Bolsonaro na assinatura do contrato de transferência de tecnologia da vacina para Covid-19 desenvolvida por Oxford, comercializada pela AstraZeneca e produzida no Brasil pela Fiocruz, em 2021 -  (crédito:  Alan Santos/ Palácio do Planalto )

Bolsonaro na assinatura do contrato de transferência de tecnologia da vacina para Covid-19 desenvolvida por Oxford, comercializada pela AstraZeneca e produzida no Brasil pela Fiocruz, em 2021

crédito: Alan Santos/ Palácio do Planalto

SÃO PAULO E BRASÍLIA, None (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ) no caso que apura a falsificação de certificados de vacinas de Covid-19.

 

Eles foram indiciados sob suspeita pelos crimes de inserção de dados falsos em sistema público e associação criminosa. A informação foi revelada pelo portal G1 e confirmada pela Foilha de S.Paulo.

 

Segundo suspeita da Polícia Federal, dados falsos de vacinação foram inseridos em registros do SUS do ex-presidente para emitir um certificado. No início de maio, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão no endereço de Bolsonaro e de prisão contra Mauro Cid e Max Guilherme, outro ex-assessor de Bolsonaro.

 

Em maio de 2023, Bolsonaro prestou depoimento à PF sobre a investigação do caso. Ele disse que não determinou a inserção de dados falsos em sua carteira de vacinação, nem na de sua filha. Também afirmou que só teve conhecimento da adulteração quando esse tema começou a ser divulgado pela imprensa, em fevereiro deste ano.

 

 

Em depoimento anterior, também em maio, Mauro Cid também reivindicou o direito ao silêncio e não respondeu às perguntas da PF. Sua defesa alegou não ter tido acesso a todo o conteúdo da investigação.

 

Em depoimento à PF, Gabriela Santiago Cid, mulher do tenente-coronel, admitiu ter usado certificado falso de vacinação contra a Covid-19. Segundo a Folha de S.Paulo apurou, Gabriela culpou o marido pela inclusão de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde.

 

Segundo a corporação, o ex-mandatário sabia da inserção forjada dos dados no sistema do Ministério da Saúde, mantendo-se inerte em relação ao cometimento da fraude.

 

Bolsonaro chegou a prometer apresentar esse documento, mas o acesso sempre foi negado por sua gestão em questionamentos feitos via Lei de Acesso à Informação.

 

"Da minha parte, já falei para minha assessoria, quem quiser meu cartão de vacina, pode olhar", afirmou o então presidente em setembro de 2021. Bolsonaro negou diversas vezes ter tomado a vacina.

 

A PGR (Procuradoria-Geral da República) chefiada por Augusto Aras tentou por várias vezes barrar a investigação contra Bolsonaro, seus assessores e familiares, mas mudou de postura e passou a apoiar a apuração após a chegada de Lula (PT) à Presidência.

 

Entenda como teria ocorrido a fraude dos dados de imunização do ex-presidente:

 

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O que a PF investigou?

 

A PF investiga a atuação de uma "associação criminosa constituída para a prática dos crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas SI-PNI e RNDS do Ministério da Saúde".

 

Segundo a Polícia Federal, os alvos da investigação teriam realizado as inserções falsas entre novembro de 2021 e dezembro de 2022 para que os beneficiários pudessem emitir certificado de vacinação para viajar aos Estados Unidos.

 

"Com isso, tais pessoas puderam emitir os respectivos certificados de vacinação e utilizá-los para burlarem as restrições sanitárias vigentes, impostas pelos poderes públicos (Brasil e Estados Unidos) e destinadas a impedir a propagação de doença contagiosa, no caso, a pandemia de Covid-19", diz a PF.

 

A corporação ainda destaca a ciência, por Bolsonaro, da inserção fraudulenta dos dados no sistema do Ministério da Saúde.

 

"Jair Bolsonaro, Mauro Cid e, possivelmente, Marcelo Câmara tinham plena ciência da inserção fraudulenta dos dados de vacinação, se quedando inertes em relação a tais fatos até o presente momento", diz.

 

 

 

Qual a suspeita?

 

Os investigadores mapearam duas tentativas de inserção de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde. Os dados teriam sido inseridos para constar que o então presidente teria sido vacinado e serem utilizados em viagem aos Estados Unidos, e depois, foram removidos da base.

 

A PF prendeu João Carlos de Sousa Brecha, secretário de Governo em Duque de Caxias (RJ), cidade onde as inserções foram feitas.

 

O deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ), irmão do ex-prefeito de Caxias, Washington Reis, também é alvo da operação. Ele é apoiador de Bolsonaro e teria atuado como intermediador da fraude.

 

A inserção, segundo apuração da Folha de S.Paulo, ocorreu em 21 de dezembro de 2022, no Palácio do Planalto, antes da viagem de Bolsonaro aos EUA. Os dados indicam que o ex-presidente teria recebido duas doses da vacina Pfizer. O ex-mandatário negou fraude e disse que nunca se vacinou.

 

 

 

Quem teve os cartões de vacinação fraudados?

 

Ao menos Bolsonaro, sua filha Laura, Mauro Cid e dois familiares tiveram seus dados de imunização forjados.

 

 

 

O que mudou com a suposta fraude?

 

Conforme as informações divulgadas até agora, com a inserção de dados falsos, Bolsonaro passou a ter em seu cadastro de vacinação dois registros de vacina Pfizer.

 

Entretanto os dados foram retirados da base de imunização do país, segundo a PF, pela chefe da central de vacinação de Duque de Caxias, Cláudia Helena Acosta Rodrigues da Silva.

 

 

 

O que diz Bolsonaro?

 

O ex-presidente falou logo após ser alvo de busca e apreensão e afirmou que o cartão de vacina nunca foi solicitado nos EUA.

 

"Não tomei a vacina. Nunca me foi pedido cartão de vacina [para entrar nos EUA]. Não existe adulteração da minha parte. Não tomei a vacina, ponto final. Nunca neguei isso. Havia gente que me pressionava para tomar, natural. Mas não tomava, porque li a bula da Pfizer", disse o ex-chefe do Executivo.

 

Já à PF ele disse em depoimento que não determinou a inserção de dados falsos na sua carteira de vacinação, nem na de sua filha. Ele também afirmou que só teve conhecimento da adulteração quando esse tema começou a ser divulgado pela imprensa, em fevereiro deste ano.

 

O ex-mandatário disse ainda às autoridades policiais que o tenente-coronel Mauro Cid "sequer comentou sobre certificados de vacina" com ele. Cid foi preso na mesma operação da PF.

 

 

 

O que diz Mauro Cid?

 

O tenente-coronel, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, reivindicou o direito ao silêncio e não respondeu às perguntas da PF durante depoimento. Em depoimento à CPI do 8 de janeiro, em 2023, Cid também disse que se reservaria ao direito de ficar calado.

 

Ele seria questionado sobre a inserção de dados falsos referentes à vacinação de sua família ?sua mulher, Gabriela Ribeiro Cid, e três filhas ? e de Bolsonaro e sua filha, Laura, no sistema do SUS.

 

A defesa de Mauro Cid alegou que não teve acesso a todo o conteúdo da investigação, por isso seu cliente optava pelo silêncio. Sem falar com a polícia nem com a imprensa, Cid saiu 40 minutos depois, novamente em silêncio.

 

 

 

O que diz Gabriela Santiago Cid?

 

A mulher do tenente-coronel, que também é investigada no inquérito, admitiu em depoimento à PF que usou certificado falso de vacinação contra a Covid-19. Ela culpou o marido pela inclusão de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde.