BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em consonância com o veto imposto pelo presidente Lula (PT) a eventos relativos ao aniversário do golpe militar, a data teve menções tímidas de ministros do governo e lideranças petistas nas redes sociais na manhã deste domingo (31).
Nesta data completa-se 60 anos do golpe de 1964, que deu início à ditadura militar marcada por reduções de liberdade, censura, torturas e assassinatos.
No início do mês, o governo orientou ministérios a não realizar nem críticas nem atos em memória da efeméride em meio a um esforço para distensionar as relações com as Forças Armadas e diante da polarização persistente no país. A orientação foi criticada por especialistas, historiadores, familiares de vítimas da ditadura e militantes dos direitos humanos.
Entre os ministros de Lula, apenas Paulo Pimenta (da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) fez uma publicação na manhã deste domingo com menção à ditadura.
"Ditadura Nunca Mais! A esperança e a coragem derrotaram o ódio, a intolerância e o autoritarismo. Defender a democracia é um desafio que se renova todos os dias", publicou ele no X (antigo Twitter).
Ao menos cinco ministros foram às redes sociais durante a manhã, mas só publicaram frases de cunho religioso, alusivas à Páscoa. Foram os casos de Sonia Guajajara (Povos Indígenas), Camilo Santana (Educação), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Marcio França (Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte) e Luiz Marinho (Trabalho).
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O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, nada havia publicado até o fim da manhã deste domingo. O ministério havia planejado pedido de desculpas a vítimas da ditadura e ações para marcar a data, sob o slogan "sem memória não há futuro".
Desde que se tornou ministro, Almeida já se referiu à ditadura militar como "essa página nefasta de nossas histórias [que] não deve ser esquecida para que nunca mais se repita".
O perfil oficial do PT não seguiu a orientação de Lula e fez publicações em que condena a ditadura, além de republicar perfis de parlamentares do partido que se posicionaram.
A presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann (PR), fez neste domingo, até a publicação desta reportagem, postagens relacionadas à Páscoa e uma homenagem a Lula e o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica. Não houve menção à efeméride dos 60 anos do golpe.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), publicou mensagem em que afirma ser "crucial honrar a memória daqueles que sofreram e resistiram durante esse período".
"A busca por justiça e verdade ainda é uma jornada contínua, renovando nosso compromisso em construir um futuro mais justo e democrático", escreveu o deputado.
A ex-presidente Dilma Rousseff, ela própria vítima de tortura no período, também se posicionou, além de mencionar os ataques de 8 de janeiro em Brasília.
"Manter a memória e a verdade histórica sobre o golpe militar que ocorreu no Brasil há 60 anos, em 31 de março de 1964, é crucial para assegurar que essa tragédia não se repita, como quase ocorreu recentemente, em 8 de janeiro de 2023", publicou ela na rede social X.
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Já o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entusiasta confesso da ditadura que já se referiu ao aniversário do golpe como 'dia de liberdade', manteve o silêncio neste domingo. Nas redes sociais, ele postou uma mensagem sobre o domingo de Páscoa.
Bolsonaro já declarou apoio ao torturador da ditadura Carlos Brilhante Ustra, a quem considera um herói nacional. Além de frases golpistas ditas ao longo de sua carreira como político, o ex-presidente é investigado por suposta participação em uma trama golpista para impedir a última posse do presidente Lula.
A orientação de Lula ocorreu dias após o presidente afirmar que prefere não ficar remoendo as consequência do golpe de 1964 porque isso "faz parte do passado" e quer "tocar o país para frente".
"Eu, sinceramente, vou tratar da forma mais tranquila possível. Eu estou mais preocupado com o golpe de 8 de janeiro de 2023 do que com 64. Eu tinha 17 anos de idade, estava dentro da metalúrgica Independência quando aconteceu o golpe de 64. Isso já faz parte da história. Já causou o sofrimento que causou. O povo já conquistou o direito de democratizar esse país", disse.
Segundo pesquisa Datafolha, a maioria dos brasileiros quer que a data que marcou o início de 21 anos de ditadura militar no país seja desprezada. Pensam assim, de acordo com a pesquisa, 63% dos ouvidos em 19 e 20 de março. Veem motivo para celebração 28%, e 9% não sabem responder.