A manifestação em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), convocada por ele próprio para o próximo dia 25 na avenida Paulista (em São Paulo), deverá reunir parlamentares aliados do ex-chefe do Executivo. Entre eles, o líder da bancada ruralista, deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), e ex-ministros como Ricardo Salles (PL-SP) e Ciro Nogueira (PP-PI).
Na segunda (12/2), Bolsonaro gravou um vídeo chamando apoiadores para o ato, em meio às investigações da Polícia Federal que apontam a atuação do ex-mandatário no planejamento de um golpe de Estado para se manter no poder. Há uma expectativa entre membros da oposição ao governo Lula (PT) no Congresso Nacional de que o ato terá grande participação de parlamentares.
Uma lista que circulou em grupos bolsonaristas em aplicativos de mensagem nesta sexta-feira (16) mostrava cerca de 60 deputados federais confirmados de partidos como PL, PP, União Brasil, Republicanos e Podemos --sendo todos eles nomes da oposição.
PP, União Brasil e Republicanos integram a base do governo e têm representantes na Esplanada dos Ministérios de Lula. Apesar disso, possuem parlamentares que são da oposição ao petista.
Um dos deputados que está a par da organização do evento, Zucco (PL-RS) afirma que "tranquilamente" mais de 50 parlamentares, entre eles deputados federais e estaduais, além de senadores, deverão comparecer ao ato. Também estão previstos para participar prefeitos, como Ricardo Nunes (MDB), e governadores, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).
À reportagem Lupion diz que está em sua agenda participar da manifestação, mas que não está ainda "100% confirmado". "Está na minha agenda, mas é um domingo, preciso organizar com a família. A princípio, sim [irá participar]", diz.
"É um ato que para ele [Bolsonaro] é importante. Sou aliado político dele, fui vice-líder do governo [dele], acho que é o mínimo que eu tenho que fazer. Não vejo por que não ir", completa.
Lupion preside a FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), que reúne cerca de 300 deputados e 50 senadores e é uma das maiores forças no Congresso. A FPA teve grandes embates com o governo petista ao longo de 2023, impondo reveses em derrubadas de vetos presidenciais, como, por exemplo, o do marco temporal para demarcação de terras indígenas.
Além dele, deverão comparecer os ex-ministros da gestão Bolsonaro Ricardo Salles (Meio Ambiente), hoje deputado federal pelo PL de São Paulo, Ciro Nogueira (Casa Civil) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia).
À reportagem Nogueira disse que levará toda a família para, segundo ele, mostrar apoio ao ex-presidente "junto de milhares de brasileiros".
O ex-ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), atual senador e líder do PL no Senado, escreveu nas redes: "Temos um encontro marcado com o nosso presidente". "Em defesa da liberdade, da democracia e do estado de direito em nosso país", disse.
O líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes, também está previsto para comparecer, segundo sua assessoria de imprensa. Côrtes enviou uma carta a deputados federais e estaduais da bancada convidando para o ato.
"Enfatizo a importância da participação de todos os membros do partido nesse evento de extrema relevância para a nossa nação. É fundamental que estejamos unidos em um movimento pacífico, assegurando a manutenção da ordem e propagando nossas ideias e valores de forma respeitosa", diz a carta.
Apesar disso, no entanto, outros ex-ministros e aliados de peso do ex-presidente não deverão participar, como as hoje senadoras Damares Alves (Republicanos-DF) e Tereza Cristina (PP-MS), além do ex-vice de Bolsonaro, senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS).
Um aliado do ex-presidente afirma, sob reserva, que a operação recente da PF que mira Bolsonaro e seus aliados gera impacto negativo à imagem do ex-mandatário entre o eleitorado de centro, mas sem afetar a militância bolsonarista mais ligada ao ex-chefe do Executivo --que, por sua vez, fica mais mobilizada em sua defesa.
Ele diz que o ato servirá para medir a temperatura de apoio de Bolsonaro entre aliados e a população como um todo.
Esse mesmo interlocutor de Bolsonaro afirma também que a presença de parlamentares deverá ser grande, uma vez que há uma pressão popular pelo ato. Ele diz que quem não comparecer e não tiver uma "justificativa aceitável" será "massacrado nas redes sociais" por apoiadores de Bolsonaro.
Diversos parlamentares publicaram em seus perfis nas redes o vídeo em que o ex-presidente convoca apoiadores para o ato. Na gravação, Bolsonaro pede aos apoiadores que não levem faixas e cartazes contra ninguém e fala em ato de apoio ao que chama de Estado democrático de Direito. "Nesse evento eu quero me defender de todas as acusações que têm sido imputadas à minha pessoa nos últimos meses", afirmou Bolsonaro.
Deputados bolsonaristas ouvidos pela reportagem justificaram sua participação na manifestação afirmando que há uma perseguição contra o ex-presidente e que é preciso demonstrar apoio a ele neste momento.
"Importante mostrar que a direita tem apoio, que o povo está cansado das perseguições contra a oposição do país", diz a deputada Carla Zambelli (PL-SP).
"Se o [ministro do STF Alexandre de] Moraes continuar essa saga persecutória, só deixará a direita mais unida, mais forte e mais destemida. E não estou falando dos representantes do povo, mas o povo em si. Daremos a prova disso nas ruas dia 25", completa.
O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), segundo vice-presidente da Câmara, avalia que esse será o evento com apoiadores de Bolsonaro com o maior número de parlamentares que já ocorreu, uma vez que todos estarão num único lugar, e não em cidades diferentes.
"Todos devem ir, até pelo momento delicado que o presidente passa, por essa perseguição. É a forma de mostrar solidariedade. Quem gosta, quem tem simpatia [por Bolsonaro], não tem a opção de não ir", diz Cavalcante.
O deputado Evair de Melo (PP-ES), que também foi vice-líder na gestão Bolsonaro, diz que participou de muitas reuniões e viagens e que "jamais" testemunhou "uma única ação que se alinha com essas narrativas feitas contra" o ex-presidente.
O deputado Rodrigo Valadares (União Brasil-SE) diz que o ato irá mostrar que Bolsonaro tem apoio e não está enfraquecido. "A mobilização que está acontecendo é significativa e vai mostrar ao Brasil e ao mundo o apoio que o presidente tem. Nossa expectativa é que seja um ato gigantesco", diz.
"No grupo [do WhatsApp] da oposição, muitos deputados afirmaram que vão participar. A mobilização é algo orgânico, entendemos que o Brasil vive um momento de muita tensão e que a Justiça vem usando a sua força para atacar os conversadores e os que pensam diferente do governo atual", diz o deputado Mauricio Marcon (Podemos-RS).