Com 163 mil habitantes, a maior cidade do Sul de Minas, Poços de Caldas, está entre os colégios eleitorais mais cobiçados pelos partidos políticos no estado. O município, que nunca havia reeleito um prefeito, rompeu esse costume nas últimas eleições, e o atual chefe do Executivo, Sérgio Azevedo (PSDB), não poderá mais disputar o pleito deste ano. Azevedo vai indicar seu candidato à sucessão, mas até hoje não foi batido o martelo em relação a quem será o escolhido. As movimentações políticas em Poços de Caldas fazem parte da série de reportagens sobre as pré-campanhas nos principais colégios eleitorais mineiros, que o Estado de Minas publica desde 3 de março.

“O mais importante não é o nome. É dar sequência ao trabalho”, afirma o prefeito, que garante estar tranquilo em relação às movimentações de outros pré-candidatos do seu campo de apoio. A meta de Azevedo, segundo ele, é garantir a permanência de seus aliados no comando da cidade aos moldes de Extrema, cidade vizinha, que mantém há 28 anos no poder o mesmo grupo político. “O que garante a continuidade do trabalho e ajuda no crescimento da cidade”, defende.



Manobra

Enquanto o principal cabo eleitoral mantém em suspense o nome de seu candidato, o MDB aposta alto na tentativa de viabilizar o nome do ex-prefeito de Caldas, também no Sul de Minas, Ulisses Guimarães, em contraponto ao grupo governista. Ele assumiu na semana passada a vaga do presidente do MDB mineiro na Câmara dos Deputados, Newton Cardoso Júnior, para tentar se cacifar e se tornar conhecido junto ao eleitorado de Poços.

Para garantir a ida de Guimarães para a Câmara seu partido teve de fazer uma manobra política. Newton Cardoso Júnior se licenciou por quatro meses e seu primeiro suplente, Fábio Ramalho, abriu mão da vaga. A estrutura do gabinete de Newton Júnior, filho do ex-governador Newton Cardoso, permanece a mesma, mas quem aparece na tribuna ou em reuniões com vereadores e votações da Câmara é Guimarães, médico veterinário que presidiu a cidade vizinha de Caldas, entre 2013 e 2018.

Ele deixou a administração na metade do segundo mandato para concorrer a uma vaga na Assembleia Legislativa e nas eleições passadas tentou uma cadeira na Câmara dos Deputados, sendo o terceiro mais votado da cidade, mas ficou na suplência. Procurado pela reportagem, o deputado em exercício não retornou o pedido de entrevistas.

 

Alinhados

No campo alinhado ao prefeito, está o secretário de governo da prefeitura, Paulo Ney (PSDB), cujo nome é apontado como o preferido do prefeito. Azevedo, no entanto, nega, que ele já seja o escolhido e afirma apenas que se for, Ney terá total condição de o representar na sucessão. “Ele está comigo há oito anos e conhece muito bem a cidade e a administração”. Ney não retornou o pedido de entrevista.

Mas o prefeito destaca ainda outros nomes, como o secretário de Obras, José Benedito Damião (PSDB), José Carlos Vieira, diretor do Departamento Municipal de Energia (DME), o presidente da Câmara, Douglas Dofu (União), a vereadora Regina Cioffi (PP) e o vereador Marcelo Heitor (PL). O prazo máximo para registro de candidaturas vence no dia 15 de julho. O prefeito garante que desse grupo sai somente um candidato, mas as movimentações são no sentido contrário.

Regina Cioffi, médica, primeira mulher a presidir a Câmara na cidade e uma das duas representantes do sexo feminino no Legislativo municipal, afirma não saber ainda se concorrerá sem o apoio do prefeito, caso não seja a indicada. Ela foi candidata a deputada estadual e a primeira mulher a presidir a Santa Casa da cidade.

 

 

“Sou uma desbravadora”, afirma a pré-candidata que diz aguardar com serenidade a decisão se terá ou não o apoio do prefeito. Caso saia candidata, independente desse aval, poderá contar com o apoio do Novo, partido do governador Romeu Zema, articulado pelas lideranças do PP mineiro, entre elas o secretário da Casa Civil, Marcelo Aro.

Questionada se poderá disputar independente desse apoio, já que seu partido não é federado com a legenda do prefeito, ela diz que só vai tomar essa decisão, após a definição do nome. “Sou uma desbravadora. E sou também uma pessoa de grupo”, afirma a pré-candidata.

 

Bolsonarismo

O PL também investe na cidade já que faz parte dos planos da legenda lançar candidaturas nas cidades acima de 100 mil habitantes. Recentemente a maior liderança do partido no estado, o deputado federal Nikolas Ferreira, esteve pessoalmente na cidade para lançar Marcelo Heitor como pré-candidato em cerimônia que contou com a presença do prefeito. O vereador recentemente deixou o PSC para se filiar ao PL e assumiu o comando da legenda no município de olho na disputa deste ano.

O prefeito diz que ele é de seu campo político, mas as pretensões do partido são ambiciosas e a legenda aposta na força bolsonarista para se eleger. As apostas são de que ele será candidato com ou sem o aval do prefeito. O vereador não respondeu ao pedido de entrevista.

 

Mobilização

No campo de oposição ao prefeito, as articulações giram em torno do ex-prefeito da cidade, Eloísio do Carmo Lourenço (PSB). O ex-prefeito tenta unir as forças de centro-esquerda em torno de sua candidatura para fazer frente aos candidatos já postos, todos, segundo ele, alinhados ao governo Romeu Zema ou às forças bolsonaristas. Em sua avaliação, o grupo governista deve sair cada um para o lado e não coesos como o prefeito defende.

“Nossa intenção é unir a centro-esquerda”. Ele costura para ter apoio da federação formada pelo PT, PV e PCdoB. Mas, segundo ele, as legendas estão debatendo internamente seus nomes enquanto as lideranças partidárias discutem também.

Também do lado da oposição, mas da ala mais à direita, está o jornalista Jaderson Rodrigues, que mantém um canal de notícias policiais na cidade, que já se lançou como pré-candidato à prefeito pelo PMB. Jaderson não atendeu a reportagem. Outro pré-candidato é o empresário e antigo aliado do prefeito, o ex-secretário de Serviços Públicos Thiago Biagioni, que pode disputar pelo PMN, que não foi localizado para dar entrevista.

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