Plenário Câmara dos Deputados -  (crédito: CÂMARA DOS DEPUTADOS/REPRODUÇÃO)

Plenário da Câmara dos Deputados

crédito: CÂMARA DOS DEPUTADOS/REPRODUÇÃO

A cinco meses do primeiro turno das eleições municipais, em 6 de outubro, uma rica e cobiçada moeda eleitoral é disputada no Planalto Central. Está aberta a temporada das emendas pré-eleitorais, a corrida de vereadores, prefeitos, deputados e senadores para liberações dos pagamentos desses recursos antes da campanha política.

 

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não tem alcançado êxito na disputa para prefeituras nas últimas eleições — e pretende eleger administradores municipais, mesmo que não sejam necessariamente do PT —, tem interesse em liberar essas verbas, até para tentar "fidelizar" o maior número de aliados e torná-los gratos ao erário federal.

 

Essa atenção do governo se dá em meio a uma crise do Palácio do Planalto com o Congresso. O governo precisa do apoio dos parlamentares para suas pautas num momento em que os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ensaiam confronto com o Executivo.

 

Deputados e senadores cobram dos ministérios a execução dessas emendas. Desde abril, teriam sido liberados R$ 13,8 bilhões. Há uma corrida contra o tempo. Como o ano é eleitoral, essas verbas precisam ser empenhadas, o que significa previsão de serem pagas até o fim de junho.

 

O Ministério da Saúde empenhou R$ 7,8 bilhões em emendas individuais. A crítica dos congressistas contra a gestão de Nísia Trindade, nesse aspecto, ganhou a adesão até de Lira. Esse total liberado se refere a emendas impositivas, que o governo é obrigado a pagar e que a metade tem que ser destinada obrigatoriamente para ações de saúde.

 

Emendas
Emendas (foto: Valdo Virgo)

 

"Dinheiro na veia"


Outra modalidade para liberar esses recursos são as chamadas "emendas pix", dinheiro que vai direto para os cofres das prefeituras e que permite aos gestores aplicarem como quiserem. São consideradas as mais cobiçadas por prefeitos e parlamentares — em ano eleitoral, agiliza conclusão de obras sem necessidade de abrir nova licitação, o que atrasa a aplicação do recurso. São muito usadas em construção de creches, unidades de saúde e pavimentação de ruas.

 

 

Até agora, foram empenhados R$ 8,5 bilhões, se consideradas todas as pastas. Esse montante representa 34% dos R$ 25 bilhões em emendas previstas para o governo repassar em 2024. Se comparado com o valor liberado em 2020, quando se deu a última disputa municipal, o governo tinha liberado R$ 7,8 bilhões até 30 de abril, volume menor que hoje, e que representa 22% do total.

 

Se considerar os partidos, segundo dados do governo, o PL foi o principal contemplado — afinal, é a maior bancada, com 95 deputados. Depois, aparecem o MDB (44 deputados), o União Brasil (58 deputados) e, somente depois, o PT, legenda do presidente da República e que tem a segunda maior bancada, com 68 deputados).

 

Para Sergio Andrade, diretor-executivo da Agenda Pública, a destinação das emendas não segue um critério estratégico e iguala a atuação de um deputado federal à de um vereador. "A agenda defendida pela maioria dos deputados não leva em conta uma visão estratégica de médio e longo prazos, o que faz com que o papel de muitos deles se assemelhe ao de um vereador. Os interesses das bases se sobrepõem aos do país", disse Andrade, que também é integrante do Conselho Nacional de Transparência, Corrupção e Integridade Pública.