Alvos de inquérito da Polícia Federal (PF), que investiga a tentativa recente de um golpe de Estado no Brasil, dois acusados - o ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Augusto Heleno - não apenas reverenciavam a ditadura militar, instaurada no país por 21 anos (de 1964 a 1985), como também exibiam, emolduradas em seus gabinetes, imagens dos representantes do período tirano, marcado pela censura, fechamento do Congresso, tortura, morte e desaparecimento de opositores.
Em seu gabinete na Câmara, por onde permaneceu como deputado por 27 anos, Bolsonaro tinha exposto, na parede da sala onde despachava, fotos de todos os presidentes ditadores daquela época. Orgulha-se, até hoje, do regime antidemocrático e já discursou que a ditadura brasileira deveria ter eliminado mais gente do que matou (o relatório final da Comissão Nacional da Verdade chegou a conclusão de que 434 pessoas foram mortas e desaparecidas na ditadura militar do Brasil).
Bolsonaro chegou a dizer que, "no período da ditadura, deviam ter fuzilado uns 3 0mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique", frase dita em 1999, numa entrevista (na época, FHC, do PSDB, presidia o país).
No impeachment de Dilma Rousseff, em abril de 2016, Jair enalteceu, durante seu voto, a figura do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou centros de tortura e foi condenado pela Justiça como "torturador".
As fotos dos ditadores estão hoje no gabinete da deputada Carla Zambelli (PL-SP), que "herdou" o gabinete de Bolsonaro, quando ele se elegeu presidente da República, em 2018.
Também acusado pela PF de tentar dar um golpe no país, no final do governo Bolsonaro, o general Augusto Heleno, que comandou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) naquela gestão, tinha em seu gabinete no Palácio do Planalto, no quarto andar, uma galeria de fotos de antigos dirigentes do Serviço Nacional de Informações, o SNI, braço fundamental da repressão no país.
A revelação da existência dessa galeria foi feita agora pelo ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que ocupou o gabinete que foi de Heleno, e gravou um vídeo mostrando as fotos dos militares.
"Olha o que encontrei no gabinete que era do general Heleno, um dos articuladores da organização criminosa do golpe. Não sei se todo mundo sabe, meu gabinete aqui no Palácio do Planalto é o antigo gabinete do general Heleno. Primeiro dia que entrei aqui, eu fiquei chocado porque essa parede branca aqui era forrada de fotos dos ex-diretores do SNI, que era a organização da grande polícia política da repressão da ditadura militar. Eram esses os ídolos que reverenciava o general Heleno. Depois que entrei aqui, e tiramos tudo isso, tive a nítida impressão de que a gente tinha salvado a democracia brasileira", diz Padilha, no vídeo.
Na reunião de teor golpista de 5 de julho de 2022, o general Heleno disse que era preciso "uma virada de mesa" antes das eleições de outubro, diante da iminência da vitória nas urnas do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Bolsonaro e Heleno estiveram ontem, na Polícia Federal, para depor nesse inquérito, porém optaram por permanecer calados.