SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) Dez anos depois da deflagração de sua primeira fase, a Operação Lava Jato permanece no debate político do país, com desdobramentos ainda em andamento no Judiciário e discussões sobre medidas tomadas no auge das investigações.



 

Só em Curitiba, foram 81 fases deflagradas até 2021, ano em que a força-tarefa de procuradores na operação foi encerrada. As investigações miraram políticos, operadores financeiros, ex-executivos de estatais e empresários e geraram uma série de acordos de colaboração e de devolução de recursos. 

Relembre personagens, episódios e controvérsias da Lava Jato desde a primeira etapa, em 17 de março de 2014. 

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Cinco alvos 

Lula (PT)

Principal liderança política do país, o hoje presidente foi réu em quatro processos no Paraná e ficou 580 dias preso em Curitiba depois da sentença do caso tríplex, mas acabou vencendo a eleição de 2022.

Eduardo Cunha (ex-MDB)

A Lava Jato foi crucial para tirá-lo da presidência da Câmara, em 2016, em meio à revelação de que tinha conta no exterior. Ficou três anos e meio preso no Paraná.

Michel Temer (MDB)

O emedebista foi preso em 2019 em ação da força-tarefa do Rio de Janeiro dois meses após deixar a Presidência. Acabou detido por poucos dias e posteriormente conseguiu uma sequência de vitórias judiciais.

Fernando Collor

O ex-presidente foi condenado no STF em 2023 em ação derivada da operação sobre pagamentos da empreiteira UTC e aguarda recursos em liberdade.

Sérgio Cabral (ex-MDB)

O ex-governador foi o principal réu do braço da operação no Rio de Janeiro. Ficou seis anos preso e foi condenado a centenas de anos de prisão. Ainda ficha-suja, diz hoje que quer voltar a concorrer. 

Cinco autoridades

Sergio Moro

Titular da Vara Federal de Curitiba responsável pela operação, se tornou o principal símbolo da Lava Jato. Foi ministro da Justiça de Jair Bolsonaro e hoje é senador pela União Brasil-PR, ameaçado de cassação na Justiça Eleitoral.

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Deltan Dallagnol

Foi chefe da força-tarefa do Ministério Público na operação e se tornou a mais conhecida face dos procuradores. Em 2016, produziu um controverso PowerPoint sobre suspeitas contra Lula, pelo qual foi alvo de ação de indenização por danos morais. Eleito deputado federal em 2022, foi cassado na Justiça Eleitoral por alegada violação à Lei da Ficha Limpa.

Teori Zavascki

O ministro do STF foi o primeiro relator da operação e adotou posição em geral favorável às decisões de Curitiba. Morreu em acidente aéreo em 2017.

Marcelo Bretas

Juiz responsável pelo braço da Lava Jato no Rio de Janeiro, protagonizou embates em audiências com o ex-governador Cabral. Está afastado do posto por decisão do Conselho Nacional de Justiça.

Newton Ishii

Conhecido como Japonês da Federal, era agente da PF do Paraná e ficou conhecido por escoltar presos da operação nas inúmeras fases deflagradas a partir de 2014. 

Cinco fases

A primeira

Em 17 de março de 2014, a PF foi às ruas contra uma rede de doleiros a partir de ordem do então desconhecido juiz Sergio Moro. O principal alvo era Alberto Youssef, que já tinha sido preso no escândalo do Banestado, nos anos 2000.

Juízo Final

Em novembro de 2014, a Lava Jato mudou de patamar ao prender chefes de grandes empreiteiras, como a OAS, Camargo Corrêa e UTC.

Erga Omnes

Em junho de 2015, a PF prendeu Marcelo Odebrecht, que era presidente da principal construtora do país, além de chefes da Andrade Gutierrez, ampliando o alcance de suas ações.

Pixuleco

Em agosto de 2015, foi preso José Dirceu, ex-braço direito de Lula e suspeito de receber suborno em contratos públicos. O nome da fase se referia a um suposto apelido de propina.

Aletheia

Em março de 2016, Lula foi levado para depor e sofreu buscas, incendiando o clima político no país, já às vésperas do impeachment de Dilma Rousseff.

