RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Domingos Brazão passou a acreditar que a vereadora Marielle Franco tinha intenção de prejudicar interesses da milícia após informações repassadas por um infiltrado que teria sido colocado no PSOL, disse Ronnie Lessa em sua delação, segundo a Polícia Federal.
Laerte Silva de Lima se filiou ao partido da vereadora 20 dias após o segundo turno das eleições de 2016, a mando de Domingos, afirmou Lessa. O ex-policial está preso acusado de ser o responsável pelos tiros que atingiram a parlamentar.
Não há informações, nos documentos, de como teria sido a aproximação de Laerte com Marielle, fora sua filiação ao partido.
O conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) Domingos Brazão foi preso neste domingo (24/3), assim como seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ), e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil.
Os três são suspeitos de mandar assassinar Marielle e o motorista Anderson Gomes, além da tentativa de matar a assessora Fernanda Chaves, em março de 2018.
Lessa relatou que a primeira reunião com os irmãos Brazão ocorreu por volta de setembro de 2017, quando foi acertado o assassinato de Marielle. Nessa ocasião, ele teria ouvido a motivação para o crime.
"Ronnie Lessa ouviu de Domingos Brazão que o infiltrado Laerte teria levantado que Marielle pediu para a população não aderir a novos loteamentos situados em áreas de milícia", diz a Polícia Federal, em trecho reproduzido na decisão do ministro Alexandre de Moraes, que determinou a prisão do trio neste domingo.
Laerte foi preso em 2019 com outros suspeitos de integrarem grupo miliciano responsável pela exploração de serviços e cobranças na localidade de Rio das Pedras. Ele foi condenado a sete anos de prisão por organização criminosa no processo, sua defesa nega envolvimento.
Rio das Pedras é o berço da milícia no Rio de Janeiro e área na qual a família Brazão "é eleitoralmente soberana", diz a PF.
As informações repassadas por Laerte a Domingos, segundo Lessa, narravam que Marielle tinha um interesse especial em combater a milícia nas áreas de sua influência.
A Polícia Federal não descarta a possibilidade de o infiltrado ter inventado informações. Nas palavras de Lessa, Laerte teria "enfeitado o pavão".
"Então, mencionou-se que, por conta de alguma animosidade, haveria um interesse especial da vereadora em efetuar este combate nas áreas de influência dos Brazão, dado que seria oriundo das ações de infiltração de Laerte. Nesse momento, ponderou-se a possibilidade de que este poderia ter sobrevalorizado ou, até mesmo, inventado informações para prestar contas de sua atuação como infiltrado", ressalta a PF.
Em sua delação, Lessa disse que Laerte teria levado "os irmãos ao equivocado superdimensionamento das ações políticas de Marielle Franco nesta seara", acrescentaram os investigadores.
Ainda de acordo com Lessa, Laerte monitorava a vereadora. Teria sido de um terminal telefônico dele que o paradeiro da vereadora no dia em que morreu foi passado aos assassinos.
"De acordo com Ronnie Lessa, naquela oportunidade, por volta do meio-dia, ele recebeu uma ligação de Macalé, por meio da qual ele revelou que recebera uma ligação oriunda do terminal vinculado a Laerte. Todavia, ao atender o telefone, Macalé se surpreendeu ao constatar que o interlocutor, na verdade, era Ronald Paulo Alves Pereira, vulgo Major Ronald. Em que pese isso, Macalé indicou a Lessa que Ronald lhe passara a informação de que na noite daquele dia haveria o evento na Casa das Pretas e que Marielle Franco estaria presente."
O major Ronald também foi preso por envolvimento com milícia, na mesma ação em que Laerte foi detido. Ele foi condenado em outubro de 2022 a 76 anos por homicídio e ocultação de cadáver. Atualmente, continua preso suspeito de ser uma das lideranças da milícia da Muzema.
Já Macalé, morto em 2021, é apontado como quem teria chamado Lessa para matar a vereadora.