SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na última semana, durante evento no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), deveria conversar mais com congressistas em vez de ler um livro.

 

Contornando a bronca, Haddad disse que continuará lendo e seu atual livro de cabeceira, "Estratos do Tempo", compõe parte da obra publicada no Brasil do alemão Reinhart Koselleck.

 

O volume reúne diferentes textos de ensaios e apresentações produzidos ao longo de sua carreira, e nele o historiador lança mão de uma metáfora da geologia para refletir sobre as divisões do tempo que formam a experiência humana.

 



 

"Situo-me no campo das metáforas: a expressão estratos do tempo remete a formações geológicas que remontam a tempos e profundidades diferentes, que se transformaram e se diferenciaram umas das outras em velocidades distintas no decurso da chamada história geológica", escreve.

 

Esse conceito, quando transportado para a história humana, política ou social possibilita, na visão do autor, separar os diversos planos temporais em que os acontecimentos se desenrolam.

 

"Koselleck argumenta que apenas a partir da constatação da complexidade e da multiplicidade da experiência temporal, através de sua percepção em estratos, e de suas características, o processo histórico pode ser compreendido", analisou o historiador Thiago Reisdorfer, em uma resenha publicada em 2016 pela revista Diálogos, da UEM (Universidade Estadual de Maringá).

 

 

O autor alemão foi um intelectual do pós-guerra, sendo considerado um expoente da chamada história dos conceitos e tendo dedicado seus estudos, em especial, aos séculos 18 e 19.

 

"Koselleck denomina história dos conceitos o procedimento que permite apreender o complexo processo de ressignificações de alguns conceitos ao longo do tempo", descreve um artigo de 2007, da professora Tereza Kirschner, da UnB (Universidade de Brasília).

 

 

O alemão argumentava que o estudo dos conceitos e da variação dos seus significados no decorrer da história é uma condição básica para a construção do próprio conhecimento histórico, defendeu Kirschner.

 

Ele propõe uma reflexão sobre a temporalidade, com uma visão crítica da modernidade e da noção de progresso.

 

 

Autor de "History in the Plural", em que analisa a obra de Koselleck, Niklas Olsen avalia que ele "ofereceu algo como uma caixa de ferramentas de suposições compatíveis do que é a escrita histórica e o que pode ser feito com ela".

 

Nascido em Gorlitz, na Alemanha, em 1923, Koselleck foi professor nas universidades de Bochum, Heidelberg e Bielefeld.

 

 

O historiador também participou de "Geschichtliche Grundbegriffe", dicionário histórico dos conceitos político-sociais fundamentais da língua alemã, publicado em nove volumes, entre 1972 e 1997.

 

O objetivo, segundo os autores, era discutir "a dissolução do mundo antigo e o surgimento do moderno por meio de sua apreensão conceitual".

 

Além de "Estratos do Tempo", a editora Contraponto também publicou no Brasil "Crítica e Crise" (1999), "Futuro Passado" (2006) e "Histórias de Conceitos: Estudos sobre a Semântica e a Pragmática da Linguagem Política e Social" (2021).

 

"Crítica e Crise", sua tese de doutorado, foi apresentada em seu país em 1954 e é uma espécie de porta de entrada para uma obra dedicada a investigar a teoria da história, a partir de uma visão filosófica do tempo.

 

Koselleck morreu em 2006 em Bad Oeynhausen, na Alemanha, aos 82 anos. Ele é tido por seus pares como um dos mais eruditos historiadores contemporâneos.

 

ESTRATOS DO TEMPO: ESTUDOS SOBRE HISTÓRIA

 

Preço: R$ 102

 

Autoria: Reinhart Koselleck

 

Editora: Contraponto

 

Tradução: Markus Hedige

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