Lula, com as palmas das mãos juntas, concede entrevista -  (crédito: Ricardo Stuckert/PR)

Lula, com as palmas das mãos juntas, concede entrevista

crédito: Ricardo Stuckert/PR

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O governo Lula (PT) acena a evangélicos e trabalhadores em aplicativo na tentativa de desidratar o eleitorado bolsonarista ou, ao menos, deter seu avanço. Discutida em reuniões nesta semana, a estratégia solidificou-se após manifestação de domingo (25) em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo admitem aliados do presidente. 

O próprio Lula reconheceu a magnitude do ato pró-Bolsonaro, ocorrido na Avenida Paulista e convocado após revelação de manifestações de teor golpista durante reunião ministerial conduzida por Bolsonaro em julho de 2022. 

Segundo aliados, o ato acabou por reforçar a necessidade de medidas voltadas para esse eleitorado. Ações em debate desde o ano passado ganharão forma em março.

 

Na segunda-feira (4), por exemplo, será anunciado projeto para instituição de remuneração por hora trabalhada a motoristas de aplicativos. Fruto de um acordo com as plataformas, a proposta inclui também contribuição previdenciária para esses trabalhadores. 

Ainda este mês deverá ser aprovada a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que garante imunidade tributária a igrejas e templos religiosos. A expectativa é que seja promulgada pelo presidente na Semana Santa. Integrantes da bancada evangélica veem essa medida como uma grande oportunidade para o governo aparar as arestas com o segmento. 

A expectativa é que, com essa PEC, o governo abrirá mão de cerca de R$ 1 bilhão por ano, o que, segundo parlamentares, já seria reduzido nos próximos anos quando a reforma tributária entrar em vigor.

Os benefícios para os templos serão concedidos até em material de construção e compra de automóveis. 

Porém, a PEC não resolve um impasse sobre contribuição previdenciária das igrejas. Por isso, o governo espera que, em março, seja concluída a elaboração de um parecer jurídico que permitirá a ampliação de benefícios fiscais a denominações religiosas para isenção de contribuição previdenciária. 

Esses benefícios chegaram a ser suspensos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), no ano passado. Autor da PEC, o ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) afirma que a suspensão foi motivada por uma iniciativa do MP de Contas. "Portanto, não houve intenção do governo de restringir direitos de templos religiosos", disse. 

"Quanto à PEC 5, fizemos no ano passado inúmeras reuniões com a Casa Civil até chegarmos a um texto de entendimento". 

A proposta foi aprovada na, terça-feira (27), pela Comissão Especial e agora segue para o plenário. "Acredito que o governo compreende que Igreja forte é crime fraco. E fortalecer todas as igrejas é garantir a imunidade tributária", afirmou. 

"A PEC é para todas as denominações religiosas. Com certeza se o governo apoiar , como tem apoiado, vai mostrar o apreço que tem a eles", acrescentou Crivella, que é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. 

Também em resposta ao ato de domingo, emissários do governo federal afirmaram a parlamentares da Câmara dos Deputados que aqueles que assinaram pedido de impeachment contra o presidente Lula por ele ter comparado as mortes na Faixa de Gaza ao Holocausto irão sofrer consequências do Executivo. 

Auxiliares de Lula passaram a segunda (26) tentando desviar o foco do ato bolsonarista, mas reconheceram que o ex-presidente conseguiu reunir aliados políticos de peso. 

Em um gesto aos militares, Lula evitou fazer críticas mais contundentes à atuação das Forças Armadas no país e disse que prefere não ficar remoendo as consequências do golpe de 1964 porque isso "faz parte do passado" e quer "tocar o país para frente". 

Durante entrevista à RedeTV!, ele disse ainda que em nenhum outro momento da história os integrantes das Forças foram tão punidos, como estão sendo atualmente, pelo envolvimento em tramas golpistas de 2022 e por participação nos ataques de 8 de janeiro de 2023.