SALVADOR, BA, RECIFE, PE, E PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) indicou que deve atuar com pragmatismo nas eleições para as prefeituras das capitais, traçando o que chamou de estratégia "jogo de War", com apoio a nomes competitivos de outros partidos, para frear candidaturas de aliados do presidente Lula (PT).

 

Bolsonaro confirmou apoio à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, movimento que impôs a desistência do deputado federal Ricardo Salles (PL), classificado pelo ex-presidente como o seu "candidato do coração".

 

Diante da aliança, o coronel Mello Araújo (PL), ex-comandante da Rota e nome de confiança de Bolsonaro, pode ser indicado para o posto de vice na chapa liderada por Nunes, que deve comparecer a um ato convocado pelo ex-presidente na Avenida Paulista no próximo domingo (25) em meio às investigações da Polícia Federal sobre a suposta atuação em uma trama golpista.



 

O PL de Bolsonaro também desistiu da corrida pela Prefeitura de Natal e selou apoio ao deputado federal Paulinho Freire (União Brasil), com a promessa de unificar a direita na capital potiguar em torno de uma única candidatura.

 

O partido ensaia movimentos semelhantes em capitais como Salvador, Florianópolis e Campo Grande com aliados que disputam a reeleição. Em Porto Alegre, a aliança já foi sacramentada.

"Estratégia e paciência"

 

Em uma transmissão na internet, no fim de janeiro, Bolsonaro pregou "estratégia e paciência" na definição das candidaturas e destacou que os partidos de direita não devem se dividir onde houver possibilidade de vitória do PT e partidos aliados de Lula.

 

"A ideia é lançar candidatos no maior número possível de municípios, ter candidatos nas capitais. Em algumas não vai ser possível, vamos partir para uma negociação fazendo da melhor maneira possível. A gente tá jogando War aqui, pessoal", disse o ex-presidente, em referência ao jogo de tabuleiro de estratégia de guerra e que pode incluir objetivos diferentes de cada participante e para cada região.

 

Um dos entraves para o avanço das articulações tem sido a proibição de contato entre Bolsonaro e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, após determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, no dia 8 de fevereiro. Ambos são investigados no STF sob suspeita da prática do crime de tentativa de golpe de Estado.

 

O PL não elegeu prefeitos nas capitais na eleição de 2020, assim como o PSL, partido ao qual Bolsonaro era filiado na época. Atualmente, o único prefeito de capital do PL é João Henrique Caldas, o JHC, que se filiou ao partido em 2022 após deixar o PSB.

 

Desta vez, o partido vai para as eleições municipais com uma meta ousada de eleger mil prefeitos e deve ter candidato próprio em ao menos 14 capitais. Mas a ordem é buscar consensos com outros partidos de direita e tentar consolidar uma base sólida para pavimentar as eleições de 2026.

Disputa polarizada

 

Esse deve ser o caminho nas capitais dos estados do Sul. Em Porto Alegre, o PL tem o vice-prefeito Ricardo Gomes, que deve repetir a dobradinha com o prefeito Sebastião Melo (MDB), candidato à reeleição. A tendência é de uma disputa polarizada na capital gaúcha com o PT, que prevê a candidatura da deputada federal Maria do Rosário.

 

Em Florianópolis, o PL articula uma possível indicação do candidato a vice do prefeito e candidato à reeleição Topázio Neto (PSD), que é considerado favorito e ampliou sua base nas últimas semanas com o apoio do MDB e Republicanos.

 

O cenário é mais nebuloso em Curitiba, onde aliados de Bolsonaro e do governador Ratinho Júnior (PSD) seguem divididos em mais de uma candidatura. Uma eleição suplementar para o Senado, em caso de cassação do senador Sergio Moro (União Brasil-PR) na Justiça Eleitoral, pode mexer no tabuleiro municipal.

 

Dentre as capitais do Nordeste, Natal e Salvador têm negociações mais avançadas. Na capital potiguar, o deputado General Girão (PL) se retirou da disputa após articulação do senador Rogério Marinho (PL) para unir a direita. Os aliados de Lula, por outro lado, se dividem em ao menos três pré-candidaturas.

 

Em Salvador, o PL sinaliza uma aliança com o prefeito e candidato à reeleição Bruno Reis (União Brasil). Os partidos ainda afinam os detalhes da parceria, que caminha para ser selada em março.

 

A ideia é firmar a aliança ainda no primeiro turno para se contrapor à candidatura do vice-governador Geraldo Júnior (MDB), que unificou a base do governador Jerônimo Rodrigues (PT). Neste cenário, o PL deve centrar forças na eleição de vereadores em Salvador e prefeitos no interior do estado.

 

 

Também há negociações em curso para unificar o campo bolsonarista em capitais como Campo Grande (MS), onde PP e PL têm pré-candidatos, e Boa Vista (RR), estado em que aliados do ex-presidente articulam uma convergência em torno do nome da deputada estadual Catarina Guerra (União Brasil).

Candidatura própria

 

Na rota contrária, o partido deve partir para uma estratégia de candidatura própria em capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Manaus, Belém e Recife.

 

No Rio de Janeiro, o PL dobrou a aposta na candidatura do deputado federal Alexandre Ramagem, alvo de investigação por um suposto esquema de espionagem ilegal.

 

A aliança em torno de Ramagem é articulada pelo governador Cláudio Castro (PL), que sondou partidos aliados para apoiá-lo contra o prefeito Eduardo Paes (PSD). Um dos entraves é o MDB, que insiste na candidatura do deputado federal Otoni de Paula. O PL, por sua vez, cobra reciprocidade ao apoio a Ricardo Nunes em São Paulo.

 

Em capitais como Manaus (AM), Belém (PA) e João Pessoa (PB), a disputa é dentro do próprio PL, com mais de um pré-candidato à prefeitura no partido.

 

Na capital do Amazonas, dois militares disputam a indicação: o deputado federal Capitão Alberto Neto e o Coronel Alfredo Menezes. Ambos têm um acordo e podem compor uma chapa pura.

 

Em Belém, o deputado federal Delegado Eder Mauro e o delegado da Polícia Federal Everaldo Eguchi, candidato a prefeito derrotado em 2020, disputam a indicação para concorrer contra o prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL).

 

O panorama em João Pessoa é mais crítico, já que há um descompasso entre a cúpula e parte das bases do partido. O PL definiu como candidato o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, nome que sofre resistência da ala mais radical do bolsonarismo.

 

O comunicador Nilvan Ferreira (PL), que foi o segundo colocado na eleição de 2020 e pleiteava nova candidatura, anunciou desistência no último dia 2, tecendo críticas ao partido.

Cenário adverso

 

Em outras capitais do Nordeste, o cenário é visto como adverso. No Recife, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto (PL) vai enfrentar o prefeito, João Campos (PSB), favorito à reeleição.

 

O PL de Pernambuco avalia que a candidatura é importante para disseminar o nome de Gilson no eleitorado de olho na disputa para o Senado em 2026, em caso de derrota na eleição municipal.

 

Em Fortaleza, o PL lançou o deputado federal André Fernandes, mas o parlamentar não descarta a possibilidade de aliança com o ex-deputado Capitão Wagner, derrotado duas vezes para a prefeitura de Fortaleza e candidato a governador mais votado na capital nas eleições de 2022.

 

Um dos temores da direita no Ceará é a possibilidade de divisão do eleitorado, que pode deixar os aliados de Bolsonaro fora do segundo turno. Isso porque a esquerda também vai para a disputa dividida, com candidaturas do prefeito Sarto Nogueira (PDT), e do PT, que comanda o governo estadual.

compartilhe