Cinco delatores

Paulo Roberto Costa

Preso, o ex-diretor da Petrobras foi o primeiro delator da Lava Jato, em 2014. O acordo dele precipitou uma série de outras delações e investigações. Costa morreu em 2022

Delcídio do Amaral

Primeiro senador a ser preso no exercício do mandato, ele firmou acordo de colaboração meses depois, em 2016. A delação causou alvoroço em Brasília em 2016, agravando a crise no final do governo Dilma

Sérgio Machado

O ex-senador pelo PSDB e ex-presidente da estatal Transpetro gravou em 2016 políticos, como o ex-presidente José Sarney e o então senador Romero Jucá, que disse que era preciso "estancar a sangria" da operação

Marcelo Odebrecht

A prisão do principal empresário alvo da Lava Jato acabou levando o grupo empresarial a fechar o principal acordo de colaboração da operação, firmado em 2016 com autoridades dos Estados Unidos e da Suíça

Antônio Palocci

O ex-ministro disse em depoimento que Lula havia feito um 'pacto de sangue' com a empreiteira Odebrecht. Posteriormente sua delação gerou poucos desdobramentos concretos no Judiciário

Cinco polêmicas

Grampos na cela

Investigação apontou que a cela onde ficava Alberto Youssef na sede da PF no Paraná tinha escutas ilegais. A defesa do doleiro hoje cita o episódio em tentativa de rever o acordo de colaboração que foi firmado há quase dez anos.

Áudios de Dilma

Em março de 2016, Moro tirou o sigilo de telefonemas interceptados da então presidente com Lula, inflando protestos de rua e o cenário pró-impeachment.

Risadas com Aécio

Em 2016, Moro foi fotografado pela Folha em evento confraternizando com o tucano Aécio Neves, à época principal adversário do PT.

Dinheiro para fundação

Em 2019, foi barrada no STF tentativa de criar uma fundação privada com recursos de uma indenização negociada pela Petrobras nos Estados Unidos. No plano dos procuradores, essa entidade administraria um fundo com metade dos R$ 2,5 bilhões pagos.

Delação de Palocci

Moro tirou o sigilo de depoimentos do ex-ministro com acusações ao PT faltando menos de uma semana para a eleição presidencial de 2018.

Cinco descobertas

Patrimônio milionário de ex-executivos da Petrobras

Entre outros casos, o delator e ex-gerente Pedro Barusco se comprometeu a devolver US$ 97 milhões em 2014. Em acordos de cooperação internacional, dados de ex-diretores da estatal também foram encaminhados ao Brasil, e os recursos foram bloqueados.

Sítio frequentado por Lula

A investigação em 2015 chegou a uma propriedade rural que era frequentada pelo petista em Atibaia (SP). Em 2016, reportagem da Folha mostrou que benfeitorias tinham sido pagas pela Odebrecht.

As listas da Odebrecht

Executivos da empreiteira guardavam relação de centenas de pagamentos atribuindo apelidos a políticos em sua contabilidade de caixa dois e de doações oficiais.

Dinheiro de Eduardo Cunha na Suíça

Em 2015, uma cooperação com o país europeu apontou que o então presidente da Câmara dos Deputados mantinha em um banco US$ 2,4 milhões que não tinha declarado no Brasil.

Movimentação de Queiroz

Foi em um desdobramento da Lava Jato fluminense que se chegou à investigação de "rachadinha" no antigo gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia do Rio. A apuração envolvendo o ex-assessor Fabrício Queiroz foi uma das principais dores de cabeça do governo Bolsonaro.

Cinco métodos 

Prisões preventivas

Só em Curitiba foram expedidos ao menos 132 mandados de prisão preventiva (sem prazo e antes de julgamento). Detenções que se alongavam por meses e que eram mantidas nas cortes superiores acabavam levando os acusados a ver nos acordos de colaboração a única saída da cadeia.

Sequência de delações

Os acordos de colaboração premiada foram um dos pilares da Lava Jato, sem os quais as investigações não teriam chegado tão longe. As revelações trazidas por delatores acabaram estimulando outros suspeitos envolvidos a também colaborar, criando um efeito dominó.

Foco na comunicação

Procuradores da operação tinham uma notória preocupação em obter apoio da opinião pública para a continuidade das investigações. Entrevistas coletivas e detalhamento das descobertas por meio da publicidade dos processos ajudavam nessa meta.

