O tempo fechou no Partido dos Trabalhadores (PT) em Minas Gerais. Discordâncias sobre o direcionamento da legenda têm colocado correligionários de lados opostos, indicando um racha. De um lado, a representante da terceira maior cidade de Minas Gerais, a prefeita de Contagem, Marília Campos, também um dos nomes mais proeminentes do PT no estado, diz estar chateada com o afastamento do partido com a população, os movimentos sociais e as prefeituras. Do outro, o presidente da sigla em Minas Gerais, deputado estadual Cristiano Silveira, defende as ações do PT e diz que nunca foi procurado pela prefeita para discutir a relação dela com a sigla.
Marília não atribui o seu descontentamento a uma “racha” na sigla e adianta: não tem pretensão de deixar o partido, apesar de ter recebido diversos convites, segundo ela. “Eu luto para fortalecer o PT”, afirma. No entanto, recebeu duras críticas diante do seu posicionamento.
Para a chefe do Executivo de Contagem, o PT se distanciou de suas origens. Há mais de 40 anos no partido, ela se vê no direito de criticar as mudanças de curso. “Como uma militante histórica, e com as convicções que eu tenho, não só tenho o direito, mas o dever de estabelecer as críticas de acordo com as convicções que eu tenho e que foram educadas, inclusive, nessa relação que eu tenho histórica com o PT”, declarou Marília ao Estado de Minas.
“O que eu tenho com o PT é um distanciamento da estratégia política, da relação que o partido tem com os governos municipais de não dialogar, de não estabelecer essa relação. Talvez porque o perfil das direções e o perfil das representações políticas são muito pouco universais, são muitas representações de segmentos”, disse ela também.
Na opinião da prefeita de Contagem, o PT tem se distanciado das lutas dos movimentos sociais e dos sindicatos, mas a sua principal crítica é em relação ao distanciamento municipal. “O PT já teve um número de prefeituras muito grande. Quantas prefeituras tem o PT hoje? Em Minas Gerais, o PT tem duas grandes prefeituras, Contagem e Juiz de Fora. Nós já governamos Belo Horizonte, Ipatinga, várias cidades grandes e médias, não só em Minas. Isso é um sinal de enfraquecimento”, ressaltou.
Marília disse ainda que faltam vozes no Legislativo comprometidas com o municipalismo, que, na avaliação dela, é quem tem a relação direta com o povo e com a população. “O PT erra na sua estratégia para fazer o debate de qual é a melhor política”.
“Não tem racha. Eu sou uma pessoa que tem convicções e estou numa fase da minha vida que eu estou disposta a segurar as minhas convicções doa a quem doer. Eu tenho uma obrigação com a minha cidade, se alguém penaliza minha cidade eu vou gritar, porque é com ela que eu tenho compromisso”, disse.
“SEM INFORMAÇÃO”
O presidente do PT reagiu ao posicionamento de Marília Campos em relação à crítica de afastamento do partido. Cristiano Silveira diverge das declarações da prefeita e afirma que ela está distante do partido e que não foi procurado em nenhum momento para discutir a relação dela com a legenda.
“Eu acho que a prefeita Marília está muito distante do partido porque ela está sem informação. Nós temos feito vários eventos com os nossos prefeitos, sou procurado por eles permanentemente para conversar sobre estratégia, eleição. Há um movimento de vinda de importantes atores, de consolidação dos nossos atuais prefeitos que vão estar aí em torno desse processo. Então, acho que Marília está falando somente por ela e tenta criar aí uma situação de generalidade”, disse Cristiano Silveira ao Estado de Minas.
“Outra coisa são as agendas que a gente sempre tem feito com os movimentos sociais, movimentos populares, as lutas sociais, especialmente aqui na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Então, acho que, a Marília, se for o desejo dela, está precisando voltar a militar mais no partido”, emendou o presidente do PT estadual.
Ao afirmar que há certo distanciamento de Marília Campos com o partido, Cristiano Silveira ainda questiona o interesse das críticas da prefeita. “Eu duvido muito das intenções dela em realmente querer discutir a relação dela com o partido. Até porque eu, como presidente do partido, nunca fui procurado por ela, por interlocutor, no sentido de solicitar, por exemplo, uma agenda com a direção do PT de Minas. Então, ela quer fazer uma discussão de relação com o partido na imprensa, e eu duvido muito dessas intenções. O partido está curioso para saber qual a intenção dela com esse jogo. Não está claro para nós o que ela quer”, ressaltou o presidente do PT-MG.