FOLHAPRESS - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve uma sexta-feira (15/3) em clima de campanha eleitoral. Em trios elétricos, com apoiadores de verde e amarelo e discursos, Bolsonaro percorreu seis cidades do litoral do estado do Rio de Janeiro, apresentando candidatos a vereador e a prefeito nesses municípios da região dos Lagos.

 

Enquanto isso, em Brasília, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), levantou o sigilo de depoimentos do inquérito que apura tentativa de golpe após as eleições de 2022.

 

Os ex-comandantes da Aeronáutica e do Exército, Baptista Júnior e Freire Gomes, respectivamente, disseram que o então presidente apresentou a eles a minuta do decreto que estabelecia estado de defesa para tentar impedir a posse de Lula (PT). De acordo com Baptista Júnior, Freire Gomes chegou a ameaçar Bolsonaro de prisão.

 

 



 

Há entre aliados do ex-mandatário quem admita preocupação com o que os depoimentos revelaram. A avaliação é a de que a situação de Bolsonaro pode se complicar ainda mais com o avanço das investigações.

 

Seus advogados não se manifestaram sobre o teor dos depoimentos. Mas, reservadamente, auxiliares de Bolsonaro são uníssonos em defender a tese de que discutir estado de defesa, ou golpe, e não concretizá-lo não configura crime, diferentemente dos entendimentos da Polícia Federal e de ministros do STF.

 

Bolsonaro

 

O ex-presidente não mencionou os depoimentos nas redes sociais e focou na turnê eleitoral. Segundo quem o acompanhou, ele evitou falar sobre o STF.

 

"Ele só falou da perseguição que ele e sua família sofrem, porque nunca foi do sistema", disse o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). "Chega a ser emocionante ver como o povo recebe o ex-presidente Bolsonaro, em todos os lugares. Quanto mais perseguido, mais amado", completou.

 

Aliados do ex-presidente afirmam que o avanço das investigações não tem impacto eleitoral. O PL tem a ambiciosa meta de eleger mil prefeitos, com Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como cabos eleitorais.

 

Em suas falas nos trios elétricos, Bolsonaro disse: "Somos maioria", uma expressão amplamente utilizada por ele durante sua campanha e governo. Ele, aliás, destacou a defesa das suas medidas econômicas de 2019 a 2022 e falou em responsabilidade fiscal.

 

"Nas eleições municipais, nós vamos extirpar essa esquerdalha sem vergonha e corrupta que ainda tem no meu Brasil", disse Bolsonaro, diante de uma multidão de verde e amarelo em Saquerema (RJ).

 

A turnê incluiu Maricá, Saquarema, Araruama, Cabo Frio e Búzios. Em Araruama, por exemplo, Bolsonaro apresentou a candidatura de Penha Bernardes, do PL, à prefeitura.

 

As imagens das multidões foram compartilhadas nas redes sociais de bolsonaristas e do próprio ex-presidente, à semelhança das campanhas de 2018 e 2022.

 

No sábado (16/3), Bolsonaro participará do lançamento da pré-candidatura do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) à Prefeitura do Rio de Janeiro. O parlamentar é investigado pela PF no inquérito que apura a existência de uma Abin (Agência Brasileira de Inteligência) paralela no governo de Bolsonaro.

 

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Minuta golpista

 

Na sexta (14/3), após a reportagem da Folha de S.Paulo que revelou que Freire Gomes ligou a minuta golpista a Bolsonaro, o ex-secretário de comunicação da Presidência e advogado Fábio Wajngarten disse ser curioso o fato de o ex-comandante não se recordar das datas de reuniões.

 

"Tem general com memória seletiva.... Recorda-se de vírgulas e frases e palavras, mas não se recorda de datas. Bem curioso. Mais ainda as defesas não terem nenhum acesso à esse depoimento folclórico", afirmou.

 

Depois, após a decisão de Moraes, Wajngarten disse que em nenhum momento ouviu "nada de golpe, nem de prisão, nem de nada". E fez comentário crítico a "bajuladores" que queriam "ganhar atenção", mas que quando são apertados "se escondem". "São notas de 3. [...] Medíocres", disse.

 

Apesar de não citar nomes, as revelações mais duras nos depoimentos tornados públicos nesta sexta foram feitas por militares, ala com quem Wajngarten teve disputas durante o governo de Bolsonaro.

 

A reportagem procurou as defesas dos dez depoentes, além do ex-presidente. Apenas Eduardo Kuntz, advogado dos assessores Tércio Arnaud e de Marcelo Câmara, se manifestou.

 

"Com relação ao coronel Marcelo Câmara, agora todos podem verificar que ficou registrado que ele queria responder as perguntas, mas foi impedido e imposto que ficasse em silêncio. Seguimos aguardando nova data para que seja exercida a sua defesa", disse.

 

"Em relação ao Tércio Arnaud, possível perceber que a sua participação é absolutamente secundária e em absolutamente nada contribuiu ou demonstrou ter participado dos atos objetos da investigação. Seguimos confiantes que não existe espaço para que nenhum deles seja indiciado e, muito menos, transformados em réu quando do oferecimento da denúncia pela PGR", completou.

 

Os advogados do general Estevam Teophilo, do ex-assessor Filipe Martins, do ex-ministro Augusto Heleno, e dos ex-comandantes Almir Garnier (Marinha), Baptista Júnior e Freire Gomes não responderam à reportagem.

 

Já os advogados do ex-ministro Walter Braga Netto e Valdemar Costa Neto disseram que não iriam se manifestar.

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