Entidades da sociedade civil repudiaram, em nota, o cancelamento de evento em alusão aos 60 anos do golpe militar no Brasil, que estava marcado para 1º de abril. A cerimônia estava sendo organizada pelo Ministério dos Direitos Humanos, mas, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi cancelada.
"Recebi com imensa tristeza e indignação a notícia de que o Governo Federal pediu o cancelamento do ato do Ministério dos Direitos Humanos sobre os 60 anos do golpe militar e ainda orientou que nenhum ministro se envolvesse na pauta”, escreveu a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Manuella Mirella, nas redes sociais.
"Para a UNE, o período deve ser lembrado para que não seja mais repetido e, além disso, é importante reforçar a memória dos milhares que sofreram torturas ou foram mortos denunciando os abusos da ditadura militar. Muitos deles foram estudantes e entre eles os presidentes da entidade, Honestino Guimarães e Helenira Rezende", ressaltou a entidade estudantil em nota.
"O incêndio na sede da UNE, na Praia do Flamengo, em 31 de março de 1964, simbolizou a brutalidade da repressão aos estudantes e à oposição política e a entidade foi uma das principais vozes de resistência durante os 20 anos da ditadura militar", relembra a entidade.
De acordo com a diretora da UNE, em 23 de março haverá um um ato pela democracia e "para dizer que não há anistia para golpista". Será, ainda, planejada uma semana de mobilização para o marco de seis décadas do golpe.
Em busca de respostas
Já a coalização Pacto pela Democracia, que reúne mais de 200 organizações da sociedade civil, tenta conversa com o governo federal para repensar a decisão tomada. Eles enviaram, na última sexta-feira (8/3), uma carta endereçada à Secretaria de Comunicação da Presidência e ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
"Consideramos este um momento crucial para a reflexão crítica sobre o passado autoritário do Brasil e para o fortalecimento da democracia no presente", inicia o texto.
"É fundamental que o debate sobre o Golpe de 1964 seja realizado. E, sendo, que seja de forma ampla e abrangente, com a participação de diferentes vozes e perspectivas. É necessário que as novas gerações conheçam a história da ditadura militar, seus crimes e violações de direitos humanos, para que possamos fortalecer a democracia brasileira e evitar que episódios como este se repitam", diz ainda trecho da carta.