Líder do governo, João Magalhães (MDB) observa votação de vetos ao lado de Carlos Henrique (Republicanos), líder da maioria. Em primeiro plano, Professor Cleiton (PV), membro da oposição, acompanha manutenção das decisões de ZEma -  (crédito: Henrique Chendes/ ALMG)

Líder do governo, João Magalhães (MDB) observa votação de vetos ao lado de Carlos Henrique (Republicanos), líder da maioria. Em primeiro plano, Professor Cleiton (PV), membro da oposição, acompanha manutenção das decisões de ZEma

crédito: Henrique Chendes/ ALMG

Durou pouco o retorno das atividades no plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Após mais de um mês sem votar qualquer projeto, os deputados estaduais quebraram brevemente a inatividade para votar três dos seis vetos de Romeu Zema (Novo) que trancam a pauta da casa na noite de terça-feira (2/4).

 

A volta dos trabalhos mal foi suficiente para tirar a poeira das cadeiras dos parlamentares, já que nesta quarta (3/4), as três negativas restantes voltaram a sobrestar a agenda e, sem o quórum mínimo, a sessão não foi iniciada.

 

Até aqui, o saldo é positivo para o governador, já que suas decisões foram mantidas no Legislativo. As próximas semanas serão marcadas por negociações para a votação do restante dos temas.

 

Antes da terça-feira, a última sessão em plenário na Assembleia havia acontecido no fim de fevereiro. A data marca o fim do prazo de 30 dias, determinado para análises de vetos do Executivo. Passado este período, as decisões do governador passam a sobrestar a pauta, impedindo que seja apreciado qualquer outro tema.

 

 

Na terça-feira, os deputados formaram maioria para manter três vetos. O mais controverso deles e gerou embates entre a oposição e a base de Zema era a proposta do deputado Marquinhos Lemos (PT), que isentava de cobrança os motoristas que passam mais de uma vez na mesma praça de pedágio em rodovias estaduais. A medida visava aliviar o bolso de quem transita repetidamente entre cidades, como produtores rurais.

 

O Projeto de Lei (459/2019) só valeria para novos contratos e foi aprovado por unanimidade na Assembleia após acordo entre a oposição e a base governista.

 

Apesar da negociação entre os parlamentares, Zema vetou a proposta e justificou dizendo que cabe ao Executivo e às concessionárias determinar a regra de cobrança das tarifas e que a medida tornaria futuras concessões menos atrativas.

 

O veto foi mantido por 33 votos a favor e 24 contrários. Para derrubar uma negativa do governador são necessários 39 votos da totalidade da Assembleia (77 parlamentares).

 

O líder da oposição, deputado Ulysses Gomes (PT), afirma que o veto vai “punir o povo mineiro” e apontou para o abandono das rodovias estaduais.

 

“Esse projeto fazia justiça, principalmente com a população que mora próximo às praças de pedágio e precisa passar por esses locais de cobrança várias vezes”.

 

Já o líder do governo, deputado João Magalhães (MDB), afastou as especulações de racha na base do governador e agradeceu aos colegas pelo quórum.

 

“O governo conseguiu manter três vetos em três projetos distintos. Eu quero fazer um agradecimento à nossa base, que se mostrou presente votando coesa com o governo”.

 

O período sem votações na Assembleia foi marcado por um cabo de guerra entre base e oposição, que usaram ora de táticas de obstrução da pauta, ora de limitar o quórum para evitar que os vetos fossem analisados enquanto as negociações aconteciam nos bastidores.



Um dos outros vetos mantidos pelos deputados é uma negativa parcial à Proposição de Lei 25.465, de 2023, que dispõe sobre a proteção do consumidor, especialmente idosos, analfabetos ou doentes, para oferta de concessão de crédito consignado. Zema argumenta que os dispositivos barrados são inconstitucionais e contrários ao interesse público.

 

Na mesma proposição, foi vetado um dispositivo que limitava o saque vinculado ao limite do cartão de crédito a terminais eletrônicos em agências de instituições financeiras, o que excluiria bancos digitais. O veto foi mantido por 40 votos a favor e 18 contrários.

 

O último veto incide sobre a Proposição de Lei 25.611, que garantia a isenção da cobrança de taxas de arquivamento e cancelamento de determinados títulos em cartório. Zema justificou dizendo que a isenção prejudicaria os cartórios de protesto, especialmente os de pequenas cidades. O veto foi mantido por 49 votos, com apenas 1 contrário.


Vetos que trancam a pauta

Outros três vetos do governador ainda trancam a pauta, que está desde o dia 25 de fevereiro sem receber um Projeto de Lei para apreciação. As negativas tratam de temas caros para a oposição e teriam sido aprovadas com acordo entre os deputados.

 

O veto 11/2024, vincula os recursos ao Fundo Estadual de Assistência Social (Feas) na Lei Orçamentária Anual (LOA). O dinheiro seria proveniente da alíquota adicional de ICMS que incide sobre os produtos considerados “supérfluos”.

 

O governador argumentou que a gestão do fundo é definida por uma lei de 2011, que estabeleceu a responsabilidade da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), condicionando a liberação de recursos à aprovação de grupo coordenador.

 

Já o veto 10/2024 incidiu sobre o dispositivo que garantiria a política no Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) até 2027, atribuindo ao Feas a gestão de recursos destinados ao atendimento das despesas não previstas no FEM.

 

Também foi vetado a Lei Complementar 180, que dispõe sobre a imunidade tributária na contribuição previdenciária em razão de doença incapacitante.

 

A matéria beneficia os servidores aposentados e pensionistas, vinculados ao regime próprio de previdência social, no entanto, dispositivos que estendiam a matéria para os militares foram vetados.

 

As negativas precisam ser analisadas em turno único, em até 30 dias depois que a mensagem do governador é acolhida pela mesa diretora da Assembleia.

 

Caso o prazo seja perdido, o veto entra na chamada “faixa constitucional”, e passa a ter prioridade sobre outras matérias da pauta - nada pode ser apreciado enquanto o plenário não se manifestar sobre a questão.