O desastre climático no Rio Grande do Sul gerou ontem mais uma consequência para o país. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou a jornalistas pela manhã sobre a necessidade de o Brasil ter de importar arroz e feijão em grandes quantidades para evitar aumento de preços dos grãos, que são base da alimentação no país e têm sua produção afetada pelas tempestades e enchentes no Sul.

 

À tarde, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, anunciou, em entrevista, que a pasta está preparando edital para a compra de um milhão de toneladas de arroz para estabilizar o preço do grão em caso de especulação sobre escassez. O Rio Grande do Sul é responsável por mais 70% da produção de arroz no país, mas 86% da safra 2023/2024 já foram colhidos. A preocupação maior, portanto, é com a safra seguinte.



“Agora, com a chuva, acho que atrasamos de vez a colheita (do arroz) do Rio Grande do Sul. Se for o caso para equilibrar a produção, a gente vai ter que importar arroz, vai ter que importar feijão para que a gente coloque na mesa do povo brasileiro um preço compatível com aquilo que ele ganha”, disse o presidente.

 



O Rio Grande do Sul é responsável por mais de 70% da produção de arroz do país, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra de 2023/2024. Apesar da dependência nacional do estado e da fala de Lula, a situação para este ano ainda não é de risco falta do alimento no país, de acordo com economista ouvido pelo Estado de Minas. No momento em que as chuvas atingiram o território gaúcho, a maior parte da colheita já havia sido feita e a manifestação do presidente deve ser vista mais como uma tentativa de tranquilizar o país para eventual alta dos preços do alimento.



Diogo Santos, consultor e economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), diz que o momento é de incerteza para avaliar o impacto das inundações no Rio Grande do Sul para o preço do arroz no Brasil. Ainda assim, não deve haver grandes impactos imediatos por causa da colheita concluída em sua maior parte. Neste contexto, aumentar a importação do alimento seria uma forma de evitar que a especulação aumente os preços, mesmo sem risco de desabastecimento.



“Está tudo em evolução. A declaração de Lula é mais no sentido de tranquilizar o país. O Rio Grande do Sul é responsável por mais de 70% da produção de arroz do Brasil, mas 86% da safra atual já estão colhidos. A perda estimada neste momento é de 10% da produção. Não há risco de faltar arroz para ser vendido no país, mas há uma chance de haver um repique nos preços para o segundo semestre”, avalia Diogo Santos.



“O Brasil já importa arroz, mesmo que em pequenas quantidades, de países da América do Sul, especialmente o Paraguai. Estão estudando uma possibilidade de fazer uma importação maior no sentido preventivo, para que, se houver algum tipo de especulação do mercado, seja evitado esse impacto no preço”, disse também.



Conforme cálculos do Ipead, o arroz tem um peso de 0,3% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de Belo Horizonte, por exemplo. Para famílias que recebem até cinco salários mínimos, o impacto é mais de três vezes maior, chegando a 1,02% no indicador inflacionário.

 





Incerteza e logística 

Diogo Santos ressalta que, embora quase toda a colheita do arroz já tenha sido concluída no Rio Grande do Sul, problemas logísticos podem dificultar o escoamento da produção estocada no estado. É essa também a preocupação do Coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, Andre Braz. O economista destaca outras atividades em que o Rio Grande do Sul é relevante para o país para ressaltar que o cenário de incerteza ainda não permite calcular quais serão os impactos da tragédia no bolso do brasileiro.



“Tem uma escassez muito grande de produtos porque não tem como os produtos chegarem lá. E tem uma dificuldade do próprio público para acesso esses locais de compra, porque muitos estão fechados e inundados ou com ruas inundadas em volta. É claro que, em uma restrição tão grande, o que a gente tem que esperar é o aumento de preço”, disse Andre Braz.



“Pela lei da oferta e da procura, se falta produto, aumenta o preço. Só que a gente não sabe exatamente o quanto esses preços vão subir. O que sabemos é que vai se estender pelo Brasil, porque existem várias indústrias no Sul que são relevantes, o setor moveleiro, a parte de metais, louças sanitárias, criação de aves”, ressaltou. “Enfim, é um polo produtivo forte que nós temos no Brasil e que está com dificuldade de escoar sua produção. É uma situação muito complexa que a gente ainda não tem como medir o impacto”, completou Braz.

 



O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, concedeu entrevista coletiva ontem à tarde para anunciar que a Conab vai importar um milhão de toneladas de arroz para estabilizar o preço do alimento no caso de especulação sobre eventual escassez do grão. “Já está sendo preparada uma medida provisória autorizando a Conab a fazer compra na ordem de um milhão de toneladas […] Quero deixar isso de forma muito clara: o governo não pensa em hipótese alguma em concorrer com os produtores de arroz. A Conab não vai vender para os atacadistas, que são compradores dos produtores”, afirmou o ministro.


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