme o levantamento, em Riacho dos Machados, no Norte de Minas, e Piraúba, na Zona da Mata mineira, a aliança política entre os partidos opostos foi firmada.
Na avaliação do cientista político Carlos Ranulfo Felix de Melo, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em caso de políticos que não se alinham com o bolsonarismo, a coligação faz sentido para o PT. “A eleição municipal é muito diferente, os municípios são muito diferentes. São muitas nuances, difícil de estabelecer regras mais rígidas. Você pode ter um candidato do PL no interior que não tem nada a ver com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Eu imagino que seja isso que o PT tenha idealizado”, Carlos Ranulfo Felix de Melo, cientista político e professor da UFMG.