BRASÍLIA, DF - Uma possível candidatura de José Dirceu a deputado federal em 2026 divide o PT, partido que tem no ex-ministro de Lula uma de suas principais figuras históricas. O tema voltou a ser discutido depois que o STF extinguiu ação contra o petista.
De um lado, alguns integrantes da legenda afirmam que uma volta de Dirceu ao Congresso Nacional, mais de 20 anos depois da cassação de seu mandato durante o escândalo do mensalão, seria uma justa reabilitação a um quadro partidário ainda importante. De outro, há membros que avaliam que eventual volta aos holofotes trará junto temas como mensalão e petrolão.
O movimento ainda dependeria de Dirceu voltar a ser elegível.
A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou extinta, por prescrição, uma ação contra Dirceu por corrupção passiva. O julgamento foi realizado nessa terca-feira (21/5). Ele havia sido condenado no âmbito das investigações da Operação Lava Jato.
De acordo com a defesa do ex-chefe da Casa Civil no primeiro mandato do presidente Lula (PT), a decisão o deixa mais próximo de restabelecer seus direitos eleitorais pois restaria apenas a revogação da condenação decorrente de processo que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ) - e que, por analogia à decisão do Supremo, também estaria prescrito.
"Fui cassado por razões políticas e sem provas. Sofri processos kafkianos. Seria justo voltar à Câmara. Mas só vou tomar essa decisão no próximo ano", disse o ex-ministro, após a decisão. Na campanha de 2026, ele terá 80 anos.
Na avaliação de aliados do presidente Lula, a disputa de 2026 se prenuncia acirrada, assim como foi a de 2022, e a presença de Dirceu vai servir de munição para bolsonaristas. Apesar disso, esses mesmos petistas dizem duvidar de que, caso o ex-ministro decida mesmo se candidatar, alguém irá tentar demovê-lo.
Disputa interna
A reabilitação de Dirceu também pode significar um rearranjo da correlação de forças dentro do PT, ameaçando a atual direção.
Recentemente, o petista defendeu publicamente a política econômica conduzida por Fernando Haddad (Fazenda) em resposta às críticas dentro do partido de Lula, entre elas as feitas pela presidente da legenda, Gleisi Hoffmann.
Ela não compareceu à festa de aniversário de Dirceu, em março. Nesta terça (21/5), Gleisi disse ao jornal Folha de S.Paulo apoiar uma candidatura de Dirceu.
"Eu sei que o pessoal em São Paulo está discutindo a candidatura dele a deputado, e que precisava terminar esse processo todo contra ele. Eu acho que com isso, agora, libera", afirmou ela. "Eu acho que é bom para o partido, é bom ter ele reabilitado na política, e bom para ele também, eu acho que ele tem essa vontade."
Nas redes sociais, a petista disse que o STF deu fim hoje a uma grande injustiça cometida "pela farsa da Lava Jato" e completou: "Parabéns companheiro por esta vitória, que contempla sua luta em defesa da verdade e da Justiça".
Não há registros recentes de fotografias de Lula ao lado de Dirceu. Na celebração do aniversário do PT, os dois não chegaram a se encontrar, embora estivessem no mesmo espaço.
Dirceu não foi convidado para a área reservada a ele, amigos e ministros. Lula tinha acabado de deixar o salão quando Dirceu foi ao seu encontro.
Sobre o potencial eleitoral de Dirceu, os petistas lembram que o melhor desempenho dele ocorreu na eleição para deputado federal em 2002, quando o partido se dedicou à sua eleição.
Dirceu era coordenador da campanha de Lula à Presidência e os diretórios do PT de São Paulo foram orientados a trabalhar por sua candidatura, além do espaço destinado a ele no horário eleitoral.
Naquela eleição, ele foi o segundo deputado federal mais votado do país (556.768 votos, 2,84% do eleitorado paulista).
Integrantes do PT dizem temer ainda, além da exploração dos escândalos do mensalão e do petrolão, que uma volta de Dirceu ao Congresso fortaleça dentro do PT um grupo mais independente e crítico a Lula.
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No aniversário do José Sarney, por exemplo, um deputado disse a Dirceu para "dar um jeito" no governo Lula. O ex-ministro respondeu que já estava se manifestando.
Fundador, presidente do PT e coordenador nacional da campanha quando Lula teve a sua primeira vitória na disputa ao Palácio do Planalto, em 2002, Dirceu formava, ao lado de Antonio Palocci (Fazenda), a dupla de "superministros" do primeiro mandato do petista.
Ele comandava o rolo compressor no Congresso Nacional para aprovar projetos de interesse do Executivo.
Acusado em 2005 por Roberto Jefferson (PTB-RJ) - também cassado - de chefiar o esquema do mensalão, ele deixou o cargo e, ainda naquele ano, foi cassado pelo plenário da Câmara dos Deputados por 293 votos a 192.