Deslocamento da tropa do general Olympio Mourão entre Juiz de Fora e o Rio, iniciado em 31 de março -  (crédito: Walter Luiz/O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas)

Deslocamento da tropa do general Olympio Mourão entre Juiz de Fora e o Rio, iniciado em 31 de março

crédito: Walter Luiz/O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas

Diversas organizações vão realizar a “Marcha da Democracia” hoje, que fará o caminho inverso ao do general Olympio Mourão Filho há exatos 60 anos, em 31 de março de 1964, que foi a primeira ação que culminou no golpe cívico-militar que durou 21 anos. À frente de 6 mil soldados, Mourão saiu de Juiz de Fora, na Zona da Mata, em direção ao Rio de Janeiro, a fim de destituir o governo de João Goulart. No dia anterior, Jango fez seu último discurso como presidente no Automóvel Clube, na comemoração do 40º aniversário da Associação dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do estado.


O evento de hoje está sendo organizado por grupos diversos, como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o Conselho de Direitos Humanos (CDDH) de Petrópolis, a Ordem dos Advogados do Brasil e ainda as prefeituras de Juiz de Fora, de Petrópolis e de Comendador Levy Gasparian (RJ).

 

 


“Era um desejo da prefeita Margarida Salomão (PT), de Juiz de Fora. Ela dizia que tínhamos que fazer a marcha reversa, a marcha da democracia. Lembrar aqueles que no primeiro momento sofreram com o golpe e que muita gente não conhece a história”, disse Biel Rocha, secretário Especial de Direitos Humanos de Juiz de Fora e membro da comissão organizadora da marcha.

 


Familiares de João Goulart e de pessoas assassinadas, presas ou desaparecidos serão homenageados na cidade mineira. Entre outras homenagens, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) dará o título de Doutor Honoris Causa póstumo a Goulart. A intenção, segundo Rocha, “é prestar homenagem aos familiares daqueles que foram mortos, faleceram ou que estão desaparecidos e também a militares presos em 64 e parlamentares cassados naquele período”.

 


O ex-deputado constituinte Paulo Delgado (PT), formado em Ciências Sociais pela UFJF, vê com bons olhos a homenagem a Goulart, mas teme que a manifestação possa gerar reações indesejadas. “É sempre justo homenagear João Goulart, mas é preciso não andar para trás e ressuscitar fantasmas que nós não queremos”, ponderou.

 


A manifestação vai se concentrar às 7h30 na Cinelândia, no Centro do Rio, local para onde as tropas militares se destinaram em 1964, e começar sua trilha, feita em carros e ônibus, para Minas, às 8h. Estão previstas duas paradas antes de chegar a Juiz de Fora. A primeira ocorre em Petrópolis, que tinha centros clandestinos de tortura e execução de opositores do regime. Lá, devido as fortes chuvas na região, haverá doação de alimento pelos manifestantes, com o apoio da Secretaria de Defesa dos Direitos Humanos e Defesa Civil da cidade. Serão entregues 60kg de leite em pó para crianças desabrigadas.

 


A segunda parada da marcha será sobre a ponte que liga Rio de Janeiro a Minas Gerais. “No município de Comendador Levy Gasparian, o general Olympio Mourão recebeu a informação de que poderia haver resistência das tropas do Rio de Janeiro e encheu de dinamite a ponte sobre o Rio Paraibuna. (...) Terá um encontro simbólico na ponte. Não vamos botar dinamite dessa vez, mas vamos encher de flores e a turma de Minas irá encontrar com os vindos do Rio”, afirmou Biel Rocha, que ressaltou que esse momento irá contar com banda de música e troca de presentes entre mineiros e cariocas.

 


Após percorrer os 180km que separam as duas cidades, os manifestantes irão até a Praça Antônio Carlos, no Centro de Juiz de Fora, onde grupos artísticos e culturais irão recepcionar as caravanas. Os prefeitos de Petrópolis e de Levy Gasparian, Rubens Bomtempo (PSB) e Cláudio Manarino (MDB), respectivamente, estarão presentes, como também os deputados federais Reimont (PT-RJ) e Ana Pimentel (PT-MG), as deputadas estaduais Marina do MST (PT-RJ) e Dani Balbi (PCdoB-RJ) e o deputado estadual Yuri Moura (Psol-RJ).


COMO FOI

 

Em 31 de março de 1964, o general Olympio Mourão Filho, então comandante da 4ª Região Militar, em Juiz de Fora, catalisou os descontentamentos dos militares com o presidente João Goulart e enviou ao Rio de Janeiro 6 mil homens com a missão de destituir o governo. Dias antes da incursão em direção do Rio de Janeiro, o militar se reuniu com o ex-ministro da Guerra Odílio Denys e com o governador de Minas, Magalhães Pinto, para discutir quais ações poderiam derrubar Goulart. No encontro, foi acordado que as movimentações iriam começar em 4 de abril.

 


Em 30 de março, o general prendeu lideranças sindicais e dirigentes de empresas públicas, como José Villani Côters, presidente do sindicato dos bancários; Israel Camargo, diretor dos Correios. Já no dia 31, vereadores eleitos pelo PTB foram presos, assim como professores universitários, advogados e outras lideranças”, lembrou Biel Rocha.

 

 


Mas Mourão decidiu antecipar o avanço em direção ao Rio e deu início ao movimento. O governo federal enviou unidades do 1º Exército para tentar combater os comandados pelo general. Na altura de Areal, no Rio, os dois grupos se encontraram, mas a ordem para repreender os golpistas não foi cumprida e os militares enviados pelo governo se aliaram aos militares que seguiam em direção ao Rio.

 


Em 1º de abril os militares ocuparam várias cidades fluminenses. A movimentação foi apoiada por outros governadores, como Carlos Lacerda (Guanabara) e Adhemar de Barros (SP). Membros da sociedade civil, como empresários, religiosos e imprensa também viram a ação para “evitar a comunistização do país” com bons olhos. Com a insurreição, Goulart deixou a cidade e foi para Porto Alegre, onde o ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, organizava resistência contra os militares. Mas Goulart acabou deposto.