O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se esquivou de comentar sobre a disputa entre Guiana e Venezuela pela região de Essequibo, mas deixou claro que o Brasil quer a América do Sul como uma "zona de paz" no mundo. Ele esteve, nesta quinta-feira, em Georgetown, capital guianense, e se reuniu com o presidente Irfaan Ali. Apesar das expectativas, contou não ter tratado sobre o conflito e disse que também não o fará com o venezuelano Nicolás Maduro, com quem deve se encontrar nesta sexta-feira. O chefe do Planalto argumentou que "não é o momento" para debater o assunto, mas colocou o Brasil à disposição para participar de qualquer negociação. O posicionamento já era esperado pelo Itamaraty.
O país se mantém neutro na disputa, mas quer evitar que escale. Maduro ameaçou uma invasão militar a Essequibo, obrigando o governo brasileiro a enviar tropas para a fronteira. Agora, com outras nações sul-americanas e caribenhas, o Brasil atua na mediação da disputa — que dura mais de um século, mas se acirrou após a descoberta de grandes reservas de óleo e gás.
Para Lula, a resolução ainda vai demorar "algumas décadas". "Veja, nós não discutimos a questão de Essequibo. Não é momento de discutir, era uma reunião bilateral para discutir desenvolvimento, investimento. Mas o presidente Irfaan sabe, como sabe o presidente Maduro, que o Brasil está disposto a conversar com eles a hora que for necessário", respondeu o presidente ao ser questionado por jornalistas após o encontro com Ali. "Da mesma forma, eu não vou discutir com o presidente Maduro essa questão", acrescentou.
Lula deixou a Guiana, nesta quinta-feira, e desembarcou em São Vicente e Granadinas, país insular das Antilhas, próximo da costa venezuelana. Ele participa, nesta sexta-feira, da Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Para o presidente, o encontro é o mais importante de sua agenda no Caribe, porque vai "discutir os grandes problemas do mundo". O premiê são-vicentino, Ralph Gonsalves, é o coordenador nas negociações por Essequibo. Maduro e outros líderes sul-americanos também estarão no evento.
Questionado se o Brasil quer que a disputa seja esquecida pela opinião pública, Lula negou. Porém, argumentou que o conflito não deve ter um final próximo. "O Brasil vai continuar empenhado para que as coisas aconteçam na maior tranquilidade possível. Se em 100 anos não foi possível resolver esse problema, é possível que a gente leve mais algumas décadas. A única coisa que eu tenho certeza é de que a violência não resolverá esse problema, criará outros", enfatizou.
O recado do Brasil foi dado em declaração oficial do presidente, após o encontro com Irfaan Ali. Lula voltou a condenar as guerras entre Rússia e Ucrânia, e entre Israel e o grupo extremista Hamas, na Faixa de Gaza. Portanto, disse querer que a América do Sul se mantenha como uma "zona de paz". A ameaça de Maduro à Guiana colocou em xeque o histórico do continente de décadas sem disputas violentas.
"Não precisamos de guerra. A guerra traz destruição de infraestrutura, de vidas, e traz sofrimento. A paz traz prosperidade, educação, geração de emprego e tranquilidade aos seres humanos", declarou.
O interesse principal do governo com a visita são as parcerias comerciais com a Guiana, especialmente em projetos de infraestrutura. O país sul-americano vive uma explosão econômica após a descoberta de óleo e gás em Essequibo. Segundo o Itamaraty, a balança comercial entre as nações saltou mais de 1.000% em três anos, alimentada principalmente pelas compras brasileiras de derivados do petróleo.
Lula e Ali concordaram em enviar uma comitiva empresarial guianense ao Brasil para mostrar oportunidades de investimentos no país a empreendedores brasileiros, especialmente na área de energia, petróleo e agricultura.