SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), voltou a apresentar no exterior a narrativa de que a democracia brasileira está sob ataque do Poder Judiciário e que seu pai e os apoiadores dele foram censurados.

 

Eduardo participou nesta sexta-feira (26) da CPAC (Conferência de Ação Política Conservadora) na Hungria. O evento, criado há cerca de 50 anos nos Estados Unidos, chegou em 2022 ao país, que se tornou um laboratório para a direita global sob a administração do primeiro-ministro Viktor Orbán. A conferência reúne importantes nomes da direita americana, europeia e húngara.

 

 



 

Em sua fala, o deputado afirmou que pessoas do entorno de Bolsonaro estão presas "por um golpe de Estado que nunca foi iniciado ou planejado".

 

Ele também disse que o ex-assessor Filipe Martins, o ex-diretor da PRF (Polícia Rodoviária Federal) Silvinei Vasques, o tenente-coronel Mauro Cid e o coronel Marcelo Câmara estão presos há meses aguardando julgamento. Sem apresentar provas, afirmou ainda que eles foram torturados (mas não apresentou fatos concretos sobre supostos abusos físicos ou psicológicos) para dizer qualquer coisa que implicasse Bolsonaro no "golpe de estado fantasioso".

 

 

O filho do ex-presidente vem coordenando uma ofensiva internacional para angariar apoio a alegações de perseguição e censura no Brasil. Além de visitas frequentes a Washington, ele esteve no início do mês em Bruxelas (Bélgica), em missão ao Parlamento Europeu.

 

Nesta sexta, Eduardo Bolsonaro citou ainda Daniel Silveira, ex-parlamentar preso por ordem do Supremo Tribunal Federal após ter feito ameaças a integrantes da corte e descumprido medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes. "Isso é uma democracia? Numa democracia se prende um parlamentar por falar?", questionou.

 

 

O filho do ex-presidente também citou os ataques antidemocráticos do 8 de janeiro, afirmando que naquele dia não houve disparos e que nenhuma arma foi apreendida. Ele defendeu que a maioria dos manifestantes estava acampada de forma pacífica em frente ao QG do Exército, a quilômetros de distância dos prédios públicos invadidos. E disse, ainda, que as pessoas estavam revoltadas com o processo eleitoral de 2022.

 

Citando as decisões judiciais que impediram Bolsonaro de transmitir lives eleitorais em espaços exclusivos do presidente da República e de usar na sua propaganda eleitoral imagens dos eventos oficiais do 7 de Setembro, Eduardo afirmou que o pai foi barrado de promover sua campanha pela reeleição e que as pessoas foram impedidas de apoiá-lo. "E eles querem nos fazer acreditar que isso é uma democracia."

 

O parlamentar falou ainda sobre o dono do X, Elon Musk, afirmando que ele mostrou para todo mundo como foi nos bastidores as conversas entre o ministro Alexandre de Moraes e a plataforma durante e depois das eleições de 2022.

 

 

No dia 17 de abril, uma comissão do Congresso dos EUA publicou uma série de decisões sigilosas de Moraes sobre a suspensão ou remoção de perfis nas redes sociais. As decisões foram obtidas a partir de intimação parlamentar feita ao X de Musk. Quando defendeu o impeachment do ministro, o empresário prometeu que publicaria em breve ordens de Moraes que, segundo ele, "violam as leis brasileiras".

 

Em sua fala, Eduardo Bolsonaro disse também que corre o risco de voltar para o Brasil e ter seu passaporte apreendido, como fizeram com o seu pai, e que "eles estão preparando a narrativa" para isso.

 

Em março, o jornal The New York Times revelou que o ex-presidente passou dois dias na missão diplomática em Brasília em fevereiro deste ano, logo após ter sido alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) e ter tido o passaporte apreendido. A ida levantou suspeitas de que o ex-mandatário pudesse ter buscado asilo político no local, motivando a PF a abrir uma investigação para apurar o caso.

 

Nesta semana, Moraes concluiu que não há evidências que comprovem que Bolsonaro tenha buscado asilo no local.

 

Nas redes sociais, Eduardo publicou fotos exaltando o primeiro-ministro Viktor Orbán, a quem se referiu como "o maior líder conservador no poder no mundo". Graças a um sistema eleitoral bastante desproporcional, anterior à administração atual, Orbán governa desde 2010 com uma maioria absoluta. Com isso, passou a toque de caixa uma nova Constituição que enfraqueceu o sistema de freios e contrapesos que controlaria o seu poder.

 

Opositores, jornalistas e institutos que medem a qualidade das democracias no mundo fazem alertas. Eles afirmam que Orbán minou a independência do Judiciário, tomou conta do mercado da mídia, sufocou ONGs e universidades, aprovou leis contra minorias, como a comunidade LGBTQIA+ e os imigrantes, e redefiniu distritos eleitorais para favorecer o Fidesz, seu partido.

 

 

Na última década, a Hungria virou referência para a direita mundial. Isso não aconteceu por acaso: foi uma estratégia de soft power muito bem pensada pelo primeiro-ministro e que envolveu investimentos de milhões de dólares em institutos e think tanks conservadores.

 

As instituições conservadoras financiadas pelo governo costumam convidar pesquisadores de outros países para passar um tempo na Hungria. Alguns ficam por longos períodos, estudando, e outros por apenas uma ou duas semanas, em seminários ou conferências.

 

Em contraponto ao que a imprensa ocidental reporta sobre o país, eles são apresentados à narrativa do governo sobre o que aconteceu desde que Orbán assumiu pela segunda vez como primeiro-ministro (em 1998, ele já havia ocupado o cargo, por apenas um mandato). O esforço frequentemente dá resultado: esses pesquisadores escrevem uma série de artigos que retratam Orbán de forma positiva e aumentam sua influência na esfera conservadora global.

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