O temporal que inundou e causou estragos em várias regiões de Belo Horizonte na noite de terça-feira provocou críticas à infraestrutura adotada pela prefeitura da capital para enfrentar intempéries. O primeiro a se manifestar foi o deputado estadual Bruno Engler (PL-MG). Nome escolhido pela direita bolsonarista para concorrer à prefeitura de BH na eleição de outubro deste ano, Engler foi ao X (antigo Twitter) para repostar imagens da chuva. Na rede social, ele apontou dois investimentos realizados pelo prefeito Fuad Noman (PSD): o estudo para construção de piscinas públicas e a revitalização da Avenida Afonso Pena. “Quando BH estiver inundada, lembre-se de que o prefeito Fuad Noman está gastando R$ 25 milhões para pintar uma faixa da Afonso Pena de laranja!”, escreveu.
Ontem pela manhã, depois de ser cobrado por um posicionamento, Fuad concedeu entrevista coletiva. Durante conversa com jornalistas, o chefe do Executivo municipal previu prejuízos na sequência de novas obras para contenção de enchentes, caso a Câmara Municipal siga reprovando projetos de autoria da prefeitura que garantiriam recursos para as intervenções. Segundo ele, enchente em janeiro, agora, é o “novo normal”.
A fala de Fuad foi criticada pela Câmara e pela deputada estadual Bella Gonçalves (Psol-MG), pré-candidata à prefeitura. No X, ela questionou a visão de normalidade dada aos danos causados pela tempestade e rejeitou culpar a população. “É impensável tratar o que houve ontem em BH como ‘novo normal’ e culpar o povo. O nosso papel precisa ser olhar pela cidade, criar alternativas e gerir o problema. Com esse pensamento não nos espanta que BH esteja parada no tempo. Nunca é culpa da chuva. Nunca é culpa do povo”, afirmou.
Bella ainda fez críticas ao governador Romeu Zema (Novo) afirmando que ele “enche a boca pra falar mal de BH” e se “esquece que as enchentes estão por toda MG e já vitimaram 7 pessoas”. A reação da deputada ocorreu porque o governador também se manifestou nas redes. Zema destacou a necessidade de gestão na cidade que, segundo ele, cresceu sem planejamento por muitos anos. "Fortes chuvas causaram estragos em BH. As forças de segurança do estado somaram esforços pra amenizar os danos. O governo de Minas está investindo na construção de cinco bacias de contenção na capital. Mas ainda é preciso gestão na cidade que por muitos anos cresceu sem planejamento", escreveu.
A declaração de Zema também foi rebatida por Fuad no início da noite de ontem. “BH se preparou para as chuvas com planejamento, gestão e muitas obras de prevenção. São + de meio bilhão de reais investidos. Esclareço que, por aqui, o apoio foi para a construção de 1 única bacia de contenção, a B5, com recursos do acordo com a Vale, pelo crime de Brumadinho”, disse ele na rede X.
O deputado federal Rogério Correia (PT), também cotado para o pleito deste ano, chegou a ir às ruas para alertar sobre os perigos geológicos causados pelos temporal. Ele enviou ofício ao ministro de Cidades, Jader Filho, solicitando recursos para a infraestrutura da capital. Simultaneamente, o senador Carlos Viana (Podemos), possível candidato da direita moderada à PBH, ressaltou a urgência de projetos e obras para prevenir o caos provocado pelas chuvas.
Já a deputada Duda Salabert (PDT) expressou sua preocupação com as enchentes e enfatizou a importância de investimentos estruturais e robustos na infraestrutura da cidade para enfrentar a crise climática. “Quando fui vereadora, destinei emendas parlamentares para investimentos em infraestrutura verde e em soluções baseadas na natureza para que a cidade se adapte melhor à crise climática e ao contexto de chuvas intensas. Mas é urgente que tais investimentos sejam estruturais e mais robustos. E isso só é possível através do prefeito”, escreveu.
Vilarinho
Duda protagonizou diversas discussões com o atual deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Uma delas, quando Nikolas ainda era vereador em BH e votou contra um projeto da prefeitura que destinaria R$ 907 milhões para obras de contenção de enchentes e urbanização de ocupações no entorno da Avenida Vilarinho, na Região de Venda Nova. Nas redes sociais, o deputado bolsonarista vem sendo responsabilizado pelo caos na capital na terça-feira.
Na época, Nikolas comemorou o veto da Câmara Municipal à proposta. "Derrubamos o empréstimo de 1 bilhão que a prefeitura solicitou para a Câmara. Jamais entregaria esse dinheiro nas mãos de um irresponsável como você. A cidade não é sua, Gargamel [o então prefeito Alexandre Kalil]. Durma bem", escreveu Nikolas no Twitter. A publicação foi resgatada por usuários da web, que cobraram um posicionamento do deputado, que publicou um vídeo argumentando que o investimento não ajudaria nas obras. “Tava demorando para quererem achar um culpado politicamente para tragédia.”
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que a Casa Legislativa está à disposição de Minas Gerais para o enfrentamento do período chuvoso que atinge o estado neste mês. Para o senador, as ações do poder público devem ter o foco na preservação de vidas e na prestação de socorro aos atingidos. “Solidarizo-me com os familiares de mineiros vítimas do período chuvoso pelo qual passa o estado, e também às pessoas que tiveram prejuízos materiais em razão dos eventos climáticos”, disse.