Em discursos oficiais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a personalidade internacional mais citada é o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. A análise de todos pronunciamentos oficiais do petista, desde que subiu a rampa do Planalto, em 1° de janeiro de 2023, aponta que o nome do representante da Casa Branca acabou pronunciado em 17 oportunidades.
A análise, feita por meio da ferramenta PinPoint, do Google, mostrou que Lula cita Joe Biden principalmente quando aborda temas relacionados à sustentabilidade, como proteção do meio ambiente, preservação da Amazônia e mudanças na matrizes energéticas.
Na inauguração de uma fábrica de ônibus elétricos em São Bernardo do Campo, São Paulo, em junho do ano passado, Lula fala sobre energias alternativas e a preservação do meio ambiente. "Esses dias, o presidente Biden anunciou 500 milhões (de dólares) para o Brasil, na questão da Amazônia", disse Lula, após reforçar a necessidade de investimentos em meios de baixo carbono.
À ocasião, o presidente brasileiro se referiu a um futuro ingresso dos Estados Unidos no Fundo Amazônia, que é um comitê administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) que visa arrecadar recursos à conservação da floresta amazônica. Os Estados Unidos, no ano passado, doaram US$ 3 milhões. Os US$ 500 milhões, anunciados por Biden em 2023, seriam entregues ao Brasil ao longo de cinco anos, segundo o americano.
A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos vai além dos discursos de sustentabilidade e das ações de doação ao Fundo Amazônia. Os EUA são o terceiro maior parceiro comercial dos brasileiros, quando o assunto é exportação. No ano passado, de acordo com dados do governo federal, compraram 9,45% dos produtos exportados pelo Brasil.
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O maior parceiro comercial é representado por China, Hong Kong e Macau. Essas nações são seguidas pela União Europeia. Juntos, respectivamente, os blocos compraram, respectivamente, 33,79% e 15,09% dos produtos brasileiros no ano passado. As importações dos Estados Unidos chamam a atenção por causa do fato de as compras serem destinadas a um único país, não pulverizada como nos casos de UE e China, Macau e Hong Kong.
Direitos trabalhistas
Outro ponto em comum entre Lula e Biden, nos discursos do presidente brasileiro, é a defesa de direitos trabalhistas. Ambos lançaram, em setembro do ano passado, a Iniciativa Global Lula-Biden para o Avanço dos Direitos Trabalhistas na Economia do Século XXI.
Neste entendimento, oficializado na sede da Organização das nações Unidas (ONU), ambos defenderam a necessidade de "colocar os trabalhadores no centro das decisões políticas". Em seu pronunciamento oficial, Lula associa o avanço dos direitos trabalhistas à preservação do meio ambiente.
"Esse é o espírito da iniciativa em defesa do trabalho decente que lançarei com o presidente Biden, à margem da próxima Assembleia Geral da ONU. As transições digital e ecológica precisam ser aproveitadas para gerar oportunidades e evitar a concentração de renda e a desigualdade", disse o petista, antes de oficializar o manifesto com o americano.
Quanto à guerra entre a Rússia e a Ucrânia — tema caro para os interesses ocidentais —, Lula relacionou Biden de maneira "sutil". Enquanto o norte-americano se posiciona contra a invasão de tropas russas no território ucraniano, o presidente brasileiro diz "não concordar" com ofensiva de Putin, mas evita se posicionar em prol da Ucrânia.
"O Brasil defende a integridade territorial de cada nação. Portanto, nós não concordamos com a invasão da Rússia à Ucrânia. Agora, nós achamos que o mundo desenvolvido, sobretudo a União Europeia e os Estados Unidos, não poderia ter aceitado entrar na guerra da forma com que entraram com rapidez, sem antes gastar muito tempo tentando negociar. E negociar a paz é muito complicado", pregou, em entrevista à imprensa, em abril de 2023.
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Além da economia, amigos?
É fato que o Brasil, governado por Lula, e os EUA de Biden têm pontos em comum nas perspectivas econômicas e nos entendimentos sobre questões de trabalho e de meio ambiente. Quando Lula venceu as eleições, em 2022, Joe Biden foi um dos primeiros líderes mundiais a reconhecer publicamente a vitória do petista.
Neste ano, Biden e será candidato à reeleição em seu país, nas eleições previstas para ocorrer em novembro deste ano. Recentemente, Lula disse torcer para que Biden vença o pleito norte-americano. O presidente brasileiro afirmou que uma possível vitória do democrata será uma maior garantia para a sobrevivência do regime democrático nos Estados Unidos e no mundo.
“Eu tenho visto o Biden em porta de fábrica. O discurso do Biden desde o começo até agora é em defesa do mundo do trabalho”, disse Lula em entrevista à RedeTv, em fevereiro desde ano.
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Por que Biden é o mais citado?
Segundo o analista político Matheus Albuquerque, sócio da Dharma Politics, o grande número de citações de Lula a Biden se deve ao fato de, ao contrário do ex-presidente norte-americano e provável postulante a presidente pelo partido Republicano, Donald Trump, o democrata desempenhar geopolítica mais próxima aos interesses brasileiros.
“Para Lula, especificamente, o risco de um possível retorno de Donald Trump à Casa Branca é o isolamento internacional. Dessa forma, o discurso de Lula em favor de Biden serve a dois propósitos. Primeiro, melhorar a relação bilateral entre os dois países. Segundo, demonstrar apoio a candidatura de Biden como uma ação pragmática de prevenção de risco na esfera internacional”, explicou o especialista.
Expectativas parcialmente frustradas
Mesmo com opiniões similares em assuntos como meio ambiente e direitos trabalhistas, algumas expectativas foram parcialmente frustradas de ambos os lados, observou o analista político entrevistado pelo Correio. Segundo ele, o calo neste diálogo "amigável" gira em torno da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Biden, na avaliação de Matheus Albuquerque, esperava que Lula apresentasse uma postura mais dura no que tange ao conflito. "Por outro lado, Lula parecia esperar de Biden o prestígio demonstrado a aliados europeus, mas menos presente nas relações bilaterais com o Brasil. Ambas as expectativas parecem ter sido parcialmente frustradas”, concluiu.