A formalização da chegada de Fuad Noman (PSD) ao páreo eleitoral em Belo Horizonte reacende as discussões de bastidores sobre a possibilidade de que o atual prefeito da cidade seja um elemento de convergência de candidaturas do campo progressista, atualmente disputado por cinco pré-candidatos. A pré-campanha para a recondução do chefe do Executivo municipal foi anunciada nesta segunda-feira (26/2) em evento na sede do partido na capital mineira com repetidas referências à construção de uma frente ampla à esquerda para concorrer à prefeitura. Mesmo com a chegada de um concorrente de peso, nomes que já anunciaram sua intenção de concorrer no pleito de outubro avaliam o movimento com naturalidade e garantiram à reportagem do Estado de Minas que o fato não muda o cenário de disputa.

 

O ministro de Minas e Energia do governo Lula, Alexandre Silveira (PSD) foi a liderança mais vocal do evento de lançamento da pré-candidatura de Fuad no ponto de vista de construção de uma grande aliança progressista em torno do atual prefeito. Mesmo evitando citar nomes e partidos, o ex-senador disse reiteradamente que pretende atuar para construir pontes com outras campanhas de esquerda em BH.

 



 

“Eu quero, em particular, na posição que ocupo representando o presidente Lula em Minas Gerais, servir como aquele que pode fazer o elo, para que a gente vá muito além do PSD, para que gente construa uma grande frente progressista, que represente uma Belo Horizonte que respeita as pessoas, uma Belo Horizonte inclusiva, que tanto nos orgulha e é referência no nosso Estado. Quero ser alguém que possa fazer a interlocução com todos os demais partidos que podem integrar esta frente progressista para que o mineiro faça o que sabe fazer de melhor, que é a boa política, com diálogo permanente, para resolver os problemas reais da sociedade”, destacou o ministro.

 

Vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, Rogério Correia é o nome do PT para a disputa pela capital mineira. À reportagem, o parlamentar garante que sua pré-candidatura não sofre impactos com a chegada de Fuad à disputa e usa exemplos de alianças costuradas por petistas em outros estados para mostrar que seu nome está fortalecido dentro do partido, bem como o protagonismo da capital mineira no cenário nacional.

 

“Quero desejar sorte ao Fuad na campanha, mas mantemos nossa candidatura. No Rio de Janeiro estamos apoiando a reeleição de Eduardo Paes (PSD), em São Paulo, o candidato é o Guilherme Boulos (Psol), então a nossa expectativa é que tenhamos a primazia da disputa em Belo Horizonte. BH passou a ser a prioridade da nossa federação entre todas as capitais do país”, afirmou o deputado.

 

Segundo Correia, uma eventual aliança com Fuad não está descartada, mas só existiria sob a prerrogativa de que o atual prefeito não encabece a chapa. Presente no evento de lançamento da pré-campanha, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, foi categórico ao dizer que não passa pela cabeça da legenda não buscar a reeleição à Prefeitura de Belo Horizonte tendo um nome como protagonista.

 

“É evidente que um partido com a dimensão que hoje tem o PSD [...] procure se apresentar com candidaturas próprias nas maiores cidades. Diante da manifestação do Fuad, que tem o nosso apoio e aliás teve o nosso incentivo, de uma maneira muito respeitosa ao deputado (Rogério Correia), fica inviabilizada essa pretensão (de lançar Fuad como vice). Mas ele é um aliado importante, que vai estar conosco no segundo turno. Esperamos que isso possa acontecer porque a nossa disposição será levar o Fuad para o segundo turno. Eu entendo com naturalidade e são argumentos que sempre são colocados na mesa, porque o país tem uma dimensão continental, cada partido com 27 diretórios estaduais, e é natural que uma liderança num estado tão importante como Minas Gerais, possa lembrar de outros estados para tentar fazer uma composição quando é viável, né? Mas é muito difícil, né numa cidade em que o prefeito se dispõe a continuar e está fazendo um bom trabalho, que o partido abra mão da candidatura, porque vamos perder o apoio e até o respeito da opinião pública”, disse Kassab.

 

Sem surpresas

 

As deputadas estaduais Ana Paula Siqueira (Rede) e Bella Gonçalves (PSOL) também estão no páreo pela PBH como nomes da esquerda. Ambas trataram a oficialização da chegada de Fuad à disputa com naturalidade e questionaram que o atual prefeito possa ser visto como um candidato que represente, ainda no primeiro turno, o campo progressista.

 

“Eu vejo que é natural que um prefeito em exercício e com condições e possibilidades de disputar uma eleição se apresente. Essa candidatura, pelo que o prefeito tem demonstrado até agora, não altera em nada o cenário na nossa capital. Eu realmente entendo que quem tem condições de evitar uma vitória da direita é realmente o campo progressista e o Fuad não se posiciona nele”, afirmou Ana Paula ao EM.

 

Bella Gonçalves segue na mesma linha e critica a atuação do atual prefeito, no cargo desde 2022. Ela cita as prioridades que uma candidatura de esquerda deve ter com a cidade e descartou uma aliança com Fuad antes de um eventual segundo turno.

 

“Acho que isso não altera o cenário de forma nenhuma. Não há nenhuma possibilidade da federação Rede/PSOL compor uma chapa com Fuad ou declarar apoio para ele no primeiro turno, porque nós não acreditamos que o Fuad seja um candidato progressista e que expresse o sentimento capaz de articular e mobilizar o povo em torno de um projeto de cidade que responda às questões centrais de Belo Horizonte: o cuidado com as mulheres, a segurança pública, a construção de moradias populares, urbanização de vilas e favelas e a resolução do grande imbróglio do transporte. Fuad teve a sua oportunidade e não conseguiu fazer nada diferente do mais do mesmo”, criticou a parlamentar.

 

No campo da direita, os dois nomes mais estabelecidos no cenário de pré-campanha são o deputado estadual Bruno Engler (PL) e o senador Carlos Viana (Podemos). A reportagem tentou contato com o primeiro, mas não teve resposta até a última atualização da matéria. Viana destacou que era esperada a movimentação de Fuad, tanto no sentido de se lançar à reeleição como na busca por alianças de esquerda.

 

“Entendo como muito natural a candidatura do prefeito Fuad e que ele busque hoje o apoio da esquerda. O PSD está no governo do PT em Minas, Lula foi apoiado pelos expoentes do partido, é um caminho natural, portanto, que Fuad busque as opções nesse campo da ideologia partidária. A meu ver, não muda em absolutamente nada o cenário, que continuará aberto e a população de Belo Horizonte vai prestar atenção nos candidatos a partir do segundo semestre, quando, de fato, as pessoas começaram a se preocupar com a administração da cidade”, avaliou.

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