Tá quente e pode piorar! Com 34 mil habitantes, a pequena Araçuaí, em Minas Gerais - cidade que ocupa o posto de mais quente do Brasil - recebe nesta segunda-feira (20/5) o Seminário Técnico Crise Climática em Minas Gerais: Desafios na Convivência com a Seca e a Chuva Extrema. A iniciativa é da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que vem pautando no último mês projetos sobre prevenção de desastres e ligados ao meio ambiente depois da devastação provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul.

 

O evento está acontecendo no Espaço Cultural Luz da Lua (Rua Dom Serafim, 426), aberto à participação do público. A ideia é que sejam apresentadas a situação de Minas Gerais perante a crise climática. Neste ano, a cidade passou Maringá, no Mato do Grosso e ocupa desde maio o posto de local mais quente do Brasil batendo o recorde de de 44,8°C.



Segundo o Climatempo, os dados sobre o comportamento das chuvas e das temperaturas ao longo do ano, são baseados em uma série de dados de 30 anos de observação. O 'calorão' em Araçuaí ocorreu pela presença de um aquecimento pré-frontal que intensificou as temperaturas no Nordeste de Minas Gerais. O fenômeno se deu próximo ao fim da oitava onda de calor que passou pelo país neste ano e provocou temperaturas extremas em quase todo o Brasil desde o dia 8 de novembro do ano passado.

 



Pondo em vista este cenário, o professor Alecir Moreira, da PUC Minas, apresentou um panorama climatológico de Araçuaí e região. Em seguida, foram destacados os exemplos de boas práticas nessa área: a distribuição de kits fotovoltaicos para poços artesianos; o estudo do potencial produtivo de plantas que servem de alimento para o gado; e a construção de cisternas para armazenar água da chuva.


Nesta tarde, os impactos sociais, ambientais e produtivos da crise climática serão discutidos pelos professores Marivaldo Aparecido de Carvalho, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri (UFVJM); Vico Mendes, do Instituto Federal do Norte de Minas; e Claudenir Fávero, também da UFVJM.


O presidente da ALMG, Tadeu Leite (MDB) falou um pouco sobre a proposta, que segundo ele, fará parte de um trabalho longo em busca de soluções para o meio ambiente. “Para que no fim do ano, já tenhamos resultados positivos para amenizar tanto a seca severa que assola parte do Estado, mas também os problemas que as fortes chuvas trazem em outras áreas”, explicou.


A etapa final do seminário será realizada na ALMG nos dias 8 e 9 de agosto. As propostas apresentadas pelos participantes do evento poderão se desdobrar em pedidos de providências para autoridades, projetos de lei para aprimorar políticas públicas e emendas ao Orçamento do Estado e ao Plano Plurianual de Ação Governamental.


Barragens


Além da falta da seca, a chuva também vem preocupando os mineiros quando o assunto é barragens de contenção. Isso porque, segundo alguns especialistas, caso as chuvas que assolaram o Sul do país chegassem ao estado, o local não estaria preparado para receber enchentes. Atualmente, Minas Gerais possui 350 barragens – sendo a federação com o maior número no Brasil – distribuídas em 53 municípios. Destas, 38 foram construídas pelo método à montante, que apresenta maior risco e precisam ser desativadas. Três permanecem no nível máximo de emergência.

 

 

De acordo com Agência Nacional de Mineração (ANM), o local com a maior concentração de barragens é a Grande BH (174 barragens – 49,7% em 18 municípios dentro do limite da Região Metropolitana) e entorno. O estado também possui grande número dessas estruturas nas regiões Leste, Sul e Noroeste. Os municípios com maior número de barragens cadastradas são Itabirito (29), Brumadinho e Nova Lima (27 cada), Itatiaiuçu e Ouro Preto (23 cada), Itabira e Mariana (17 cada). Em relação ao potencial de dano e risco, existem 150 barragens classificadas com dano potencial alto; 37 com categoria de risco alto e 140 que não possuem nenhum tipo de classificação.

O rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco em Mariana deixou destruição

Rogério Alves/TV Senado

Uma lei estadual exigia que todas as estruturas à montante – do mesmo tipo das que se romperam em Mariana e Brumadinho – fossem descaracterizadas até fevereiro de 2022. Contudo, apenas 16 foram desmontadas no prazo ou após a data prevista. As mineradoras que não cumpriram a lei foram multadas em R$ 426 milhões e assinaram um acordo que estendeu o prazo até 2035. As barragens alteadas à montante são instaladas em forma de degraus, chamados alteamentos, que são feitos utilizando o próprio rejeito de minério. É um método mais barato, mas que oferece mais risco.

 

 

Na semana passada aconteceu na ALMG uma audiência pública onde ficou constatado que caso uma chuva como a que aconteceu no Rio Grande do Sul atingisse o estado mineiro, várias barragens poderiam chegar ao seu limite causando danos irreparáveis. Por isso, um dia após a discussão, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, determinou, nesta sexta-feira (17/5), maior rigor no monitoramento, fiscalização e trabalho para a redução dos níveis de emergência das barragens.

 

Meio ambiente

Além das altas temperaturas e a situação das barragens, o seminário também vai pregar práticas na convivência com desafios do ambiente.


  • Energia solar: Um dos grandes gargalos na promoção da segurança hídrica no semiárido mineiro é a falta de energia elétrica para o funcionamento de poços artesianos. Para resolver esse problema, o Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas (Idene) licitou a aquisição de kits fotovoltaicos para comunidades rurais isoladas. Com isso, será garantida a energização dos equipamentos que permitem o abastecimento de água nesses locais;

  • Pecuária sustentável: Desde 2017, o projeto Forrageiras para o Semiárido, desenvolvido pela Confederação Nacional da Agricultura em parceria com a Embrapa, avalia o potencial produtivo de plantas forrageiras como a palma e sua capacidade de resiliência às condições de clima e solo do semiárido;

  • Um Milhão de Cisternas: Desenvolvido pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), esse programa viabiliza a construção de cisternas para armazenamento da água da chuva em comunidades que sofrem com a seca. Essas estruturas garantem o fornecimento de água para consumo humano, para a produção de alimentos e para a criação de animais.

 

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