SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com a iminente indicação da deputada estadual Valéria Bolsonaro (PL) para a Secretaria da Mulher, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mantém o alinhamento ideológico ao bolsonarismo em uma pasta cujas questões têm sido centrais para a direita.
Valéria deve ser nomeada no lugar de Sonaira Fernandes (PL) até sábado (6), prazo para que titulares das secretarias que queiram concorrer na eleição de outubro se desvinculem dos cargos.
Sonaira filiou-se recentemente ao PL, em evento que contou com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e do próprio Tarcísio. Eleita vereadora em 2020, ela havia se licenciado da Câmara Municipal integrar o governo, e em outubro deve concorrer a um novo mandato. Seu nome também é cotado para a vice na chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Também deve se desvincular do cargo o secretário de Desenvolvimento Social, Gilberto Nascimento Jr., mas seu substituto ainda é uma incógnita. O nome do deputado estadual Altair Moraes (Republicanos) voltou a aparecer como possibilidade para assumir um cargo no governo. Pessoas do entorno de Tarcísio, no entanto, negam que ele seja a principal opção. O deputado também afirmou, via assessoria, que não foi procurado para tratar do assunto.
Valéria Bolsonaro, 54, adotou o sobrenome ao se casar com um parente distante do ex-presidente e está no segundo mandato na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). Assim como Sonaira, ela tem uma visão conservadora sobre gênero e família, temas morais que têm sido muito explorados por políticos de direita para mobilizar suas bases.
A deputada não é tão próxima de Bolsonaro, mas fez campanha ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) em Campinas (SP). Valéria foi professora por mais de 20 anos na rede municipal da cidade.
Na Alesp, ela apresentou projetos de lei sobre a questão das mulheres, como o que defende a inclusão no Calendário Oficial do Estado do "Dia da Marcha em Defesa da Mulher". Ela também é coautora de um projeto para banir a chamada "ideologia de gênero" nas escolas ?a direita costuma insistir que crianças têm sido apresentadas a conteúdos impróprios sobre gênero e sexualidade.
Valéria é próxima de Tarcísio e chegou a integrar em 2022 a equipe de transição do governo, na área da educação. Ela participou ainda de alguns eventos na Secretaria da Mulher. Sua indicação também é uma forma que o governador encontrou para contemplar o PL, partido que tem buscado sua filiação.
Membros da Assembleia alinhados ao bolsonarismo, porém, afirmam que a indicação de Valéria não atende à demanda antiga por mais espaço no governo. Eles argumentam que a nomeação é pessoal do governador, não da bancada.
A pasta também não tem grande destaque, considerando que seu orçamento é bastante enxuto. Assim, os bolsonaristas consideram que a indicação da deputada serve mais como um simbolismo do alinhamento do governo a um pensamento conservador do que a uma plataforma para o avanço de grandes políticas públicas.
Valéria não confirma publicamente que assumirá o cargo, mas sua ex-chefe de gabinete na Alesp, Raquel Araujo Berti, já foi nomeada como secretária-executiva da pasta, o que aponta que as negociações estão avançadas.
A indicação acontece na esteira de gestos de Tarcísio à direita, que serviram para pacificar a relação que foi marcada por atritos no primeiro ano do mandato. Ele irritou os seguidores do ex-presidente e até o próprio com uma postura considerada moderada demais e com ações e falas que foram interpretadas como acenos à esquerda.
Desde então, o governador se cacifou como o principal herdeiro de Bolsonaro, que está inelegível, e aparece como o mais cotado para a disputa presidencial de 2026 no campo da direita ?Tarcísio ainda não decidiu se tentará a Presidência ou a reeleição.
Os agrados à direita vão desde a presença em ato de apoio a Bolsonaro na avenida Paulista até a declaração de que não está "nem aí" para as denúncias de abusos cometidos pela Polícia Militar no litoral de São Paulo.