Parlamentares mineiras, vítimas de ameaça de morte, tortura e estupro, comemoram a prisão do principal suspeito dos crimes de ódio. Segundo elas, tentativas de intimidação nunca pararam, apenas deixaram de ser divulgadas durante todo o tempo das investigações, que começaram em agosto do ano passado, logo após as primeiras ameaças, no fim de julho. Desde então, as deputadas estão sob escolta policial.
Foi preso nesta terça-feira (7/5) em Olinda, na Região Metropolitana de Recife (PE), um homem suspeito de ser o principal responsável pelas ameaças contra as deputadas estaduais Lohanna França (PV), Bella Gonçalves (Psol) e Beatriz Cerqueira (PT).
O suspeito usava os apelidos de “Leon” e “Grow” em fóruns do submundo da internet, onde eram cometidos crimes de incitação à violência. O preso é apontado pelas investigações como o principal responsável pelos crimes contra as parlamentares mineiras. Ele também é suspeito de coagir adolescentes a se automutilarem e a enviarem a elas fotos nuas.
De acordo com a deputada estadual Bella Gonçalves (Psol), ela recebia praticamente uma ameaça por semana. Por orientação da força-tarefa, as mensagens não vinham mais sendo divulgadas.
“É um suspiro de liberdade e alívio”, disse Bella. A deputada agradeceu a Delegacia de Crimes Cibernéticos, todos os integrantes da força-tarefa e o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Tadeu Martins Leite (MDB).
“Não foi fácil. Tive de enfrentar o medo, a ansiedade, a privação da minha liberdade e do meu direito de viver tranquilamente na cidade”, afirma a deputada que contou ter sido obrigada a mudar de casa.
A deputada Lohanna também comemorou a prisão e disse que ela é uma resposta importante a quem acha que “ameaçar mulher não dá em nada”.
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Ameaças não pararam
Os últimos meses, revela a deputada, foram muito difíceis para todas as parlamentares, pois as ameaças não pararam.
“Foram meses em que a gente teve nossa liberdade cerceada, em que nossas famílias tiveram medo, nossas equipes foram ameaçadas”, afirmou.
A parlamentar agradeceu o empenho das forças de segurança e especialmente aos policiais militares que fizeram sua segurança durante esse período. “Quero (...) deixar um abraço carinhoso aos policiais militares que nos acompanharam durante esse período e garantiram que a gente tivesse coragem de trabalhar de cabeça erguida e com menos medo. Estamos juntos na construção de um estado que respeite todas as mulheres."
Para a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), “o recado foi dado”. “Nos respeitem na política, porque essas ameaças de morte, estupro e tortura têm o objetivo de interditar nosso trabalho e nos expulsar da política."
Segundo ela, com o esforço “liderado pelo presidente da Assembleia”, Tadeu Martins Leite (MDB), a força-tarefa chegou ao principal suspeito. “E foi dado o recado de que ameaçar mulheres que estão na política tem consequência”, afirmou.
Não foi informado pelo MPMG se o suspeito também está envolvido com as ameaças feitas, na mesma época, as vereadoras de Belo Horizonte Iza Lourenço (Psol) e Cida Falabella (Psol) e as de Uberlândia, Amanda Gondim (PDT) e Cláudia Guerra (PDT).
A reportagem tentou contato com os integrantes do MPMP que compõem a força-tarefa, mas, de acordo com a assessoria, eles estavam em Pernambuco e não poderiam dar entrevistas.
As três divulgaram uma nota conjunta. Confira na íntegra
“Recebemos com esperança a notícia da prisão do principal investigado pelas ameaças de estupro, morte e violências diversas contra nós, nossa equipe e nossas famílias. Ainda há muito a caminhar para uma Minas Gerais segura para todas as mineiras, mas hoje avançamos ao mostrar que, mesmo demorada, a justiça acontece. Seguimos em luta e trabalho pela construção de um Estado digno e seguro para todas as mulheres. O resultado das investigações mostra que sempre fizemos certo ao seguirmos firmes na luta, ao não nos deixarmos paralisar pelas ameaças e pela violência. Só assim seguiremos mudando a realidade das mulheres!”