A política brasileira ainda vive em meio aos ecos das eleições presidenciais de 2022. A mais acirrada corrida pelo Palácio do Planalto na história da democracia brasileira nunca deixou de ser pauta nos noticiários, palanques, plenários ou mesmo nos bastidores do poder público e promete ser um tempero importante nas disputas municipais deste ano.
Em Belo Horizonte, no entanto, ainda que os apoios de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) tenham um impacto significativo nos eleitores, estar ao lado de um dos nomes que protagonizaram o embate nas urnas há dois anos não parece ser suficiente para garantir a cadeira de prefeito da capital. Este é o cenário revelado por pesquisa encomendada pelo Estado de Minas ao Instituto Opus, que traz os dados do contexto eleitoral na cidade em março, a pouco mais de seis meses do pleito.
Além de apontar as intenções de voto para prefeito de BH em cenários de 1º e 2º turno, os moradores da capital que responderam ao questionário aplicado pela Opus responderam também sobre como os protagonistas da polarização ideológica vivida no país nos últimos anos podem impactar na escolha do prefeito da cidade. O cenário aponta para Bolsonaro como um cabo eleitoral mais eficiente que Lula, ainda que nenhum dos dois tenha obtido números que possam significar uma vitória nas urnas pelo simples fato de apoiar um candidato.
De acordo com o levantamento, 12% dos entrevistados disseram que votariam em qualquer candidato que Lula apoiasse para a Prefeitura de Belo Horizonte; outros 26,7% afirmaram que poderiam votar no nome apoiado, dependendo do candidato; 23,8% consideraram a posição do petista como irrelevante; e 32,5% alegaram que o suporte do presidente reduz a chance de escolher um concorrente.
Já pelo lado de Bolsonaro, 19,7% afirmaram votar em qualquer nome apoiado pelo ex-presidente; outros 24,5% disseram que o apoio pode ser efetivo, dependendo do candidato; 22,5% avaliaram que a presença do nome do PL no palanque de um pretendente à PBH é irrelevante; e 28,5% consideraram que o suporte do ex-capitão reduz as chances de voto.
A pesquisa EM/Opus foi registrada na Justiça Eleitoral sob o código MG-05905/2024. Ela foi realizada nos dias 12 e 13 de março, ouvindo 600 eleitores de BH presencialmente e com uma margem de erro de 4,1 pontos percentuais.
Ao analisar os resultados do levantamento, o diretor do Instituto Opus Consultoria & Pesquisa, Matheus Dias, destaca que os percentuais de adesão irrestrita ao apoio de Lula e Bolsonaro a nomes que tentam a PBH mostram que os dois últimos ocupantes da Presidência da República podem não ser decisivos no momento de definição do Executivo Municipal em Belo Horizonte.
“O apoio do Bolsonaro é relevante, claro. Assim como o do Lula, mas em nenhum dos dois casos é suficiente para a vitória. Quando a gente olha os resultados da pesquisa, o eleitor que diz votar em qualquer candidato apoiado por Lula, nós estamos falando de 12% e, no caso de Bolsonaro, estamos falando de 19%. Ou seja, são apoios relevantes, com certeza. Mas estão muito distantes de garantir uma vitória no segundo turno”, afirmou Dias.
O pesquisador destaca que os percentuais, tanto de Lula como de Bolsonaro, são maiores quando se avalia a correlação entre voto e apoio de forma condicional, ou seja, eles podem influenciar a escolha, mas não como fator determinante e irrestrito. Para Dias, esse resultado é um dos componentes que mostram que, ainda que a disputa eleitoral em BH seja incipiente, a escolha do prefeito deve pesar outras valências além da ideologia.
“O mais importante vai ser a credibilidade e a reputação do próprio candidato e a conexão que ele tem com o momento que a cidade vive. Se ele consegue ou não levar a cidade para a condição que os eleitores almejam. O apoio é muito importante para que o eleitor preste atenção no candidato. Para que o eleitor busque saber quem Lula está apoiando, quem Bolsonaro está apoiando. Mas, a partir do momento que o leitor prestou atenção no candidato, ele vai avaliar as propostas e se esse discurso não for compatível com os anseios dele, ele não vai votar. E aí quando a gente olha as outras opções da pesquisa a gente vai ver que a grande parte dos eleitores diz que poderia votar, mas depende do candidato”, concluiu Dias.