O Padre Júlio Lancellotti compartilhou nas redes sociais um vídeo em que o Papa Francisco elogia sua atuação junto a pessoas em situação de rua. O discurso foi feito em 2020 e foi recuperado pelos internautas nos últimos dias, após a Câmara Municipal de São Paulo votar pela instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs para investigar "irregularidades" no trabalho na Cracolândia, no centro da cidade. A ação teria como principal alvo o religioso, que é coordenador da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo.

Em seu discurso, Papa Francisco conta que ligou para Júlio, após ver fotos do atendimento à população de rua em meio à pandemia, que recebeu através do Vatican News. "Consegui ligar para um padre italiano [Júlio é descendente de europeus] idoso, missionário da juventude no Brasil, sempre trabalhando com os excluídos, com os pobres. E vive essa velhice em paz, consumiu sua vida com os pobres. Esta é a nossa Mãe Igreja, este é o mensageiro de Deus", disse o pontífice.

Na época, Lancellotti foi atacado pelo então candidato à Prefeitura de São Paulo Arthur do Val, também conhecido como 'Mamãe Falei'. Ele criticou o trabalho do religioso, afirmando que as políticas públicas são ineficientes e responsáveis pela degradação do centro da capital.

O post foi feito pelo deputado estadual de Minas Gerais Ulysses Gomes (PT), com colaboração do religioso. Lancellotti compartilhou diversas postagens de apoio a seu trabalho, levando a milhares de comentários de fiéis e admiradores de seu trabalho. “Sou ateu, mas admiro e respeito muito o nobre trabalho do padre Júlio”, escreveu um perfil.

“Nesse momento, vejo esses dois homens e neles vejo o ensinamento de Jesus”, disse outro. “Padre Júlio é a verdadeira igreja em saída tão aclamada pelo papa Francisco. E quase nunca é vivida ou divulgada mundo afora. ‘Ama teu próximo, como a ti mesmo’”, elogiou outro, lembrando a passagem bíblica.

Ligação do Papa

Papa Francisco conversou com Padre Júlio em outubro de 2020. "Sua santidade, o papa Francisco, falou comigo com toda simplicidade e proximidade, perguntando sobre a população de rua, como é nossa convivência com os irmãos de rua e quais as dificuldades que sentimos", escreveu o brasileiro na época.

O padre afirmou, ainda, que o papa disse ter visto as fotos do atendimento realizado para a população de rua durante a pandemia e afirmou que, apesar das dificuldades, não se deve desanimar. "Façamos sempre como Jesus, estando junto dos mais pobres", disse Francisco, segundo relato de Lancellotti.

"O Papa disse que nos acompanha com carinho, sabe das dificuldades que vivemos e para que não desanimemos e tenhamos coragem, como Jesus, estando sempre junto dos pobres", lembrou. Francisco também pediu que ele transmitisse à população de rua que os ama muito, os abençoou, e pede suas orações por ele.

Apoio contra a CPI

Nessa quinta-feira (4/1), a Arquidiocese de São Paulo, chefiada pelo cardeal dom Odílio Scherer, repudiou a possível criação de uma CPI contra o padre Júlio Lancellotti. “Acompanhamos com perplexidade as recentes notícias veiculadas pela imprensa sobre a possível abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que coloca em dúvida a conduta do Padre Júlio Lancellotti no serviço pastoral à população em situação de rua. Perguntamo-nos por quais motivos se pretende promover uma CPI contra um sacerdote que trabalha com os pobres, justamente no início de um ano eleitoral? Padre Júlio não é parlamentar. Ele é o Vigário Episcopal da Arquidiocese de São Paulo “para o Povo da Rua” e exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade”, diz a nota.

O texto foi compartilhado pelo padre Fábio de Melo, que estava sendo cobrado para sair em defesa de Júlio. “Conheci o padre Júlio quando eu ainda era seminarista, na Pastoral Carcerária. Ao longo dos anos, em campanhas específicas, ajudei e divulguei o seu trabalho social. Recentemente falei com ele, prestei minha solidariedade. Neste momento, peço que Deus o fortaleça, que o conduza, e que tudo se esclareça o mais rápido possível”, escreveu na publicação.

Padre Marcelo Rossi, que também foi pressionado pelos seguidores, fez uma publicação interpretada como uma indireta. “Quando estiver no calor da raiva, prefira ficar em silêncio. Se as suas palavras forem fofocas, escolha ficar em silêncio. Se você só vê defeito nas coisas ou pessoas, fique em silêncio. Se você não ouviu os dois lados da história, fique em silêncio”, publicou Rossi. E completou na legenda do post: “Amados, se soubéssemos o valor do silêncio… A palavra de Deus diz: ‘Silêncio vale ouro, Silêncio não é covardia, mas sabedoria daqueles que amam a Deus’.”

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