Deputados do bloco de oposição ao governador Romeu Zema (Novo) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) encerraram dia de reuniões em Brasília reafirmando a negociação direta com o governo federal como alternativa ideal para a bilionária dívida do estado com a União.
Nesta segunda-feira (4/3), após encontro com o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e com técnicos do Ministério da Fazenda, os parlamentares também mantiveram a perspectiva de que o plano costurado pelo senador seja apresentado dentro do limite de tempo determinado pela Justiça, que se encerra no mês que vem.
Em entrevista após agenda no Ministério da Fazenda, o líder do Bloco Democracia e Luta, Ulysses Gomes (PT), classificou como "positivo" o dia na capital. Ele garantiu que a equipe da pasta está empenhada em entregar um projeto para análise do governo estadual neste mês e viabilizar uma alternativa para a dívida de cerca de R$ 160 bilhões. A proposta é diferente do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), primeira opção do governo Zema.
“O presidente Lula (PT), através da Secretaria de Tesouro Nacional e da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, está debruçado sobre sobre o estudo das propostas, e é importante compreender que as propostas compreendem aquelas dialogadas e construídas com os governadores que já aderiram ao ao atual plano (RRF), mas que querem alternativas, e a proposta que o presidente Pacheco trouxe à mesa no final do ano passado", afirmou o deputado estadual, que ressaltou o encontro com Rodrigo Pacheco.
"Foi importante a conversa com o próprio presidente do Senado, que também está colhendo mais informações, mais propostas e aprofundando sobre elas. O mais importante é que hoje eu ouvi diretamente o secretário Nacional do Tesouro que o governo cumprirá a proposta de entregar até o final do mês de março o que está sendo elaborado”, disse Gomes.
Proposta alternativa ao RRF
A adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) foi apontada por Zema como alternativa única para a dívida do estado. O projeto, no entanto, ficou travado na Assembleia Legislativa durante todo seu primeiro mandato e não contava com a aderência de parlamentares por se tratar de um mecanismo que envolve a adoção de medidas severas de austeridade econômica.
Entrar no RRF, por exemplo, significaria a redução de investimentos públicos e limitaria o reajuste salarial de servidores a dois aumentos de 3% cada durante o período de nove anos de vigência do regime.
No fim do ano passado, após mais um início de legislatura com o RRF travado na Assembleia, Rodrigo Pacheco entrou em cena propondo elaborar uma estratégia de negociação direta da dívida com o governo federal. Com o apoio de parlamentares de oposição a Zema e ligados ao governo de Lula, o senador propôs que o débito fosse abatido a partir de medidas como a federalização de estatais como a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig).
Além disso, o projeto trazia pontos como o uso das indenizações pelos desastres de Mariana e Brumadinho para abater o débito.
O governo estadual acenou positivamente à ideia e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), pediu um prazo de três meses para formalizar o plano. Estado e governo federal também conseguiram, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), a prorrogação dos efeitos de uma liminar que permite que Minas não pague as parcelas da dívida até 20 de abril.
A medida foi pedida pelo então governador Fernando Pimentel (PT) e ficou válida durante todo o período em que Zema está no poder.
Com o prazo se esvaindo e a necessidade de correr contra o tempo, circula nos bastidores a possibilidade de que o estado peça uma nova prorrogação dos efeitos da liminar ao STF. Depois das reuniões desta segunda-feira, Ulysses Gomes rechaçou a eventual necessidade de se ampliar o período.
A reportagem solicitou um posicionamento do governo estadual sobre o tema, mas não teve respostas até a última atualização desta matéria.
“Da nossa parte, estamos trabalhando para que a proposta seja apresentada ao governador Zema e ele possa aderir a ela independente do prazo. O governo do presidente Lula e Secretaria de Tesouro Nacional tem como meta receber. Depois de cinco anos do governador gozar desse benefício de não pagar a dívida, a primeira coisa que ele tem que fazer é começar a pagar e obviamente os critérios para que a gente possa aderir a esse plano tem essa condicionante que a gente defende, que é não prejudicar os servidores e o serviço público como consequência disso”, afirmou o deputado.
Em nota, Pacheco destacou que a dívida mineira foi o assunto central da reunião com os parlamentares e apontou que a questão terá prioridade nas discussões de março, fim do prazo para que o débito volta a ser cobrado.
“Na oportunidade, tratamos de diversas questões relativas aos interesses do estado, mas sobretudo da dívida de Minas Gerais com a União. Tema que, no decorrer do mês de março, será objeto de intensa dedicação e trabalho por parte de todos os envolvidos, até que possamos resolver esse problema definitivamente”, diz trecho do texto.
Fizeram parte da comitiva mineira em Brasília as deputadas Lohanna (PV) e Leninha (PT) e os deputados Ulysses Gomes (PT), Doutor Jean Freire (PT), Professor Cleiton (PV), Lucas Lasmar (Rede), Leleco Pimentel (PT), Cristiano Silveira (PT), Ricardo Campos (PT) e Celinho Sintrocel (PCdoB).