O que surgiu como um protesto contra políticos, especialmente contra o então prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda, agora é cobiçado por todos eles, de olho nos dividendos que a festa momesca pode render na eleição municipal deste ano e nas próximas. O governador Romeu Zema (Novo), apontado como possível candidato à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026, resolveu apostar pesado no carnaval de Belo Horizonte, com propaganda até em outros estados, e vai fazer investimentos significativos aportados pela primeira vez na folia da capital renderam confetes.

Zema vai testar a popularidade de seu governo na folia da capital. Durante a festa, que começa oficialmente hoje, secretários de estado vão percorrer blocos de rua, eventos e instalações que receberam patrocínio e apoio do governo, por meio das leis de incentivo à cultura.



O destino do governador no carval é desconhecido. Zema não costuma divulgar suas agendas previamente, apenas no dia mesmo, mas seus secretários de Cultura, Leônidas Oliveira; de Desenvolvimento Social, Elizabeth Jucá; e a adjunta de Comunicação, Barbará Botega, vão conferir “atrações e serviços prestados pelo governo de Minas durante o “Carnaval da Liberdade 2024”, nome usado pelo estado para batizar as atividades que contam de alguma maneira com a participação do estado.

Leônidas estará estar em um dos maiores blocos da capital mineira, o Volta Belchior, que homenageia o cantor e compositor cearense falecido em 2017, com apresentação hoje às 14h, na Avenida dos Andradas. A via foi toda sonorizada com apoio financeiro do governo do estado e gerou críticas de vários blocos de rua e até mesmo de um pedido de abertura de inquérito no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), questionando os critérios adotados pelo estado para distribuição dessas verbas.

Na segunda-feira de carnaval, o secretário de Turismo e a secretária-adjunta de Comunicação vão novamente para o circuito sonorizado, dessa vez para “conferir o alcance do projeto de sonorização”, participando de outro grande bloco de rua da capital, o Baianas Ozadas, surgido em 2012. Já a secretária de Desenvolvimento Social estará na Praça da Liberdade, que também receberá eventos de carnaval patrocinados pelo governo.

O governo de Minas é, pela primeira vez, o patrocinador master do carnaval da capital este ano, por meio da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge). Além de investimentos na folia da capital e interior, o governo também fez campanha em outros estados para atrair turistas para Belo Horizonte - a expectativa da PBH é receber cerca de 5,5 milhões de foliões - e para outras cidades do interior.


INVESTIMENTO AMPLIADO

O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), possível pré-candidato à reeleição este ano, e seu secretariado não confirmaram nenhuma agenda prevista no carnaval, cujo protagonismo virou motivo de disputa política entre estado e município com troca de farpas entre integrantes dos governos. Mas também investe na festa com a maior estrutura tanto para os blocos. São 510 ao todo que vão contar com o apoio do município, que triplicou o valor dos investimentos nesses cortejos desde 2019.

Grupos de oposição a Zema prometem protesto contra o governo durante a folia, mas até agora, na maioria dos blocos que já desfilaram desde 27 de fevereiro, as críticas foram bem tímidas. Zema também já foi alvo de algumas músicas de carnaval criticando atos de sua gestão, entre elas a decisão de não exigir carteira de vacina para alunos da rede pública. Fuad passou ileso pela ironia momesca. Mas nada se compara às marchinhas contra políticos que fizeram história na festa da capital.

 

Protesto

O carnaval de Belo Horizonte remonta às origens da cidade, mas começou a ganhar força mesmo quando o então prefeito Marcio Lacerda, em 2009, baixou um decreto que proibia a realização de eventos de qualquer natureza na Praça da Estação, na Região Central da capital. Em protesto, moradores se reuniram e fizeram a "Praia da Estação", um piquenique convocado pelas redes sociais, que juntou centenas de pessoas e começou a se repetir com frequência. O decreto foi revogado, mas o espírito festeiro e os blocos de carnaval que surgiram dessa contestação começaram se multiplicar aos poucos dando origem ao carnaval de atual, já considerado um dos maiores do país.

 

 

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