Tabata Amaral e Guilherme Boulos -  (crédito: REDES SOCIAIS/REPRODUÇÃO)

Tabata Amaral e Guilherme Boulos

crédito: REDES SOCIAIS/REPRODUÇÃO

Os pré-candidatos Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) participaram neste domingo (2) da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, na avenida Paulista, e criticaram o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que concorre à reeleição, pela ausência no evento, um dos principais do calendário da cidade.

 

Nunes afirmou que não compareceria ao evento e deu como justificativa uma consulta médica, mas disse que mandaria representantes. Ele esteve, na quinta-feira (30), na Marcha para Jesus, em busca de estreitar relações com o eleitorado evangélico e a base do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu apoiador.

 

Leia: Prefeito de SP não irá à Parada LGBT+ por causa de consulta médica

 

Boulos discursou no caminhão de som da organização, por onde passaram outros políticos. Ele saudou o público, reforçou seu discurso eleitoral de que é preciso derrotar o bolsonarismo na capital, pregou combate ao preconceito e ouviu gritos de "prefeito".

 

 


Na saída, o deputado federal afirmou a jornalistas que Nunes "parece partilhar do preconceito e da ignorância" de Bolsonaro ao se ausentar. "Acho natural que um candidato que é apoiado pelo Bolsonaro e que comunga de valores bolsonaristas não venha num evento que celebra a diversidade", disse.

 

Tabata circulou no meio do público, acompanhada de pessoas da equipe e aliados do PSB, e decidiu visitar alguns espaços na avenida para falar de pautas como o combate à Aids, mas não fez discursos.

 

Questionada pela Folha sobre o pronunciamento de Boulos, ela disse que nem tudo pode virar pauta eleitoral. "Acho que isso é um erro. A Parada é de todos os brasileiros, e deveria ser de todos que apoiam essa causa, da esquerda à direita. Quando ela fica linkada a um único partido, isso apequena a causa."

 

E completou: "Me entristece que o prefeito não esteja aqui, me entristece que tentem partidarizar".

 

A deputada, que se definiu como aliada da causa LGBTQIA+, distribuiu adesivos com pedidos de respeito, divulgou um manifesto a favor do casamento igualitário e de outros direitos e posou para fotos. A reportagem presenciou eleitores dizendo que votaram nela e pretendem apoiá-la na corrida à prefeitura.

 

Boulos e Tabata não compareceram à Marcha para Jesus. Ele disse que não foi convidado para o evento religioso. A assessoria da deputada informou previamente que ela iria à celebração de Corpus Christi na igreja que frequenta, na Vila Missionária (zona sul), bairro onde cresceu.

 

Na Parada LGBT+, Boulos criticou o que chamou de "instrumentalização demagógica da fé para razões eleitorais" e disse que nunca foi à Marcha para Jesus e não seria em ano eleitoral que faria isso.

 

A ex-prefeita Marta Suplicy (PT), que tem trajetória ligada aos direitos da comunidade LGBTQIA+ e será vice na chapa de Boulos, não participou desta edição da parada, diferentemente de outros anos. A assessoria não informou as razões da decisão.

 

No ano passado, ela compareceu na condição de secretária municipal de Relações Internacionais, cargo na gestão Nunes que deixou em janeiro ao aceitar o convite de Lula (PT) para retornar ao partido e concorrer em dobradinha com o representante do PSOL.

 

Nunes, que é católico, teve sua presença na marcha evangélica exaltada por líderes religiosos como o apóstolo Estevam Hernandes, da Renascer em Cristo. "Eu amo Jesus Cristo", disse o prefeito, ao lado da primeira-dama, Regina Carnovale Nunes.

 

Nos anos anteriores, 2022 e 2023, quando já estava sentado na cadeira de prefeito, o emedebista também não esteve presente na Parada LGBT+, cujo público tem tendência anti-Bolsonaro. Ele enviou representantes nas duas ocasiões. Quando era vereador, Nunes integrava a chamada bancada religiosa.

 

A prefeitura destinou R$ 4,1 milhões aos eventos da Semana da Diversidade, que incluem a parada. As representantes da gestão Nunes no evento foram a coordenadora de Políticas para LGBTI+, Leo Áquilla, e a secretária de Direitos Humanos, Soninha Francine.

 

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), uma das primeiras mulheres transexuais eleitas para o Congresso, e o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, também discursaram. Erika falou na possibilidade de um dia o país ter na Presidência alguém como ela. Almeida disse que respeitar a comunidade LGBTQIA+ é trabalhar pela harmonia de todas as famílias brasileiras.

 

Com o tema "Basta de Negligência e Retrocesso no Legislativo", a Parada LGBT+ deste ano quis chamar a atenção para a importância do voto consciente e representativo, segundo os organizadores. A intenção é pregar o apoio a candidatos que apoiem bandeiras da diversidade e inclusão.

 

 

Os participantes foram incentivados a vestir roupas em verde e amarelo, num movimento para tirar o estigma sobre as cores da bandeira do Brasil, associadas à direita bolsonarista nos últimos anos.

 

O hino nacional, entoado pelo cantor Edson Cordeiro, foi anunciado como um momento de "reintegração de posse dos símbolos nacionais". Participantes abriam e fechavam leques, muitos deles nas cores do arco-íris, encaixando o som no ritmo da melodia. Bandeiras do Brasil também eram vistas aos montes.

 

Considerada uma das maiores paradas LGTB+ do mundo, o evento é organizado pela APOLGBT-SP (Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo). É, como definem, uma manifestação que reivindica direitos, promove a visibilidade e celebra a diversidade, com ações políticas e afirmativas.

 

A primeira edição foi realizada em 1997, com cerca de 2.000 participantes. Desde aquele ano, o evento já atraiu um público estimado em 4 milhões de pessoas, de acordo com os organizadores. Também entrou para o Guinness Book como o maior do gênero no mundo.