Presidente Lula (PT) e o deputado federal e candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) -  (crédito:  Ricardo Stuckert)

Presidente Lula (PT) e o deputado federal e candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL)

crédito: Ricardo Stuckert

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente municipal do PT em São Paulo, Laércio Ribeiro, considera a eleição de 2024 na capital paulista uma espécie de "terceiro turno" da disputa entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). "E nós vamos vencer de novo", diz ele em entrevista à Folha, apostando na chapa encabeçada por Guilherme Boulos (PSOL).

 

"O Boulos tem a cara do Lula e a cara do PT", afirma.

 

Bolsonaro anunciou apoio a Ricardo Nunes (MDB), pré-candidato à reeleição, o que fortaleceu a estratégia da esquerda de colar no prefeito a rejeição ao ex-presidente 68% dos moradores da capital não votariam em alguém indicado por ele, de acordo com o Datafolha.

 

Mesmo que os dois se distanciem e Bolsonaro lance outro nome, a mensagem será mantida, segundo Ribeiro. "Ele [Nunes] buscou o Bolsonaro o tempo inteiro e dialoga muito com pautas bolsonaristas. Ele não vai escapar disso, sendo apoiado pelo Bolsonaro ou não", diz.

 

O petista afirma que o deputado do PSOL apresentará "um programa estruturante, e não uma perfumaria, como o Ricardo tem feito na cidade". E indaga quais políticas Nunes deixou em áreas como saúde, habitação, mobilidade e educação.

 

Sobre Tabata Amaral (PSB), o dirigente diz que é direito do PSB ter uma candidatura e vê possibilidade de confluência no segundo turno, mas critica a deputada, também do campo governista e que tem apoio do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).

 

"Há espaço na cidade e no país para um centro político, mas o centro não é o muro. E hoje enxergo a Tabata no muro. Precisa dizer a que veio para conseguir ganhar", diz Ribeiro, que cresceu na Vila Missionária, mesmo bairro periférico da zona sul onde Tabata foi criada.

 

O presidente trabalhou para afastar as resistências internas à aliança, em que pela primeira vez o partido abriu mão de lançar candidato na cidade. Ele afirma que a parceria com o psolista fortalece o PT, em vez de enfraquecê-lo, como argumentavam os refratários ao acordo.

 

Ribeiro também foi um entusiasta da costura de Lula para trazer Marta Suplicy de volta à legenda, concordando com o argumento de que ela tem imagem ligada ao partido, apesar do rompimento há nove anos. Ele diz que a ex-prefeita como vice ajuda a combater o "estereótipo do radicalismo" de Boulos

 

O deputado e seu entorno repetem que a dianteira obtida por Lula e pelo então candidato a governador Fernando Haddad (PT) na capital em 2022, ficando à frente de Bolsonaro e de seu aliado Tarcísio de Freitas (Republicanos), seria um indicativo favorável ao nome do PSOL.

 

Ribeiro diz ser exagero esperar uma reprodução automática do resultado em 2024. "Mas é uma possibilidade e vamos explorá-la."

 

"A democracia estava em xeque, não está mais, mas o jogo pela defesa da democracia ainda está [sendo] jogado", afirma o dirigente. "

 

O cálculo é o de que o desempenho em 2024 "dará recados importantes para 2026", podendo impulsionar o campo vencedor. "Mais importante que o PT ampliar o número de prefeitos pelo país é essa frente que estamos construindo ter vitórias. Ganhando em São Paulo, o resultado no balanço dispara."

 

Para o dirigente ?que divide a coordenação da pré-campanha com Josué Rocha, assessor e homem de confiança de Boulos no PSOL?, a ideia de frente que deu a vitória a Lula deve ser replicada contra o bolsonarismo na capital. Hoje a campanha reúne siglas à esquerda (PSOL, PT, Rede, PC do B, PV e PDT).

 

Confrontado com as críticas à busca de hegemonia do PT na esquerda, Ribeiro responde que a única predominância desejada é a da frente que está sendo construída.

 

Para o petista, o tipo de disputa que emergiu com "a direita radicalizada" piorou o debate no país. "O enfraquecimento de uma direita civilizada, que disputava ideias, fez muito mal para a gente. A polarização que tínhamos com o PSDB era de ideias. O que vimos [com Bolsonaro] foi gente se matando."

 

Ribeiro minimiza o vexame das duas últimas candidaturas petistas na cidade, com o então prefeito Haddad em 2016, derrotado no primeiro turno por João Doria (PSDB), e Jilmar Tatto em 2020 ?responsável pelo pior resultado da legenda na história da capital, em sexto lugar.

 

O dirigente atribui a sequência aos anos de crise do PT na opinião pública depois da Lava Jato e do impeachment de Dilma Rousseff, mas nega que tenha sido um erro insistir na campanha de Tatto quando já havia sinais da competitividade de Boulos, que chegou ao segundo turno em 2020.

 

Ao falar de candidaturas para a Câmara, o presidente do PT cita o compromisso de lançar uma chapa "qualificada, representativa e diversa". Há críticas na própria militância ao perfil da atual bancada, com só uma mulher.

 

Ribeiro vê necessidade de "olhar com muito cuidado e carinho" para pautas identitárias, mas faz ressalvas. " O que tem de ser central na política é a vida das pessoa, sua situação econômica."

 

Ele entende, no entanto, que raça é algo relevante. "É um debate central. O racismo é estrutural, e diversos problemas que temos estão relacionados às questões raciais", afirma ele, que se declara negro.

 

Ribeiro afirma concordar com Lula na cobrança para que o PT retome o trabalho de base e deixe de achar que sabe "toda a verdade do planeta", feita durante encontro partidário em dezembro.

 

"Todo mundo que se acha conhecedor do fim da história olha para o outro com um certo desdém. A esquerda tem isso, acha que precisa converter o outro à sua visão, e precisa se despir desse ar de superioridade", diz.