As prisões dos irmãos Chiquinho Brazão (deputado federal) e Domingos Brazão (conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro) e do ex-chefe da Polícia Civil do RJ Rivaldo Barbosa, neste domingo (24/3), acusados de serem os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, segundo a delação de Roni Lessa, parecem indicar que o caso chegou ao fim. Contudo, em entrevista ao Correio nesta segunda-feira (25/3), a ex-deputada estadual fluminense Cidinha Campos, comunicadora da Super Rádio Tupi, defendeu a continuidade das investigações ao dizer que "o que ainda tem para se descobrir, caso queiram descobrir, é uma montanha de sujeira”, e afirmou que há uma série de crimes que podem ser atribuídos ao Clã Brazão: “Marielle não foi sua primeira vítima”.
“Me parece que o inquérito é conduzido no sentido de ‘não para aí’. Tem mais coisa a ser desvendada, mais bandidos envolvidos e nós queremos saber quais e por quê se envolveram. O Brazão (Domingos) parece que já está claro porque se envolveu, ele se envolvia em tudo que pudesse. Não se importava de matar desde que tivesse algum lucro, e foi disso que ele correu atrás”, reforçou.
“Só que ele não esperava que, de repente, um cara da corja dele, que é o (Roni) Lessa, fosse fazer a delação e, em troca de alguns anos de liberdade, entregasse de bandeja a cabeça dele. Eu acho que é só o começo, eles têm mais. Eu sei de outras mortes que podem ser atribuídas ao Brazão. Porque ele já vinha, antes, nessa pegada de mandar matar, de ameaçar. Tem algumas pessoas ligadas a ele que morrem subitamente assassinadas. Então tomara que a polícia pegue e desvende isso. Honestamente, eu acho que Marielle não foi sua primeira vítima”, alegou a ex-deputada.
Cidinha contou que, enquanto estava na vida política, denunciou a Domingos Brazão a várias instituições públicas sem que fosse levada a sério por nenhuma. "Eu denuncio Domingos Brazão desde 2004. Fui ao COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) levar a denúncia de declarações fraudulentas no seu imposto de renda, na sua vida fiscal. Eu fui ao Ministério Público, à Justiça, eu fui a todo lado procurar alguém que acreditasse em mim, aí vem todo mundo e acredita no Lessa. É triste a gente dizer isso, mas parece que, no país, você só é acreditado sendo bandido. O Lessa teve o benefício da delação premiada e foi ouvido por todo mundo. Eu não tive o benefício do voto para ser ouvida por ninguém", lamentou.
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A ex-deputada relatou que, por vezes, foi ameaçada por Domingos Brazão dentro das dependências da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e que nem o próprio presidente da Alerj, à época, acatou as denúncias. Apesar disso, afirmou não ter medo de morrer, mas sim da “covardia”.
“Toda hora, parecia que o prazer dele era me ameaçar. Toda vez que eu cruzava com ele nos corredores da Alerj, ele me dizia: ‘Sua filha disso e daquilo, eu vou te matar’. Era uma brincadeira para ele, até o ponto que eu já nem levava mais a sério. Mas teve um momento em que isso se tornou muito agudo. Quando a Marielle foi morta, ele ficou raivoso, porque ele temia que eu descobrisse, na frente dos outros, que ele estava envolvido. Então, passou a me ameaçar mais de perto e ninguém dava ouvidos àquilo que eu falava. Eu falava no plenário da Alerj que ele me ameaçava e ninguém ligava. Falei na sala do presidente da Alerj, ele invadiu a sala para me agredir e ninguém tomou providência nenhuma. Não tenho medo de morrer, eu tenho medo da covardia. Uma coisa é você morrer, outra coisa é ser vítima de uma covardia, o jeito que vão te matar”, lamentou.
Cidinha disse ficar horrorizada frente ao que passou a família de Marielle Franco, e disse que a prisão e o envolvimento de Rivaldo Barbosa, a quem conhecia, é mais um exemplo da covardia de agentes públicos brasileiros.
“Eu fico horrorizada de ver ao que essa família foi submetida, no país, pela covardia de agentes públicos. Não se pode esquecer que nós estamos falando de dois deputados, o (ex) deputado estadual Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, que é deputado federal, e ainda um agente público que é o delegado. Veja quanta covardia, tanta gente importante envolvida numa barbaridade dessa. Eu não conhecia a Marielle, mas o Rivaldo eu conhecia, e muito bem. Ele frequentava meu gabinete, ele ia lá — eu não sei se à procura de informação. Me parecia que ele estava em busca da verdade, mas não. Ele estava procurando alguma coisa que pudesse entregar de bandeja”, relatou.
*Estagiário sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza