Gleisi Hoffmann em entrevista coletiva -  (crédito:  Roque de Sá/Agência Senado)

Gleisi Hoffmann em entrevista coletiva

crédito: Roque de Sá/Agência Senado

Dirigentes do PT criticaram, em reunião interna nessa terça-feira (26/3), a decisão do presidente Lula (PT) de vetar a realização de atos institucionais em repúdio ao golpe de 1964.

 

Segundo participantes do encontro, a própria presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PR), chegou a apontar a orientação do presidente como uma das causas para o esvaziamento de manifestações convocadas pelo partido no último sábado (23). No entanto, Gleisi havia minimizado a ausência de Lula dos protestos.

 

Integrantes do governo não endossaram a convocatória das manifestações e se distanciaram dos atos -vistos como uma tentativa de resposta à mobilização de bolsonaristas na avenida Paulista, no final de fevereiro.

 

 

 

A crítica à determinação de Lula deve constar em nota do partido a ser divulgada. No esboço do documento, ao qual a Folha de S.Paulo teve acesso, o PT ressalta a defesa da democracia como um valor presente no DNA do partido e declara apoio aos atos em lembrança ao golpe de 1964.

 

"Também resultado dos debates realizados na reunião do Diretório Nacional, às vésperas do dia de memória dos 60 anos do golpe de Estado de 1964, o Partido dos Trabalhadores reafirma seu compromisso com a defesa da democracia no país, valor presente no DNA originário do partido desde sua fundação", diz o comunicado.

 

E continua: "O PT apoiará e participará dos atos e manifestações da sociedade previstos para os dias 31 de março e 1º. de abril em diversos pontos do país, além das atividades organizadas por sua fundação, a Fundação Perseu Abramo, sobre os 60 anos do golpe".

 

Essa declaração de apoio aos atos em memória do golpe não constava no texto que serviria de base aos debates internos do partido. Foi incluída após a reunião de terça.

 

Procurada pela Folha de S.Paulo, a presidente do PT não se manifestou.

 

Nesta quarta-feira (27/3), a liderança do PT na Câmara submeteu à bancada uma declaração em que afirma ser imperativo "recordar e repudiar veementemente esse triste capítulo da história brasileira, em nome da justiça, da memória e da verdade".

 

"Ainda há segmentos na sociedade brasileira, inclusive com presença no Estado, abertamente saudosos dos anos de chumbo, que mantêm práticas autoritárias e truculentas, defendem rupturas democráticas e promovem revisionismo histórico para negar o caráter autoritário, ditatorial e violento do regime militar. A tentativa de golpe ocorrida no dia 8 de janeiro de 2023 enquadra-se nesse contexto", diz a redação.

 

O documento ainda precisa ser submetido à aprovação da bancada do PT. Ele defende ainda que é fundamental "a recriação imediata da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos".

 

A nota da bancada petista afirma que a memória do golpe é crucial para que não ocorram retrocessos.

 

"Não há o que celebrar em 31 de março ou 1º de abril. Relembrar a ditadura é crucial para evitarmos retrocessos e reafirmarmos nosso compromisso inconteste com a democracia, com os direitos humanos e com o Estado democrático de Direito."

 

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Já o comunicado a ser divulgado pela cúpula do PT reafirma a defesa pela punição dos participantes dos ataques às sedes dos três Poderes, ocorridos em 8 de janeiro.

 

"Neste momento em que o ex-presidente (Jair Bolsonaro) acusado de comandar um novo e frustrado golpe de Estado desafia as leis nacionais e mesmo internacionais, o PT reforça a mobilização contra a anistia aos golpistas, exige punição de todos que planejaram, financiaram e organizaram a conspiração golpista e os atentados de 8 de janeiro, sejam civis ou militares. Todos: desde seu comandante, Jair Bolsonaro, aos generais e chefes militares golpistas, empresários e demais envolvidos na conspiração", afirma.

 

A determinação do presidente Lula de evitar eventos oficiais em memória dos 60 anos do golpe militar levou o Ministério dos Direitos Humanos, comandado por Silvio Almeida, a cancelar uma solenidade marcada para 1º de abril.

 

De acordo com pessoas próximas a Almeida, o evento organizado pela pasta ocorreria no Museu da República, em Brasília, e estava previsto um discurso do ministro.