Mestre Primo - Edson Moreira da Silva, 60 anos  -  (crédito: Leandro Couri/EM/DAPRESS)

Mestre Primo - Edson Moreira da Silva, 60 anos

crédito: Leandro Couri/EM/DAPRESS

"Estamos lutando pela nossa história há mais de 20 anos", afirma o Mestre Primo - Edson Moreira da Silva, 60 anos - capoeirista há 50 anos, sobre o PL 780/2023, que cria o Programa Capoeira nas Escolas, considerando o esporte enquanto prática pedagógica e cultural, patrimônio de natureza imaterial e importante instrumento para o ensino da história e da cultura afro-brasileira.

 

Mestre Primo é um dos organizadores da manifestação marcada para amanhã, terça-feira (13/5), na Câmara Municipal de Belo Horizonte para pressionar pela aprovação do texto. Centenas de capoeiristas estão confirmados para irem até o local levando seus instrumentos musicais. A ordem é que todos levem berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco. 

 

 

 

"Sabemos da importância do que é finalmente ter a capoeira dentro das escolas, a importância disso para o povo negro, ainda mais o que carregamos da história do povo africano",

Mestre Primo

O projeto é de autoria das vereadoras Cida Falabella (PSOL) e Iza Lourença (PSOL). De acordo com o texto, além da criação do programa Capoeira nas Escolas, as atividades devem atender os estudantes da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos, assim como suas comunidades escolares, visando à formação integral desses sujeitos.

"O PL Capoeira nas Escolas foi construído em diálogo com os capoeiristas de BH, juntamente com o Executivo Municipal, com o objetivo de garantir a formação da Capoeira enquanto patrimônio vivo e importante instrumento para efetivação da Lei 10.639 do Ensino da História e Cutura Afro-Brasileira. Esse reconhecimento e garantia são importantes não só para quem vive da Capoeira, mas para a cidade, uma vez que, por meio da Capoeira, as crianças têm contato com os saberes afrodiaspóricos ancestrais, ajudando na multiplicação desses saberes e no desenvolvimento de uma consciência antirracista desde cedo", afirmou Cida Falabella à reportagem.

 

Para implementar o Programa instituído pela lei, a Prefeitura de BH poderá promover oficinas continuadas de capoeira, rodas e apresentações artísticas, ações formativas com mestres e mestras, rodas de conversa, palestras e vivências sobre a capoeira; além de outras práticas que possam surgir a partir da demanda dos participantes.

 

Ainda segundo o texto, o Município poderá firmar parcerias com coletivos, grupos e associações capoeiristas e outras instâncias representativas do setor, bem como com pontos de cultura e agentes da cultura viva, a fim de cumprir as finalidades do programa.

 

Representatividade 

 

A Capoeira é uma expressão cultural do povo negro brasileiro, onde ela se apresenta pela dança, esporte, música e arte marcial. Teve sua por volta do século XVII. Nos confins das fazendas e nos terreiros, essa forma de expressão ganhou vida, muitas vezes de maneira clandestina.

 

Patrimônio Imaterial da Humanidade desde 2014, ela surgiu na Bahia pelas mãos dos primeiros negros que foram trazidos do continente africano, como forma de resistência e combate contra a escravidão.

 

As pessoas que praticam se põem em roda, com o famoso berimbau baiano, batuque de atabaques, músicas do cancioneiro popular, sons das palmas das mãos e gingam através da dança e dos golpes singelos e certeiros, de dois em dois, ou mais, a depender do tamanho da roda.

 

A prática era proibida no Brasil por lei até 1937 por ser considerada perigosa entre os senhores de engenho. Os negros que lutavam na resistência fugiam para formar quilombos e utilizava a capoeira como arte-marcial para se defender dos capitães do mato.

 

Vale relembrar, que esta era uma arte praticada às escondidas, pois representava não apenas uma forma de entretenimento, mas também uma ferramenta de resistência contra os senhores de engenho. Na ausência de armas para se defenderem, os escravos utilizavam seus próprios corpos e movimentos como instrumentos de defesa pessoal.