Concentração de casos

Os processos e inquéritos da Lava Jato tramitavam no início exclusivamente nas mãos do então juiz Moro, sob alegação de que os casos estavam interligados. Gradualmente, instâncias superiores reviram essa prática, criticada pelas defesas e apelidada de "juízo universal de Curitiba".

Conduções coercitivas

A prática de levar suspeitos para depor de maneira obrigatória foi usada centenas de vezes na operação, inclusive contra Lula, em 2016, até que o STF declarou esse tipo de ação ilegal, caso o alvo não tenha sido intimado para ser ouvido anteriormente

Cinco fases de derrocada

Saída de Moro

Em 2018, a iniciativa de Moro de sair da magistratura para virar ministro de Jair Bolsonaro comprometeu a credibilidade da operação e virou até motivo para a anulação de suas decisões, em 2021.

Envio de casos para a Justiça Eleitoral

Em março de 2019, o STF decidiu que casos da Lava Jato relacionados a caixa de campanha deveriam tramitar na Justiça Eleitoral, não na Justiça Federal. A medida provocou a anulação de uma série de sentenças que já tinham sido expedidas.

Vaza Jato

Em junho de 2019, o site The Intercept Brasil começou a divulgar diálogos de procuradores e de Moro no aplicativo Telegram. As conversas mostravam proximidade entre juiz e acusação e impulsionaram a reversão de antigas decisões no Judiciário.

Soltura de Lula

Lula deixou a cadeia em novembro de 2019, depois que o STF passou a barrar a prisão de condenados que tivessem recursos pendentes no Judiciário. O novo entendimento foi um dos principais reveses da operação.

Fim das forças-tarefas

Em fevereiro de 2021, a Procuradoria-Geral da República encerrou as forças-tarefas criadas exclusivamente para cuidar dos casos da operação no Paraná, no Rio e em São Paulo, em um símbolo do ocaso da investigação

Cinco opositores

Cristiano Zanin

À época desconhecido, o advogado de Lula insistia no enfrentamento com as autoridades da Lava Jato e sofreu derrotas em série nos primeiros anos da operação. Posteriormente conseguiu a anulação de casos.

Gilmar Mendes

O ministro do STF inicialmente adotou tom elogioso e deu aval para causas da operação, mas virou um dos mais ácidos críticos da Lava Jato a partir de 2016. 

Augusto Aras

O procurador-geral indicado por Bolsonaro em 2019 reclamava do poder das forças-tarefas do MPF, extintas em sua gestão, e fez várias críticas públicas ao lava-jatismo.

Prerrogativas

Reunidos em um grupo de WhatsApp, advogados críticos à Lava Jato passaram a se mobilizar contra a operação, a ponto de se tornarem posteriormente uma força com peso no governo Lula

Renan Calheiros

O senador do MDB-AL foi alvo da operação em uma série de inquéritos e posteriormente foi um dos artífices da Lei de Abuso de Autoridade, uma das principais reações políticas à Lava Jato.

Cinco confusões 

Cantoria na CPI

Primeira presa na Lava Jato, a doleira Nelma Kodama provocou críticas em sessão de uma CPI sobre a Petrobras em 2015 ao cantar a música "Amada Amante", de Roberto Carlos, para responder a uma pergunta sobre sua ligação com o doleiro Alberto Youssef.

Ratos na Câmara

Também em CPI, em 2015, um assessor parlamentar protestou soltando roedores na sala do Congresso usada para depoimento do tesoureiro do PT, João Vaccari.

Prisão de Lula

Depois de Moro decretar a prisão de Lula, em 2018, o petista foi para a sede do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo (SP), e apoiadores cercaram o prédio, impedindo que ele saísse. Depois dos tumultos, ele só deixou o local dois dias depois para se entregar à PF

Prende e solta

Em julho de 2018, Lula cumpria pena em Curitiba e obteve um habeas corpus expedido por um juiz plantonista. Moro entrou em ação para evitar a soltura, em imbróglio que gerou uma guerra de decisões na segunda instância da Justiça Federal. O petista acabou não deixando a cadeia naquele dia

Juiz anti-Lava Jato

Em 2023, com a operação já em franca decadência, o juiz federal Eduardo Appio assumiu a titularidade dos casos em Curitiba e despachou uma série de medidas revendo antigas decisões tomadas. Ele foi alvo meses depois de um procedimento disciplinar por causa de um telefonema para o filho de um magistrado e acabou deixando a Vara Federal.

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