Na reunião ministerial, Lula cobrou os ministros -  (crédito:  RICARDO STUCKERT)

Na reunião ministerial, Lula cobrou os ministros

crédito: RICARDO STUCKERT

BRASÍLIA, DF - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou os seus ministros para que haja coordenação nas falas e ações, durante reunião de emergência realizada nesta segunda-feira (13/5) para tratar da crise climática no Rio Grande do Sul.

 

Lula pediu que alguns ministros retratem a realidade em suas falas e não fiquem "inventando coisas" que ainda não foram discutidas no âmbito do governo.

 

"Cada ministro que for falar, ou cada ministra, (é preciso) tentar falar sempre a mesma coisa que está acontecendo, não ficar dizendo coisas que não estão acontecendo, ficar inventando coisas que ainda não se discutiu", afirmou o presidente.

 

"Ou seja, não dá para cada um de nós que tem uma ideia anunciar publicamente essa ideia. Uma ideia é um instrumento de conversa no governo para que a gente transforme a ideia numa política real. Não é cada um que tiver uma ideia, vai falando da sua ideia, vai dizendo o que vai fazer, porque isso termina não construindo uma política pública sólida e uma atuação muito homogênea do governo, no caso do Rio Grande do Sul", completou.

 

 

A reunião ministerial ocorreu no fim da tarde, no Palácio do Planalto, e o áudio da fala inaugural de Lula foi divulgado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom).

 

Todos os 38 ministros participaram da reunião, que foi convocada em caráter emergencial pelo presidente, para discutir as ações federais para enfrentar a calamidade climática.

 

Lula disse que é um compromisso seu deixar o Rio Grande do Sul "como era antes da chuva".

 

O presidente também voltou a criticar os "negacionistas" do aquecimento global, acrescentando que estamos vivendo "tempos difíceis".

 

"Muitas vezes os negacionistas passam para a humanidade, para a sociedade, a ideia de que esse negócio do clima, de aquecimento do planeta, de chuvas torrenciais, de furacões, é coisa de ambientalista ou coisa de intelectual. Quando na verdade o mundo está passando por um processo de transformação que somente nós, seres humanos, seremos capazes de controlar", afirmou.

 

Situação do Estado

 

O estado enfrenta há duas semanas fortes chuvas, que provocaram inundações na maior parte de seus municípios. O número de mortos chegou a 147.

 

A calamidade climática atingiu 447 municípios gaúchos. Segundo o mais recente boletim da Defesa Civil, 538 mil pessoas estão desalojadas.

 

O nível do lago Guaíba, em Porto Alegre, está subindo rapidamente desde a madrugada desta segunda, em razão das chuvas que atingem a capital gaúcha e regiões já afetadas pelos temporais, como o vale do Taquari, desde a última semana.

 

Segundo monitoramento divulgado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul, o patamar do lago Guaíba chegou a 4,84 metros às 9h - 20 centímetros maior do que o registrado à meia-noite.

 

O nível de alerta do lago é 2,5 metros. A inundação ocorre quando o nível chega a três metros.

 

Lula afirmou que vai retornar ao estado nesta quarta-feira (15/5) para visitar as áreas atingidas pelas chuvas e que vai anunciar na ocasião medidas para as pessoas atingidas pelas enchentes. O governo estuda o pagamento de um voucher diretamente para as famílias.

 

Nesta segunda, o governo anunciou a proposta de suspensão da dívida do Rio Grande do Sul com a União por três anos. A medida deve dar alívio de R$ 11 bilhões ao governo gaúcho para ajudar na reconstrução do estado. Em reunião virtual, o governador Eduardo Leite (PSDB), defendeu o perdão das parcelas e disse que o adiamento é insuficiente para atender às demandas do estado.

 

Por causa da tragédia, o presidente cancelou uma viagem oficial que faria ao Chile, na sexta (17) e no sábado (18).

 

Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, Lula e o governador, que são adversários políticos, estabeleceram uma trégua para articular respostas à tragédia que assola o Rio Grande do Sul e se blindar de críticas por omissão ou uso eleitoreiro do caso.

 

A ação conjunta em algumas frentes tenta mostrar à população que a reação à catástrofe deve se sobrepor à disputa política.

 

Essa aparente união não significa, porém, um alinhamento. Nos bastidores, pessoas próximas do presidente criticam o discurso do governador e vice-versa.