O delegado Rivaldo Barbosa, que havia sido nomeado chefe da Polícia Civil um dia antes do do assassinato de Marielle Franco, em 14 de março de 2018, na época consolou a família da vereadora.

Agora, ele é suspeito de ter usado o cargo para proteger os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e impedir que as investigações chegassem aos dois - hoje apontados pelo inquérito da Polícia Federal como supostos mandantes do crime.

Tanto os irmãos Brazão quanto Rivaldo Barbosa foram detidos preventivamente neste domingo (24/3), na operação da Polícia Federal que busca chegar a quem ordenou a morte da vereadora. Os Brazão negam qualquer participação no caso. A BBC News Brasil ainda não conseguiu contato com a defesa de Barbosa.

Desde 2008, Barbosa é o quarto ex-chefe da corporação a ir para a cadeia.

Graduado em direito pela UniSuam em 1997, Rivaldo Barbosa de Araújo Júnior cursou MBA em Inteligência e Estratégia na Universidade Salgado de Oliveira e é professor de Direito Penal.

Está no serviço público estadual desde 2003. Projetou-se como delegado nos anos 2010, quando foi diretor da Delegacia de Homicídios, de 2012 a 2015. Sua atuação à frente de uma equipe reforçada, nos governos de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, resultou em aumento na solução de casos de assassinato no Rio.

Antes, Barbosa fora subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança (Seseg), de 2008 a 2011, além de vice-diretor da Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos (DFAE) e chefe da Assessoria de Planejamento.

Barbosa foi nomeado chefe da Polícia Civil durante a intervenção federal da segurança pública do Rio de Janeiro, decretada pelo então presidente Michel Temer em 2018 após uma explosão de crimes durante o Carnaval.

 



 

Durante a primeira fase das investigações do caso Marielle (o delegado deixou a chefia da Polícia Civil no Rio em dezembro de 2018), ele garantiu que haveria empenho na apuração e que o crime não ficaria impune.

O então chefe de Polícia se opôs à federalização das investigações sobre o duplo homicídio. A medida fora pedida pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que argumentou que, na esfera estadual, havia risco de contaminação das apurações e obstrução de Justiça.

"A Polícia Civil está trabalhando muito para dar uma resposta", disse Barbosa durante a inauguração da Delegacia de Combate a Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na Lapa, em 13 de dezembro de 2018.

"Assim como conseguiu no caso da juíza (Patrícia Acioli), que tentaram federalizar, e a Polícia Civil do Rio de Janeiro deu uma resposta; no caso Amarildo, que tentaram federalizar, e a Polícia Civil também deu resposta. E no caso Anderson e Marielle, a Polícia Civil está trabalhando muito para dar uma resposta."

Em 27 de maio de 2020, o pedido foi rejeitado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

'Isso diz muito sobre o Rio de Janeiro'

Na época deputado estadual pelo PSOL, o mesmo partido de Marielle Franco, o hoje presidente da Embratur, Marcelo Freixo, comentou neste domingo a prisão de Barbosa.

"Foi para Rivaldo Barbosa que liguei quando soube do assassinato da Marielle e do Anderson e me dirigia ao local do crime", declarou Freixo em postagem no X (ex-Twitter).

"Ele era chefe da Polícia Civil e recebeu as famílias no dia seguinte junto comigo. Agora Rivaldo está preso por ter atuado para proteger os mandantes do crime, impedindo que as investigações avançassem. Isso diz muito sobre o Rio de Janeiro".

Freixo não estava sozinho na reação.

"A gente está aí um pouco surpresa", disse à GloboNews a irmã de Marielle, ministra de Igualdade Racial, Anielle Franco, ao comentar as três prisões deste domingo. "A gente está, enfim... É muita coisa que passa na nossa cabeça enquanto família."

Mariete Silva, mãe de Marielle, seguiu linha semelhante. "A maior surpresa nisso tudo foi o nome do Rivaldo", disse. "Minha filha confiava nele, no trabalho dele."

"Foi um homem que falou que era uma questão de honra para ele elucidar esse caso", declarou ela à GloboNews.

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