O governador Romeu Zema (Novo) disse, durante um evento empresarial em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, que a “liberdade de expressão no Brasil está sendo tolhida”. A fala do governador foi uma resposta a um questionamento feito durante entrevista concedida por ele a uma rádio gaúcha sobre o que achava de ter sido chamado a depor pela Polícia Federal (PF), em abril do ano passado, depois de ter dito que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria feito “vista grossa” em relação aos atos terroristas de 8 de janeiro de 2023 com o intuito de se passar por vítima.
Zema disse que foi chamado a depor somente por ter levantado a desconfiança de que a segurança não foi feita adequadamente por “parte de quem deveria estar vigiando e protegendo os prédios” das sedes dos Poderes atacadas em 8 de janeiro. A tese do governador é a mesma defendida pelo ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados investigados pela Polícia Federal por suposta participação na tentativa de golpe de estado naquele dia.
“Eu estava em Belo Horizonte e acompanhei aquilo (o 8 de janeiro) de longe e tomei conhecimento só mais tarde, foi em um dia que eu trabalhei, então fica claro que me parece que a liberdade de expressão no Brasil está sendo tolhida”, afirmou o governador. O governador disse ainda esperar que a sociedade civil e o parlamento se levantem para que o “direito de livre expressão” no país não seja limitado.
“Eles falam tanto que aqueles atos foram antidemocráticos. Antidemocrático para mim é querer calar uma rádio, calar uma TV, calar um podcast, calar alguém nas redes sociais”, afirmou o governador se referindo, de maneira indireta, às ações abertas pelo Ministério Público Federal para investigar emissoras por divulgação de notícias falsas e incitação a atos golpistas. Zema foi um dos que governadores que esteve presente no ato de 25 de fevereiro, convocado por Bolsonaro em defesa, segundo o ex-presidente, da liberdade de expressão.
Na avaliação do governador, o Brasil já tem leis que permitem que as pessoas recorram à Justiça caso se sintam agredidas ou difamadas. “Agora, de antemão, querer controlar o que você pode ou não falar é muito grave e me parece que nós estamos caminhando nesse sentido no Brasil”, afirmou Zema, que se esquivou de dar opinião sobre as conversas e as delações premiadas feitas por integrantes do Exército e aliados do ex-presidente investigados por suspeita de articular um golpe de estado.
Ele disse que não tem acompanhado muito as investigações e que qualquer comentário sobre esse assunto seria suposição de sua parte. “Acho que o bom é termos opinião de quem está acompanhando essas investigações. Seria muito suposição da minha parte eu querer dar opinião sobre algo que eu não tenho tido um bom acompanhamento”, afirmou.
Burocracia
Em outra entrevista, concedida também durante o evento na capital gaúcha, o governador criticou a burocratização, segundo ele, enfrentada pelo empresariado brasileiro, e disse que em Minas tem trabalhado para simplificar “a vida de quem trabalha”.
“Nós temos simplificado a vida de quem trabalha. O empreendedor, o empresário, no Brasil, todo dia, quando ele levanta, ele calça uma bota de chumbo de cinco quilos em cada pé. Em Minas Gerais, nós estamos reduzindo esse peso. Muita coisa que dependia do estado foi feita e muito ainda depende do governo federal que precisa ser feito”, afirmou o governador.
Zema também defendeu a Reforma Tributária e disse que espera que ela contribua para simplificar a vida dos empresários e dar segurança jurídica. “Um dos avanços que eu espero que nós venhamos a ter em breve é o reflexo da reforma tributária, que vai simplificar a vida de quem trabalha e vai fazer com que haja mais segurança jurídica”, afirmou Zema. A Reforma Tributária foi aprovada ano passado pelo Congresso Nacional, mas diversos pontos ainda precisam ser regulamentados pelos parlamentares.
Durante sua visita a Porto Alegre, Zema se encontrou com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB). Ambos os estados discutem com o governo federal a renegociação de suas dívidas. Na terça-feira, eles estarão em Brasília para tratar do assunto com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que promete apresentar para os governadores um modelo menos oneroso para os estados de refinanciamento das dívidas, todas na casa dos bilhões.