Por Ana Gabriela Oliveira Lima - Folhapress

 

A relação entre aliados de Marta Suplicy (sem partido, mas a caminho do PT) e Guilherme Boulos (PSOL) já envolveu a troca de críticas duras antes da negociação de uma chapa para disputar a eleição para a Prefeitura de São Paulo.

 

Psolistas como a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) já afirmaram que Marta poderia enfrentar resistência devido ao histórico marcado por críticas ao PT.

 



 

Enquanto era senadora pelo PMDB, Marta foi favorável ao impeachment de Dilma Rousseff (PT), posição que sustentou em janeiro de 2023 em entrevista à Folha de S.Paulo. Petista de longa data, ela deixou o partido em 2015, quando tecia críticas sobre a corrupção na sigla.

 

A possível aliança com Boulos é resultado de um acordo entre PT e PSOL que envolveu as últimas eleições gerais. Em 2022, o psolista abriu mão da candidatura ao Governo de São Paulo para fortalecer a chapa de Fernando Haddad (PT). Agora, o partido do presidente Lula se comprometeu a não apresentar uma candidatura própria à prefeitura para apoiar Boulos na corrida.

 

Lula participou pessoalmente das negociações para trazer Marta de volta ao PT e formar a chapa com Boulos. Petistas e psolistas diziam achar que o movimento era improvável, uma vez que Marta era secretária de Relações Internacionais de Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito da cidade que busca a reeleição.

 

Na segunda (8), Marta disse a Lula ter aceitado o convite para ser vice de Boulos e, no dia seguinte, deixou a gestão Nunes.

 

Relembre episódios que envolveram troca de farpas entre Marta e Boulos ou seus respectivos aliados.

 

'Conteúdo fraco'

 

Nas últimas eleições municipais, Marta afirmou que Boulos estava "tenso, pesado, com conteúdo fraco. Não vai agradar os que querem ter esperança". Ela fazia referência a um debate no segundo turno entre o político e Bruno Covas (PSDB), vencedor daquelas eleições.

 

Marta também chamou de "absurda" resposta de Boulos sobre o combate à Covid-19 no Brasil, como mostrou o Painel. Na ocasião, o político comparou a atuação do país com a da China.

 

"Resposta absurda de Boulos. Não dá para comparar SP/Brasil com um regime autoritário como a China, onde com uma cantada, você fecha a cidade. E ai de quem desobedecer", afirmou.

 

'Picareta'

 

Também na campanha de 2020, o empresário Marcio Toledo, marido de Marta, criticou a atuação de Boulos. Toledo afirmou que o político teria inventado estar com Covid para não comparecer a um debate marcado na última fase da campanha. A acusação, feita em um grupo de WhatsApp, foi divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo.

 

"Boulos arrumou Covid para fugir de debate... Seria trucidado e desmascarado... Eita Boulos picareta", escreveu.

 

'Traidora do povo'

 

A deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP), que foi candidata a vice de Boulos nas eleições de 2020, já chamou Marta de "traidora do povo".

 

A declaração se deu em 2016, quando Erundina era deputada e se candidatava à Prefeitura de São Paulo. Na época, Marta Suplicy era pré-candidata pelo PMDB.

 

Em 2020, Marta disse que Erundina fez menção "desleal duas vezes" a ela em resposta à acusação da psolista de que Marta teria reduzido o orçamento da Educação.

 

Em dezembro de 2023, Erundina afirmou ter dificuldade em entender a estratégia de Lula na formação da chapa de Boulos com a ex-petista.

 

Aliados do prefeito Ricardo Nunes preveem nova pecha de traição para Marta.

 

A saída do secretariado foi comunicada pelas duas partes na tarde da terça-feira (9) depois que aumentaram os indícios de que o acordo proposto por Lula sairia do papel.

 

Até então, Nunes dizia à imprensa que não acreditava que a articulação iria ocorrer. "Não tem sentido alguém que está no governo durante três anos ter uma atitude dessa. Não é o perfil da Marta", afirmou durante coletiva no dia 23 de dezembro.

 

Impeachment

 

Enquanto Marta foi favorável ao impeachment de Dilma Rousseff (PT), Boulos defende a tese de que a ex-presidente sofreu um golpe.

 

Na época do impeachment em 2016, Marta foi cobrada por militantes de esquerda, que chegaram a escrever "traíra golpista" na calçada do escritório da política em São Paulo.

 

Já Boulos afirmou na época que quem era a favor do impeachment tinha "moral seletiva". Como coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto), ele conduziu manifestações contra a saída da ex-presidente.

 

"Quem pensa que acabou aqui se engana. O golpe foi consumado pelos senadores, mas a Resistência seguirá nas ruas", afirmou em 2016 nas redes sociais.

 

Animosidade

 

Em entrevista ao UOL em novembro de 2023, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) afirmou que psolistas não tinham como opinar sobre a escolha da vice, haja vista o acordo feito com o PT para garantir apoio nas eleições.

 

Na época, ela disse que achava improvável que Marta fosse a escolhida para formar chapa com Boulos. Afirmou também que alguns setores do PT provavelmente não acolheriam a decisão, já que Marta tinha sido a favor do impeachment de Dilma.

 

"Existe uma animosidade com relação à figura dela", afirmou. "Eu acho que ela tem uma relação mais orgânica com o Ricardo Nunes hoje do que com a militância do PT e com o próprio Guilherme Boulos".

 

Sâmia disse que Marta tinha o mérito de já ter sido uma prefeita bem avaliada, principalmente em regiões periféricas, além de ser uma mulher, "apelo importante" na hora de escolher a composição do Executivo. Entretanto, afirmou acreditar que o ideal seria que o partido escolhesse um nome "mais orgânico" e que já participasse do processo de articulação entre os partidos.

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