O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, nessa segunda-feira (25/3), que não há crime nenhum em ter passado duas noites na Embaixada da Hungria, em Brasília. A declaração do ex-presidente ocorre após o jornal The New York Times revelar que Jair Bolsonaro ficou hospedado na embaixada após ter seu passaporte apreendido pela Polícia Federal (PF).
"Porventura, dormir na embaixada, conversar com embaixador, tem algum crime nisso? Tenha a santa paciência, deixa de perseguir, pessoal. Quer perguntar da baleia? Da Marielle Franco? Eu passei seis anos sendo acusado de ter matado a Marielle Franco. Seis anos. Vamos falar dos móveis do [Palácio da] Alvorada que eu fui acusado de desviar?", disse Jair Bolsonaro em coletiva de imprensa, após participar da entrega do título de cidadã paulista à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL).
Jair Bolsonaro também foi questionado sobre o motivo de sua permanência na embaixada, mas disse que não iria responder a pergunta "porque tem muita senhora aqui". Mais cedo, durante evento do PL em São Paulo, o ex-presidente disse que frequenta várias embaixadas pelo país e mantém diálogo com embaixadores.
"Até hoje mantenho relação com alguns chefes de estado pelo mundo. Frequento embaixadas pelo nosso Brasil, converso com embaixadores. Não tenho o passaporte, ele está retido, se não estaria com Tarcísio e Caiado em viagem a Israel", disse.
Bolsonaro na embaixada
O The New York Times divulgou, nessa segunda-feira (25/3), imagens do interior da embaixada onde Bolsonaro teria buscado asilo quatro dias depois de ter seu passaporte confiscado pela Polícia Federal por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Nas imagens divulgadas pelo jornal americano, o ex-presidente parece ter permanecido na embaixada nos dois dias seguintes, acompanhado por dois seguranças e sendo atendido pelo embaixador húngaro e membros da equipe.
Segundo o jornal, a estadia na embaixada sugere que o ex-presidente estava tentando aproveitar sua amizade com um colega líder de extrema direita, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, numa tentativa de evitar o sistema judiciário brasileiro.
O Times analisou imagens de três dias de filmagens de quatro câmeras na Embaixada da Hungria, mostrando que Jair Bolsonaro chegou na tarde do dia 12 de fevereiro e saiu dois dias depois, na tarde de 14 de fevereiro. Durante esse intervalo, ele permaneceu, em grande parte do tempo, fora de vista.
O jornal ainda corroborou as filmagens, comparando-as com imagens da embaixada, incluindo imagens de satélite que mostram o carro em que o ex-presidente chegou estacionado na entrada em 13 de fevereiro.
Ainda conforme o jornal norte-americano, um oficial da Embaixada da Hungria, que pediu para manter o anonimato, confirmou o plano de hospedar Bolsonaro nas dependências do local.
Em nota, a defesa do ex-presidente afirmou que Bolsonaro foi convidado a se hospedar na embaixada e teve várias conversas com autoridades do país.
“Quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos e são, na prática, mais um rol de fake news”, escreve a nota assinada pelos advogados Paulo Bueno, Daniel Tesser e Fábio Wajngarten.