Alvo de operação da Polícia Federal nesta quinta-feira (8), o padre José Eduardo de Oliveira e Silva usou suas redes sociais para negar envolvimento em plano golpista e ainda anunciou uma vaquinha para comprar novos equipamentos, já que teve celular e computador apreendidos.
De acordo com a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), o padre é citado como integrante do núcleo jurídico do esquema. A ação da PF mirou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu entorno, com mandados de busca e de prisão -foram presos os ex-assessores Marcelo Câmara e Filipe Martins.
Em sua decisão, Moraes cita que o religioso participou de reunião no Planalto com Martins em novembro de 2022. O ministro afirma que, como apontado pela autoridade policial, o padre tem um site com seu nome "no qual foi possível verificar diversos vínculos com pessoas e empresas já investigados em inquéritos correlacionados à produção e divulgação de notícias falsas".
Com 299 mil seguidores no Instagram e 90 mil no YouTube, o padre recorreu às plataformas após a busca e apreensão. O perfil ainda mostra imagens de 2022, quando ele exibia uma bandeira do Brasil no altar.
Em uma nota de esclarecimento, o religioso afirma que a República é laica e os deveres constitucionais devem ser respeitados.
"Romper com a ordem estabelecida seria profundamente contrário aos meus princípios. Abaixo de Deus, em nosso país, está a Constituição Federal. Portanto, não cooperei nem endossei qualquer ato disruptivo da Constituição", afirma.
"Como professor de teologia moral, sempre ensinei que a lei positiva deve ser obedecida pelos fiéis, dentre os quais humildemente me incluo", continua.
Nos Stories, o perfil exibia uma mensagem alertando que o religioso estava incomunicável, devido à busca e apreensão, e informava uma chave Pix para quem quisesse "ajudar o padre a adquirir novos equipamentos de comunicação".
Já na noite desta quinta, o padre fez uma live no YouTube, com equipamentos emprestados. Durante quase dez minutos, ele buscou tranquilizar os fiéis, disse nada temer e estar com a consciência limpa. E afirmou que, como teólogo e filósofo, é consultado por pessoas de todo o país, inclusive autoridades.
"Prefeitos, vereadores, deputados, juízes, desembargadores, deputados federais, estaduais, senadores. Enfim, eu atendo todas as pessoas que pedem meu auxílio espiritual porque essa é minha missão."
Antes de encerrar, reafirmou sua posição em defesa da vida e a favor da família.
"Quero aproveitar essa ocasião para reafirmar a minha posição absolutamente inquestionável e também inequívoca em defesa da vida, contra o aborto ?essa sempre foi uma bandeira pela qual combati?, em favor da família, contra as ideologias que pretendem desconstruir a identidade das pessoas, em favor daqueles princípios que nós todos somos chamados como cristãos, e no meu caso como sacerdote, a defender com valentia", disse.
Em 2022, o padre levou ao altar uma bandeira do Brasil. Publicações mostram a bandeira sob imagens de Nossa Senhora ?uma delas em 2 de outubro, dia do pleito presidencial.
Em setembro do mesmo ano, véspera das eleições, vídeo publicado no perfil mostra o padre dizendo aos fiéis que a escolha nas urnas impactaria como o Evangelho seria difundido nos próximos anos.
"Não é minha missão indicar em quem você tem que votar. Isso é sua consciência que tem que escolher. Mas, como Igreja, nós temos que dizer: a sua escolha determina a nossa liberdade de pregar. A sua escolha determina como o Evangelho será difundido nos próximos anos."
No 8 de janeiro de 2023, dia dos ataques golpistas às sedes dos três Poderes, o pároco contou a história bíblica de Absalão, filho de Davi e que morreu após uma revolta armada contra o pai.
"Por detrás do ato subversivo de Absalão há uma história de injustiça e omissão, de proteção do crime e de desumanas delinquências. Julgar a história pelo fim é tratar o sintoma como causa. Não há como curar uma ferida sem tratá-la pela origem", escreveu.
Também no ano passado, uma publicação que trazia seu rosto, uma imagem de Nossa Senhora e a bandeira do Brasil, dizia que o 7 de setembro chegava "estranho, tristonho e sombrio". "Isso só me faz lembrar a frase: ?a solução para o Brasil não está em Brasília, mas em Aparecida?. Precisamos orar", escreveu.