Presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobe em palanque em Alagoas com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e com o deputado Renan Calheiros -  (crédito: Ricardo Stuckert / PR)

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobe em palanque em Alagoas com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e com o deputado Renan Calheiros

crédito: Ricardo Stuckert / PR

Rivais na política alagoana, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) compartilharam o mesmo palanque na tarde desta quinta-feira (9/5) durante agenda do presidente Lula (PT) em Alagoas.

 

 

Essa é a primeira visita do mandatário ao estado no atual mandato. Ele participa da cerimônia de assinatura da ordem de serviço que dará início às obras de construção do trecho cinco do Canal do Sertão Alagoano em São José da Tapera (240 km de Maceió).

 

Lira e Renan tiveram uma série de embates nos últimos anos e estão em lados distintos na política de Alagoas. Os dois são cotados para disputar o Senado em 2026, quando duas vagas por estado estarão em disputa.

 

Lula citou Renan e Lira durante o discurso e disse que o senador, quando chefiou a Casa, e o deputado, como presidente da Câmara, ajudaram os seus governos.

 

"Tive Renan como presidente do Senado, alagoano, no meu mandato anterior. Ele me ajudou muito a governar. Agora, quis Deus que eu tivesse outro alagoano na presidência da Câmara, que me ajudou muito, porque começamos a governar antes da posse. Porque foi ele que coordenou junto com Rui Costa e [Fernando] Haddad a PEC [Proposta de Emenda da Constituição] da Transição".

 

A proposta abriu espaço extra no Orçamento para que o petista viabilizasse a recriação de programas sociais e o Bolsa Família no primeiro ano de mandato, em 2023.

 

"Conseguimos aprovar todos os projetos que mandamos, uma demonstração de que as nossas diferenças ideológicas não são levadas em conta quando o interesse maior é o interesse de mulheres, homens e crianças que nasceram e querem viver dignamente", afirmou sobre as votações no Congresso Nacional.

 

O presidente também disse que, quando necessário dialogar, envia o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), para conversar com Lira. Segundo o mandatário, "dois nervosos se entendem".

 

O governo tem feito esforços para se aproximar do presidente da Câmara em meio ao embate entre ele e o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), a quem Lira já se referiu como "incompetente" e "desafeto pessoal". Como Padilha e Lira estão rompidos, cabe a Rui Costa fazer a interlocução do Planalto com o comando da Casa.

 

Lula ainda externou solidariedade aos atingidos pelas enchentes no Rio Grande do Sul, e disse que as divergências políticas devem ser deixadas de lado para priorizar as ações em prol de quem mais precisa, demonstrando solidariedade.

 

 

Renan foi o segundo a discursar na cerimônia e não citou o presidente da Câmara ao fazer os cumprimentos. O senador fez uma defesa enfática do atual Governo de Alagoas e das ações do estado nos últimos anos.

 

"A sua vinda a São José da Tapera é uma demonstração que o federalismo e a institucionalidade voltaram ao Brasil", disse Renan, em crítica indireta ao governo Jair Bolsonaro (PL), do qual Lira foi aliado.

 

Apesar de ter recebido vaias por uma parte da plateia, Lira defendeu sua forma de atuar na política e reconheceu que a obra do Canal do Sertão começou no primeiro governo Lula.

 

"Não escondo meus posicionamentos, mas nunca fiz política falando mal de ninguém, denegrindo a imagem de ninguém, nem procurando saber o que fazem ou o que não fazem. Essa obra começou no seu governo, passou por vários governos."

 

O presidente da Câmara ainda citou que, com seu apoio, conseguiu ações junto ao governo federal para municípios alagoanos.

 

"Aqui temos trabalhos e serviços prestados. Quem é desses municípios sabe que através da Codevasf, da Funasa, do governo federal, de emendas parlamentares que tantos falam, levamos água para toda a zona rural de Água Branca, [temos obras em] Pariconha, em Delmiro Gouveia", disse.

 

 

Ele não citou, porém, sua influência nos órgãos federais em Alagoas durante o governo Bolsonaro. Sob Lula, a Codevasf continuou com indicações políticas. A Folha de S.Paulo mostrou, dentre outros exemplos, que uma emenda de Lira bancou obra em uma via que leva a fazendas dele em Alagoas.

 

Quando encerrou o discurso, o congressista cumprimentou Renan Filho. Ambos sorriram frente a frente.

 

Aliado de Renan, o governador Paulo Dantas (MDB) fez acenos a Lira e citou a aprovação de projetos do governo Lula no Legislativo.

 

"O presidente da Câmara, Arthur Lira, tem, ao lado de outros deputados federais, a bancada federal e do senador Renan Calheiros, tem criado condições legais para o presidente Lula entregar o que ele se comprometeu com a população de Alagoas e de todo o Brasil."

 

Lira e Renan possuem grande influência no Legislativo e no Executivo federal apesar de Alagoas ser o segundo menor estado do país. Eles influenciam a escolha de ministros, o apoio no Congresso e andamento de projetos estratégicos para o governo.

 

A disputa entre Lira e Calheiros teve sua gênese em 2010, quando o primeiro foi eleito pela primeira vez como deputado e o pai dele, Benedito de Lira, conhecido como Biu, foi alçado ao Senado junto de Renan, em um movimento de ascensão da família.

 

Quatro anos depois, Renan lançou o filho ao governo do estado, contra Biu de Lira. Renan Filho venceu no primeiro turno, renovando o fôlego do clã. Em 2018, Renan pai se reelegeu senador e o filho, governador. Biu de Lira perdeu sua vaga ao Senado, e Arthur Lira foi reeleito deputado.

 

O fortalecimento dos Calheiros no estado coincidiu com o crescimento de Arthur Lira em Brasília, na esteira da eleição de Bolsonaro e o protagonismo do congressista com as emendas de relator. Em 2022, os dois grupos disputaram o governo estadual, do qual saiu vencedor Paulo Dantas, aliado de Renan.