O primeiro encontro oficial entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Romeu Zema (Novo) em Minas Gerais foi marcado por provocações da plateia e dos ministros ao chefe do Executivo mineiro e por elogios efusivos a Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, cujo nome é cogitado como pré-candidato do Palácio do Planalto à sucessão em 2026, e sua capacidade de diálogo, em claro contraponto à resistência do mandatário do estado em conversar com o governo federal.
Dos seis ministros que discursaram durante o evento de anúncio de obras e investimentos para o estado, realizado no centro de convenções Minascentro, em Belo Horizonte, três criticaram Romeu Zera de forma indireta por causa da decisão anunciada por ele, no domingo passado, ao lado de parlamentares da extrema-direita, de desobrigar a vacinação de crianças e adolescentes para a matrícula na rede pública estadual de ensino.
Visivelmente desconfortável, Zema não se levantou para cumprimentar Silveira após seu discurso como é de praxe em cerimônias públicas e, em seguida, deixou a mesa, gerando especulações se voltaria ou não, o que ocorreu alguns minutos depois.
Silveira tachou a dívida de Minas como “calamidade”, lembrou que ela se avolumou no governo Zema e que “nenhum centavo” foi pago nestes últimos cinco anos de mandato. E ainda usou o slogan do governo do estado para dizer que, sob a liderança de Pacheco nas discussões sobre a dívida do estado, Minas Gerais vai ser recolocada “nos trilhos de verdade”. O slogan de Zema durante sua campanha à reeleição era “Minas nos trilhos”.
“Não adianta ficar na internet fazendo gracinha enquanto tem gente morrendo no Anel Rodoviário. Não adianta ficar na internet procurando like, enquanto tem gente morrendo na 381. Não adianta ficar nessa bobagem de falar que esquerda é isso e direita é aquilo, enquanto ainda tem gente passando fome. Então, é o seguinte: vamos parar com essa bobajada e vamos trabalhar porque é disso que o Brasil precisa. O que o Brasil está precisando mesmo é de mais trabalho e menos conversa fiada”, finalizou o ministro em clara referência às postagens do governador nas redes sociais.
Durante sua fala, Silveira também exibiu um slide com a palavra diálogo em letras garrafais, também referência indireta às críticas frequentes feitas pela oposição de que a gestão de Zema é pouco afeita à conversa na busca por soluções para os problemas do estado.
Zé Gotinha
Assim como Silveira, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, também usou seu discurso para defender as vacinas e exaltar o Zé Gotinha, personagem criado na primeira gestão de Lula para propagar a vacinação, escanteado pelo governo Bolsonaro, e que ressurgiu como mascote do Ministério da Saúde neste terceiro mandato de Lula.
“Com todos os esforços realizados, conseguimos uma reversão da tendência de queda da vacinação. Conseguimos aumentar a cobertura de sete, oito vacinas usadas para as nossas crianças. E posso reafirmar o direito de nossas crianças e adolescentes à vacinação”, disse a ministra, lembrando que ela é uma obrigação prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente.
O ministro da Educação, Camilo Santana (PT-CE), também começou seu discurso defendendo a vacinação de todos os alunos. “Vamos vacinar todos os nossos alunos das escolas desse país. Esse é o dever do estado e a vacina é para salvar vidas. Esta é a orientação do Ministério da Educação e do governo do presidente Lula”, disse o ministro, provocando aplausos e gritos de “vacina, Zema”.
Na plateia, militantes carregavam cartazes com frases como “Zé Gotinha, eu te amo”, “Vacina sim” e “Vacina, Zema”. Logo no começo da cerimônia, aberta pelo discurso de Zema, esses mesmos militantes puxaram um coro pela vacina e também palavras de ordem contra o governador.